15 de novembro de 2016

Spokane





Pelas três e meia da tarde cheguei à pequena cidade de Spokane, onde me instalei. O Motel era de uma cadeia que aqui têm muitos chamada Super 6. Não são grande coisa mas são baratos para o país e servem para dormir. Só que este tinha um aspecto mais sujo, assim como os clientes e empregados. Fui lavar a roupa nas máquinas que costuma haver para clientes mas um esperto tinha posto detergente em pó dentro da máquina de secar. Tirei o que consegui mas quando retirei a roupa da secadora ainda vinha com detergente em pó.
Quando arranquei de manhã, antes de entrar na auto estrada, distraidamente, ultrapassei um camião que vinha extremamente devagar, pisando o traço continuo. Por azar vinha um carro da polícia em sentido contrário. Obviamente, ligou as luzes todas e deu meia volta para vir atrás de mim. Encostei à berma porque já sabia para quem ele vinha. Desta vez desmontei da moto antes de me pedirem pelo altifalante. O polícia, com chapéu à cowboy, saiu do carro
- Houve alguma razão para ter ultrapassado aquele camião com o traço continuo?
- Não. Tem toda a razão. Vinha distraído e como não vinha ninguém em sentido contrário ...
- Vinha eu. A sua carta de condução, por favor.
Este já não me reconheceu o nome e pediu-me também o livrete da moto.
Pediu para eu esperar e referiu que me faria voltar à estrada o mais rapidamente possível. Já achei simpático dizer isso.
Durante aqueles três ou quatro minutos em que ele esteve no carro a consultar o computador voltei a imaginar, tal como da ultima vez que tinha sido parado, quanto seria a multa que me iria passar. Se na Califórnia tinha visto sinais na estrada a anunciar que a multa por deitar um papel para o chão era de 1.000 dólares aqui, por passar um traço continuo seria certamente mais que isso.
E lá saiu o homem do carro, com o livrete e a carta na mão.
-Pode guardar os documentos, não o vou multar.
Não queria acreditar. E a seguir confirmou:
- “This one is on me”. Como quem diz: “este copo pago eu”. Sensacional
E continuou:
- Tome mais cuidado, por favor. Nós estamos sempre a dizer aos condutores dos carros para tomarem o máximo cuidado com as motos mas vocês também têm que tomar atenção ao que fazem.
Muito bom. Não pensei que pudesse vir a ter admiração pelos polícias americanos mas realmente, até ao momento, só tenho bem a dizer, nesta minha travessia do país.
Continuei em direção a Yellowstone mas saberia que não chegaria lá nesse dia, até porque tinha que estudar bem a situação para saber se o tempo não me poderia pregar uma rasteira. Estava um dia de sol lindo e na previsão para os próximos dias também mas nesta altura do ano Yellowstone já costuma estar coberto de neve e, se assim fosse, não poderia lá chegar, até porque os pneus já estão muito desgastados. Um mau presságio era que, desde o dia anterior, não tinha visto nenhuma moto na estrada que eles, quando toca a neve na estrada, recolhem o material. 
Numa área de descanso uns mapas recomendavam um desvio no meu trajeto por uma estrada secundaria com melhor vista. Segui o conselho e, pelas seis e meia da tarde, pois entretanto, com a mudança de Estado, o relógio tinha avançado uma hora, cheguei a Anaconda, uma espécie de vila de cowboys, com pequenas casas em madeira e Motéis familiares.
Procurei o mais bera. Na sala da recepção, cheia de tralha e muitos papéis espalhados em cima do balcão, sentados numa das três mesas redondas onde também serviam os pequenos almoços, estavam o casal de velhos proprietários e um rapaz de barbas ruivas dos seus trinta anos a comerem uns pedaços de galinha à mão. A velha, com uns óculos de fundo de garrafa, levantou-se a custo e foi tratar do meu check-in. No fim, com a mão a tremer, escreveu uns gatafunhos num “sticker” amarelo como password para o wi-fi. Pedi para me decifrar os hieróglifos e corrigi a escrita com a caneta que me passou.
-Posso ter um recibo?
- Ui. Isso é complicado. O computador está estragado. Só se passar à mão.
- De manhã arranjo-lhe um recibo, interferiu o marido.
Duas horas depois, quando regressei de jantar, estavam a jogar cartas na recepção com um casal amigo. O rapaz ruivo tinha o seu camião de distribuição parado à porta e, como cliente habitual, tinha direito a jantar com os velhos mas durante o jogo de cartas ficava numa mesa ao lado a desfolhar revistas antigas.

3 comentários:

  1. As paisagens no Montana também são fabulosas.

    Aquela foto dos mustangs grita "This is America"!

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  2. São fantásticas. Sabes que aquilo é uma montagem, que ficou famosa. Uma atracção local. Os cavalos são em chapa.

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  3. Ganda sorte com o policia, já nem digo mais nada.
    bjs, Ana

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