23 de dezembro de 2014

Sumbawa 2



Tinha posto o despertador para as oito e meia  mas acordei meia hora antes. Vesti a roupa que tinha no dia anterior, substituindo o banho com a água do tanque por uma lavagem de cara com água da torneira e fui ver se conseguia tomar um pequeno almoço na vila porque a mulher do dono da espelunca, quando o filho lhe perguntou se tinha alguma coisa para o meu pequeno almoço, levantou-se do chão onde estava sentada e respondeu: “só café”
Encontrei uma barraca onde uma mulher vendia uma espécie de pães de leite embalados em plástico com recheio de coco. Não eram maus  e preferi ao arroz da concorrência. Ainda na vila uma operação stop só para motos. Tinha apanhado já uma em Lombok. Mandam entrar todas as pequenas motos e “scooters” que passam na rua para um desvio onde uma dezenas de polícias verifica os documentos. Foi a primeira vez que me pediram par ver a carta de condução nesta viagem e logo dois dias seguidos. Desta vez também quiseram ver os documentos da moto mas quando viram que isso obrigaria a abrir uma das malas laterais e a minha moto estava a atrasar a fluidez do transito de muitas dezenas de pequenas motos em fila para serem verificadas, mandaram-me seguir.
Arranquei então pela única estrada da ilha que, tal como todas as outras na Indonésia, tem apenas uma faixa para cada lado. A ideia era ir até à capital, Bima,  a 320 Km de onde estava e a 60 do barco que teria que apanhar no dia seguinte.
A parte que vemos de Sumbawa, os arredores desta estrada que atravessa a ilha numa grande parte junto à costa norte, é pouco atrativa, com menos vegetação que o resto do país e até partes de campo bastante secas. No horizonte vi montanhas cobertas de verde mas de difícil acesso.
Em contrapartida a estrada dava imenso gozo, com sequencias de curvas rápidas, feitas em quarta e quinta, como eu gosto. Para além disso o tempo estava ótimo e a temperatura, influenciada pela proximidade do mar, não passava muito dos 30º.
Por isso resolvi logo de manhã vestir as calças do fato e as botas, que sempre dão mais proteção em caso de acidente e deixava-me preparado para a chuva que normalmente aparece da parte da tarde. E assim foi. Estava a menos de 100 Km do destino do dia quando uma enorme carga de água se abateu sobre a zona montanhosa que atravessava na altura. Parei debaixo de um telheiro, junto com outros motociclistas locais, onde ficamos perto de meia hora à espera que passasse o dilúvio.
Quando a chuva baixou de intensidade fui o primeiro a arrancar. Não tinha percorrido mais de dois quilómetros quando, à saída de uma curva larga, em que vinha a uns 85, 90 Km/h estava um lamaçal, com uns 5cm de altura, que a chuva tinha arrastado da montanha. Não tive tempo de fazer nada. Mal entrei no mar de lama “catrapum”, comigo e a moto a sermos arrastados pelo alcatrão uns vinte ou trinta metros. Por sorte tinha vestido o fato completo e não me magoei nada. Alguns homens que estavam em vias de começarem a limpar a estrada vieram rapidamente levantar a moto que também não sofreu muito com a queda. A mala direita amolgada, para se parecer mais com a esquerda, que tinha sofrido com os acidentes na Índia, a maneta de travão partida e os apoios do para brisas arrancados. Compus-me durante uns dois ou três minutos do que não chegou a ser um susto e logo pessoas que moravam ali vieram ajudar. Um deles trouxe mesmo uma mangueira com que tratou de lavar moto e condutor, cobertos de lama. Lá arranquei, mais devagar, para os últimos 90 Km até Bumi, pois a maneta do travão passou a ser um pequeno coto.
Chegado à cidade procurei o concessionário Honda e fui lá fazer as reparações antes de me instalar num Hotel. Aproveitei e mudei também as pastilhas dos travões da frente, que já estavam nas últimas.
Á noite fui a pé procurar um sítio onde jantar. Encontrei uma tasca em que me prometeram uma galinha acabada de assar e, para o provar, mostraram-me as brasas ainda acesas. Quando entrei uma ratazana, quase do tamanho de um pequeno coelho atravessou a sala de uma ponta à outra sem que os clientes se preocupassem ou lhe dessem sequer atenção. Uma banalidade. Tentei esquecer a imagem e jantei a galinha com arroz.

3 comentários:

  1. Que susto valente, e que nojo de rato!
    E o Natal? Lembra-se que existe? Onde vai passar?
    Bom Natal e boa viagem.
    Bjs, Ana

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  2. Olá Francisco, dou aqui por terminado o meu fds passado a ler as suas aventuras!

    Gostaria de lhe perguntar uma coisa, especialmente quando andamos muito em TT temos o hábito de não apertar muito os suportes das manetes para quando caimos ao chão as manetes rodarem e não partirem tão facilmente. Será que conhece esta técnica? É uma sugestão que deixo. Como actualmente anda em viagem pode ser que esta sugestão ainda ajude!
    Continuação de boa viagem pelos states.
    Abraço
    Miguel Ala Silva

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