Quando deixei Salt Lake City, onde montei o novo jogo de pneus na moto, fiz
cerca de 200 Km em direção ao Sul e fui ficar na pequena cidade de Price onde
tinha combinado jantar com a Filipa, uma rapariga de Braga que o Ross tinha
conhecido em Portugal e que ajudou a que fosse admitida na Universidade de
Price para estudar Engenharia Espacial, um sonho de criança. A Filipa, de 19
anos, é a única europeia a estudar naquela universidade e estou certo que se
vai formar com óptimas notas. Quando a fui buscar para jantar e lhe propus
chamar-mos um táxi porque estava frio disse logo que não, que gostava imenso de
andar de moto. Muito simpática a desembaraçada, como boa nortenha que é.
No dia seguinte, antes de deixar Price, fui a uma bomba de gasolina para
levantar dinheiro numa máquina ATM. Ao meu lado, no seu Chevrolet preto, parou
o Sheriff local, um rapaz alto, com menos de 40 anos, cuja farda eram uns
Jeans, uma “T” shirt do Trump e um boné da sua equipa favorita de Baseball.
Entrou atrás de mim na bomba e ficou, nitidamente, a ouvir a minha conversa com
a menina da bomba a perguntar onde haveria outra ATM, com o ar de: “o que é que
este forasteiro anda a fazer na minha terra?”. Pensei em pedir-lhe para tirar
uma fotografia com aquele traje junto ao carro de Sheriff mas tive medo que
levasse a mal e desisti da ideia.
Continuei rumo ao Sul, a caminho dos National Parks “Canyonlands” e “The
Arches”. O primeiro é um parque com um enorme vale ao estilo do Grand Canyon e quase
tão monumental quanto aquele. O segundo, a meia dúzia de quilómetros tem, tal
como o nome indica, uns arcos em rocha que formam uma espécie de pontes
naturais. Sensacional.
Nesse dia saí do parque já de noite e instalei-me num Hotel da cidade de
Moab para no dia seguinte continuar para sul, agora a caminho de Monument
Valley. Cheguei lá pelas duas da tarde e como o único hotel no local era caro e
estava bom tempo optei por acampar no parque. Aqui já é Arizona e terra sobre o
domínio dos Indios que não só cobram a entrada no parque como estão na recepção
do Hotel ou parque de campismo, bombas de gasolina das redondezas, etc. Têm até
a sua própria polícia e a dos estados vizinhos não se mete na vida deles.
A paisagem em Monument Valley parece de estátuas que se elevam no meio do
deserto. Enormes rochas encarniçadas que atraíam John Ford a ali filmar os seus
westerns com John Wayne e outros atores da época.
Depois de montar a tenda fui percorrer a estrada de terra que dá uma volta
pelo parque mas, com a suspensão traseira em mau estado, tive que rodar
devagar. Quando, três dias antes estava a substituir os pneus, o mecânico veio
chamar-me para ver a suspensão traseira da moto. O rolamento do apoio inferior
do amortecedor traseiro já não estava lá, certamente devido ao tratamento que a
moto levou, com muito peso em cima, nas esburacadas estradas da Índia e
Birmânia. Não há nada que aguente. Assim o amortecedor andava apoiado no
parafuso, evidentemente com uma enorme folga. Vinha há tempos a sentir a moto
com um comportamento em curva deficiente mas sempre pensei que seria por
desgaste do amortecedor. O parafuso terá agora que aguentar mais cinco dias,
altura em que chego a St. Louis e para onde, desde Portugal, me mandaram as
peças de substituição.
Jantei no restaurante do Hotel e fiquei na sala de entrada ao computador
até cerca das dez da noite, altura em que fui para a tenda montada num parque
de campismo original, numa inclinação em terra com pouca vegetação a dar para
as elevações principais de Monument Valley.
Enganei-me a entrar dentro do saco cama ficando na posição para verão, com
menos proteção. De noite a temperatura desceu para uns sete ou oito graus e
passei um frio de rachar, mesmo depois de estender o blusão por cima de mim a
fazer de cobertor extra. Só quando o sol nasceu a temperatura subiu um pouco e,
depois de constatar que estava na posição errada do saco cama, consegui dormir
um pouco melhor. Quando finalmente acordei já eram nove da manhã.
Grande viagem com espectaculares paisagens e fotos fantásticas Xico. Com as devidas diferenças e circunstâncias, faz-me lembrar a viagem de circum-navegação que fiz em 1976/77 a bordo do navio "RIO ZAMBEZE", no início da vida profissional... Foram 6 meses com partida e chegada ao Porto de Lisboa... Mas nada comparado com esta extraordinária aventura... Continuação de BOA VIAGEM cheia de bons momentos e "aventuras"... Abraço, Vasco Pitschieller
ResponderEliminarObrigado, Vasco. Abraço
EliminarTio, já estive nesses dois National Parks e fiquei a dormir 2 noites na cidade de Moab ! Coincidência! Um grande abraço e boa viagem!
ResponderEliminarManel Oom
Boa. São giros. Foste com a família americana?
EliminarOs tons vermelhos e as formações rochosas são deslumbrantes. Adorei ver a tua pequena tenda "dentro" da imensa paisagem ! Forte Abraço!!
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