Quando voltei ao
restaurante buscar a moto depois da visita às cascatas ainda tinha as calças
encharcadas mas, como estava calor, decidi arrancar mesmo assim para ver se
chegava à vila do porto onde embarcaria para Sumbawa antes de anoitecer. A estrada
era espetacular, com uma parte montanhosa mas bastante rápida e com o alcatrão
a seguir as diferenças de inclinação do terreno, com lombas cegas e curvas com
desníveis. Um gozo.
Passava pouco das
seis e meia quando cheguei ao porto e me informaram que sairia um barco dentro
de meia hora. A minha ideia inicial era ficar a dormir do lado de cá para não
ter que andar de noite quando chegasse à outra margem mas não quis desperdiçar
a oportunidade, sabendo que no dia seguinte não só o movimento seria muito maior
como poderia mesmo não haver barco à hora que me desse jeito.
Fiz assim a
travessia já de noite.
Tinham-me dito
para tomar especial cuidado nestas ilhas a oriente de Lombok. Aqui já não há
turismo, as populações são mais pobres e há bastantes assaltos.
Por essa razão
deveria evitar, a todo o custo, andar de noite.
O barco levava
não mais de uns 15 passageiros, quatro ou cinco camiões e outras tantas
“scooters”. Não viajavam carros. Estacionei a moto, subi para o andar superior
com um livro e sentei-me a ler. Passados uns dez minutos uma simpática gorda
com um enorme tabuleiro de bananas chamou-me. “Bananas, my love”?
Lembrei-me que
tinha almoçado há uma e meia da tarde e provavelmente não encontraria onde
jantar na outra margem de maneira que lhe comprei quatro bananas que foram o
meu jantar a bordo, acompanhadas de uma água.
Alguns dos
passageiros meteram conversa, estranhando um estrangeiro naquelas andanças.
Perguntei-lhes se encontraria hotel junto ao porto da outra margem e
disseram-me que não. Teria que fazer uma dúzia de quilómetros até à primeira
vila.
Um dos homens, de
aspecto duvidoso, depois de várias perguntas sobre de onde eu vinha e para onde
ia disse-me: “você é rico”. Respondi-lhe que não e cortei a conversa.
Desembarcado em
Sumbawa pelas nove e meia arranquei, noite cerrada, por uma estrada quase
deserta mas em bom estado a caminho de Alas, a tal vila que me tinham referido.
Nesta ilha há praticamente uma única estrada, que a atravessa de ocidente para
oriente. As derivações são estreitas vias, muitas das vezes em terra. Mas a
ilha tem mais de 400 Km de comprimento.
Chegado a Alas
perguntei onde havia um hotel e indicaram-me o que parecia ser o único. Um
homem veio receber-me à porta e apresentou-me o filho, que “arranhava” umas
coisas de inglês. Insistiu em mostrar-me o quarto mas eu não só já imaginava o
que me esperava como, sem alternativa, teria que aceitar fosse o que fosse. O
lençol e as almofadas nem tinham um ar sujo mas o edredon não tinha capa, o que
não me espantou. Em Mataram, capital de Lombok, tinha insistido com o rapaz do
Hotel para me fornecer um lençol para colocar debaixo do cobertor, sem qualquer
sucesso. Aqui nem disse nada. Ou seja, limitei-me a dizer que estava ótimo. A
casa de banho era um buraco no chão com um tanque de água ao lado, que parecia
de um lago estagnado, com aranhas a boiarem. Dentro do tanque a habitual tijela
plástica que os muçulmanos usam para se lavarem com água retirada destes
tanques. Não há duche e a única torneira corre para dentro do tanque. Lavar os
dentes, por exemplo, é uma operação complicada porque evidentemente não
utilizamos a água do tanque.
As paredes tinham
sujidade acumulada de anos. Impensável andar ali sem ser de sandálias.
E assim voltamos à "porcaria".
ResponderEliminarA ASAE passava-se nestes ambientes! Quando leio estes relatos gosto muito de ser europeia. Boa viagem. Ana