23 de novembro de 2016

Monument Valley


Quando deixei Salt Lake City, onde montei o novo jogo de pneus na moto, fiz cerca de 200 Km em direção ao Sul e fui ficar na pequena cidade de Price onde tinha combinado jantar com a Filipa, uma rapariga de Braga que o Ross tinha conhecido em Portugal e que ajudou a que fosse admitida na Universidade de Price para estudar Engenharia Espacial, um sonho de criança. A Filipa, de 19 anos, é a única europeia a estudar naquela universidade e estou certo que se vai formar com óptimas notas. Quando a fui buscar para jantar e lhe propus chamar-mos um táxi porque estava frio disse logo que não, que gostava imenso de andar de moto. Muito simpática a desembaraçada, como boa nortenha que é.
No dia seguinte, antes de deixar Price, fui a uma bomba de gasolina para levantar dinheiro numa máquina ATM. Ao meu lado, no seu Chevrolet preto, parou o Sheriff local, um rapaz alto, com menos de 40 anos, cuja farda eram uns Jeans, uma “T” shirt do Trump e um boné da sua equipa favorita de Baseball. Entrou atrás de mim na bomba e ficou, nitidamente, a ouvir a minha conversa com a menina da bomba a perguntar onde haveria outra ATM, com o ar de: “o que é que este forasteiro anda a fazer na minha terra?”. Pensei em pedir-lhe para tirar uma fotografia com aquele traje junto ao carro de Sheriff mas tive medo que levasse a mal e desisti da ideia.
Continuei rumo ao Sul, a caminho dos National Parks “Canyonlands” e “The Arches”. O primeiro é um parque com um enorme vale ao estilo do Grand Canyon e quase tão monumental quanto aquele. O segundo, a meia dúzia de quilómetros tem, tal como o nome indica, uns arcos em rocha que formam uma espécie de pontes naturais. Sensacional.
Nesse dia saí do parque já de noite e instalei-me num Hotel da cidade de Moab para no dia seguinte continuar para sul, agora a caminho de Monument Valley. Cheguei lá pelas duas da tarde e como o único hotel no local era caro e estava bom tempo optei por acampar no parque. Aqui já é Arizona e terra sobre o domínio dos Indios que não só cobram a entrada no parque como estão na recepção do Hotel ou parque de campismo, bombas de gasolina das redondezas, etc. Têm até a sua própria polícia e a dos estados vizinhos não se mete na vida deles.
A paisagem em Monument Valley parece de estátuas que se elevam no meio do deserto. Enormes rochas encarniçadas que atraíam John Ford a ali filmar os seus westerns com John Wayne e outros atores da época.
Depois de montar a tenda fui percorrer a estrada de terra que dá uma volta pelo parque mas, com a suspensão traseira em mau estado, tive que rodar devagar. Quando, três dias antes estava a substituir os pneus, o mecânico veio chamar-me para ver a suspensão traseira da moto. O rolamento do apoio inferior do amortecedor traseiro já não estava lá, certamente devido ao tratamento que a moto levou, com muito peso em cima, nas esburacadas estradas da Índia e Birmânia. Não há nada que aguente. Assim o amortecedor andava apoiado no parafuso, evidentemente com uma enorme folga. Vinha há tempos a sentir a moto com um comportamento em curva deficiente mas sempre pensei que seria por desgaste do amortecedor. O parafuso terá agora que aguentar mais cinco dias, altura em que chego a St. Louis e para onde, desde Portugal, me mandaram as peças de substituição.
Jantei no restaurante do Hotel e fiquei na sala de entrada ao computador até cerca das dez da noite, altura em que fui para a tenda montada num parque de campismo original, numa inclinação em terra com pouca vegetação a dar para as elevações principais de Monument Valley.
Enganei-me a entrar dentro do saco cama ficando na posição para verão, com menos proteção. De noite a temperatura desceu para uns sete ou oito graus e passei um frio de rachar, mesmo depois de estender o blusão por cima de mim a fazer de cobertor extra. Só quando o sol nasceu a temperatura subiu um pouco e, depois de constatar que estava na posição errada do saco cama, consegui dormir um pouco melhor. Quando finalmente acordei já eram nove da manhã.    







5 comentários:

  1. Grande viagem com espectaculares paisagens e fotos fantásticas Xico. Com as devidas diferenças e circunstâncias, faz-me lembrar a viagem de circum-navegação que fiz em 1976/77 a bordo do navio "RIO ZAMBEZE", no início da vida profissional... Foram 6 meses com partida e chegada ao Porto de Lisboa... Mas nada comparado com esta extraordinária aventura... Continuação de BOA VIAGEM cheia de bons momentos e "aventuras"... Abraço, Vasco Pitschieller

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  2. Tio, já estive nesses dois National Parks e fiquei a dormir 2 noites na cidade de Moab ! Coincidência! Um grande abraço e boa viagem!

    Manel Oom

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  3. Os tons vermelhos e as formações rochosas são deslumbrantes. Adorei ver a tua pequena tenda "dentro" da imensa paisagem ! Forte Abraço!!

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