Pelas três e meia da tarde cheguei à pequena cidade de Spokane, onde me
instalei. O Motel era de uma cadeia que aqui têm muitos chamada Super 6. Não
são grande coisa mas são baratos para o país e servem para dormir. Só que este
tinha um aspecto mais sujo, assim como os clientes e empregados. Fui lavar a
roupa nas máquinas que costuma haver para clientes mas um esperto tinha posto
detergente em pó dentro da máquina de secar. Tirei o que consegui mas quando
retirei a roupa da secadora ainda vinha com detergente em pó.
Quando arranquei de manhã, antes de entrar na auto estrada, distraidamente,
ultrapassei um camião que vinha extremamente devagar, pisando o traço continuo.
Por azar vinha um carro da polícia em sentido contrário. Obviamente, ligou as
luzes todas e deu meia volta para vir atrás de mim. Encostei à berma porque já
sabia para quem ele vinha. Desta vez desmontei da moto antes de me pedirem pelo
altifalante. O polícia, com chapéu à cowboy, saiu do carro
- Houve alguma razão para ter ultrapassado aquele camião com o traço
continuo?
- Não. Tem toda a razão. Vinha distraído e como não vinha ninguém em
sentido contrário ...
- Vinha eu. A sua carta de condução, por favor.
Este já não me reconheceu o nome e pediu-me também o livrete da moto.
Pediu para eu esperar e referiu que me faria voltar à estrada o mais
rapidamente possível. Já achei simpático dizer isso.
Durante aqueles três ou quatro minutos em que ele esteve no carro a
consultar o computador voltei a imaginar, tal como da ultima vez que tinha sido
parado, quanto seria a multa que me iria passar. Se na Califórnia tinha visto
sinais na estrada a anunciar que a multa por deitar um papel para o chão era de
1.000 dólares aqui, por passar um traço continuo seria certamente mais que
isso.
E lá saiu o homem do carro, com o livrete e a carta na mão.
-Pode guardar os documentos, não o vou multar.
Não queria acreditar. E a seguir confirmou:
- “This one is on me”. Como quem diz: “este copo pago eu”. Sensacional
E continuou:
- Tome mais cuidado, por favor. Nós estamos sempre a dizer aos condutores
dos carros para tomarem o máximo cuidado com as motos mas vocês também têm que
tomar atenção ao que fazem.
Muito bom. Não pensei que pudesse vir a ter admiração pelos polícias
americanos mas realmente, até ao momento, só tenho bem a dizer, nesta minha
travessia do país.
Continuei em direção a Yellowstone mas saberia que não chegaria lá nesse
dia, até porque tinha que estudar bem a situação para saber se o tempo não me
poderia pregar uma rasteira. Estava um dia de sol lindo e na previsão para os
próximos dias também mas nesta altura do ano Yellowstone já costuma estar
coberto de neve e, se assim fosse, não poderia lá chegar, até porque os pneus
já estão muito desgastados. Um mau presságio era que, desde o dia anterior, não
tinha visto nenhuma moto na estrada que eles, quando toca a neve na estrada,
recolhem o material.
Numa área de descanso uns mapas recomendavam um desvio no meu trajeto por
uma estrada secundaria com melhor vista. Segui o conselho e, pelas seis e meia
da tarde, pois entretanto, com a mudança de Estado, o relógio tinha avançado uma
hora, cheguei a Anaconda, uma espécie de vila de cowboys, com pequenas casas em
madeira e Motéis familiares.
Procurei o mais bera. Na sala da recepção, cheia de tralha e muitos papéis
espalhados em cima do balcão, sentados numa das três mesas redondas onde também
serviam os pequenos almoços, estavam o casal de velhos proprietários e um rapaz
de barbas ruivas dos seus trinta anos a comerem uns pedaços de galinha à mão. A
velha, com uns óculos de fundo de garrafa, levantou-se a custo e foi tratar do
meu check-in. No fim, com a mão a tremer, escreveu uns gatafunhos num “sticker”
amarelo como password para o wi-fi. Pedi para me decifrar os hieróglifos e
corrigi a escrita com a caneta que me passou.
-Posso ter um recibo?
- Ui. Isso é complicado. O computador está estragado. Só se passar à mão.
- De manhã arranjo-lhe um recibo, interferiu o marido.
Duas horas depois, quando regressei de jantar, estavam a jogar cartas na
recepção com um casal amigo. O rapaz ruivo tinha o seu camião de distribuição
parado à porta e, como cliente habitual, tinha direito a jantar com os velhos
mas durante o jogo de cartas ficava numa mesa ao lado a desfolhar revistas
antigas.
As paisagens no Montana também são fabulosas.
ResponderEliminarAquela foto dos mustangs grita "This is America"!
São fantásticas. Sabes que aquilo é uma montagem, que ficou famosa. Uma atracção local. Os cavalos são em chapa.
ResponderEliminarGanda sorte com o policia, já nem digo mais nada.
ResponderEliminarbjs, Ana