6 de maio de 2019

Togo




Decidi ficar mais um dia em Porto Novo.
Visitei a cidade, famosa pelo seu festival de Vudu, que atrai milhares de visitantes no mês de Janeiro de cada ano e, a conselho do director do Hotel, visitei as diversas praças que foram restauradas com a ajuda de vários artistas onde estão expostas obras executadas com materiais que resistem à chuva, a forma que encontraram para as mostrarem ao ar livre, à falta de um local fechado. Muito interessante.
Antes de partir para o Togo visitei a fortaleza de S. João Baptista de Ajudá. Construída pelos portugueses, em 1680, no Reinado de D. Pedro II, foi posteriormente abandonada e reedificada em 1721, já no reinado do D. João V, com financiamento através de imposto sobre os escravos vendidos no Brasil. Na cidade já existiam fortalezas de Holandeses, Franceses e Ingleses, para protecção ao comércio de escravos. 
Nada melhor que dar à fortaleza o nome de um santo para suavizar a brutalidade da sua utilidade.
Quando foi decretada a abolição da escravatura os restantes países que tinham fortalezas na região destruíram-nas antes de abandonarem o território mas os portugueses, como Miguel Sousa Tavares conta no seu “Equador”, embora tivessem tomado a inciativa de abolição da escravatura no continente, deixaram de a praticar no Brasil mas continuaram com o seu comércio nas roças de  S. Tomé e Principe, mantendo assim aquela que se tornou na mais pequena colónia existente no mundo, resumindo-se à implantação do muro exterior da fortaleza.
São João Baptista de Ajudá ficou assim como território Nacional mesmo depois de abandonada definitivamente a escravatura e só a perdemos quando, já nos anos sessenta do século XX, depois do Benin se tornar independente e pedir que a abandonássemos, Salazar mandou aos poucos que lá viviam que pegassem fogo às instalações antes de fecharem a porta.
Um quarto de século mais tarde o governo local decidiu recuperar as instalações como museu e a Fundação Gulbenkian ofereceu-se para custear as obras. Agora precisavam de lá voltar pois a edificação encontra-se muito degradada, por não ter sido mantida, e importantes documentos, aguarelas, mapas da época, etc., estão em risco eminente de se tornarem irrecuperáveis.
De ali segui para o Togo, igualmente pobre e também calmo. Fui até Lomé, a capital, dei uma volta pela cidade, bastante moderna para o nível africano, e procurei um Hotel através do GPS. Não era grande coisa mas tinha um bom Wi-fi. Saí a pé para jantar numa tasca perto uma sopa de carne e um ovo cozido. Muito picante mas optima.
Na manhã seguinte parti para o Ghana, uma ex colónia Inglesa e onde, portanto, falam inglês, ao contrário dos países vizinhos onde se fala francês, mesmo se a maioria destas populações fala o seu dialecto no dia a dia e não a língua dos colonizadores.
Fiquei a primeira noite em Accra, a capital e, a caminho do Ocidente, marquei, para o segundo dia, um Hotel junto a um parque natural que queria visitar.
Ao jantar no Hans Cottage Botel, conheci um simpático alemão que viajava com a filha pelo Ghana, onde havia estudado em miúdo, em duas pequenas motos que ali adquirira para os quinze dias que passavam no país, uma forma de viajarem bem mais divertida que o aluguer de um carro.   
O Kakum National Park tem a particularidade de umas pontes em rede e madeira, penduradas em árvores até 40 metros de altura, que permitem aos visitantes apreciarem a floresta de outro angulo, o de um pássaro ou macaco. Um sistema interessante que foi montado há uns vinte anos por dois Canadianos com o apoio do Governo Americano e que os locais dizem ser muito bem mantido e seguro. 
- Estejam à vontade que isto está feito para aguentar com o peso de dois elefantes.
Não longe visitei o que foi a primeira e maior fortaleza construída pelos portugueses naquela costa, a de Lamina. 
Antes de negociarem escravos os portugueses  faziam ali trocas comerciais de vários produtos com os nativos e, por haver ouro na região, ter-lhe-ão dado este nome que, estranhamente, é Espanhol. Mantivemos o forte durante cerca de 150 anos, até ser conquistado pelos Holandeses que, mais tarde, o venderam aos ingleses, já sempre para ser utilizado como comércio da escravatura. 
O guia, africano, repetia os maus tratos e barbaridades a que os escravos eram sujeitos na altura, olhando para mim, o único branco no grupo, como se eu fosse responsável por tamanha crueldade. Fui olhando para o lado, disfarçando e tirando fotografias.
Percorria a estrada principal do país, junto à costa, quando, pelas três da tarde, vi um sinal a indicar um resort junto à praia. Achei que era bom local para ficar e fui até lá.
Almocei no restaurante junto à praia e aluguei um bungalow.

Depois do almoço dei um mergulho mas a orla de praia estava cheia de sacos de plástico que também boiavam na água do mar. Tomei um duche e voltei para a esplanada beber uma cerveja e enviar uns mails quando, pelas cinco da tarde, vi entrar uma rapariga alemã que encontrava pela terceira vez naquele dia, depois de a ter visto, ao longe, no passeio em altura da floresta e na fortaleza de Lamina. Meti conversa, jantámos juntos e ficámos até o bar fechar, às onze da noite.

1 comentário:

  1. Ufa, bem mais tranquilo!
    E os portugueses deixam rasto por muito Mundo.
    Bjs, Ana

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