Deixei Monument Valley pelas onze da manhã em direção a Oriente, através de
longas rectas traçadas no deserto. Fiz um pequeno desvio para passar em “Four
Corners”, o único ponto nos Estados Unidos onde quatro Estados se encontram, os
de Utah, Colorado, Arizona e New México. Isto é território Índio, que apanha
grande parte do Arizona e regiões dos outros três estados. Nos séculos XIX e XX
houve vários acordos feitos entre o governo dos Estados Unidos e diversas
tribos de Índios para definirem qual o território que eles poderiam ocupar mas
tem havido sempre contestações por parte dos Índios. O que aconteceu na prática
foi que os Estados Unidos deixaram para os Índios, na sua grande maioria,
terreno de deserto, estéril e seco, onde nem erva daninha cresce. Nalguns
locais foi descoberto gás natural, os Índios montaram algumas industrias e uns
poucos fizeram fortuna mas a maioria da população dos Native Americans, como
eles gostam de ser chamados, vive com muito pouco. Eles são totalmente diferentes
dos Americanos, não só na cultura como na maneira de pensar e agir. São muito
espirituais e dão imensa importância à terra em si, onde os seus antepassados
viveram e os descendentes hão de viver. Nunca aceitaram a ideia de lhes terem
ocupado as terras que consideravam suas não como propriedade física mas como
local onde viveriam ao ritmo a que estavam habituados, de há muitas centenas de
anos a esta parte. Não dão grande importância aos bens materiais mas, como
qualquer mortal, gostam de ter o mínimo
para viver. Por tudo isso sentimos uma certa infelicidade na expressão da
maioria. São pessoas frias e à primeira vista parecem antipáticos mas quando
falamos um pouco com eles percebemos que são boa gente. O Índio que me atendeu
no parque de campismo era tão frio e antipático que me fez lembrar os franceses
que, com um pouco de conversa mudam de atitude.
Os americanos, de um modo geral, são o oposto. Simpáticos no primeiro
contacto dizem-nos logo: Olá, como está você hoje? De onde vem? Para onde vai? Mas
no fundo sabemos que obviamente se estão nas tintas para como nos sentimos
naquele dia ou de onde e para onde vamos. Claro que é simpático da parte deles
mas as frases saem-lhes da boca para fora automaticamente, sem qualquer
sentimento. A partir de ali a conversa raramente se aprofunda, porque os
atrapalha, sem saberem como reagir.
As tribos, principalmente os Navajo e os Apache, os mais numerosos, sem
poderem cultivar as terras que lhes calharam, dedicam-se a negócios pouco
lucrativos de produção de colares e artefactos que vendem aos turistas,
enquanto o seu governo recebe os impostos sobre a gasolina que se vende no
território para além de explorarem os poucos locais turísticos existentes na
região, cujo maior será Monument Valley, mas sem jeito nem convicção.
Quando deixei “Four Corners” parei na primeira cidade que encontrei, para
almoçar qualquer coisa. Era Shiprock, uma pequena cidade dos Navajo, com menos
de 9000 habitantes. Fui a uma Pizzaria comprar uma dose com quatro fatias mas
só tive fome para duas. Quando saí com a caixa na mão tentei procurar um Índio
a quem a dar mas não foi evidente. Eles são incapazes de pedir mas acabei por a
oferecer a um que veio fazer conversa por causa da moto e ficou radiante,
dando-me um forte abraço. Quando parti um outro viu a cena e veio-me perguntar
se não tinha sobrado pizza. Arrependi-me de não ter ido comprar outra para este
ultimo mas só pensei nisso quando já tinha arrancado.
Passados uns quilómetros a caminho do Sul passamos por uma placa que indica
território Apache.
Nesse dia fui ficar a Cuba, a umas 70 milhas de Albuquerque. A senhora do
Motel era Espanhola mas de início até pensei que fosse cubana e perguntei-lhe
se a terra se chamava Cuba por ter muitos cubanos.
- Não, aqui não vivem cubanos, mesmo se muitos vêm da Florida para aqui se
casarem por causa do nome da terra. Penso que se chama assim porque em tempos
idos era um local com muita água e portanto designaram-no como um depósito de
água, “una Cuba de água”.
Logo hoje falas em Cuba. Boa continuação.
ResponderEliminarAo menos a nossa Cuba é conhecida por produzir vinhos e não agua....
ResponderEliminarH. Galante