7 de maio de 2019

Ghana


Não tinha visto de entrada na Costa do Marfim mas pensei que, tal como nos últimos três países que havia atravessado, o poderia obter na fronteira.
Assim, depois de percorridos os cerca de 200 Km que me separavam da fronteira, carimbei a saída do Ghana no dia em que o visto de três dias que me haviam concedido acabava. Quando cheguei ao posto da Costa do Marfim disseram-me que não, que não poderia tratar ali do visto e teria, ou que regressar à embaixada em Accra, de onde havia saído dois dias antes, ou tratar do visto pela internet.
Convenci os guardas do lado do Ghana a deixarem-me entrar no país sem carimbar o passaporte só para ir à vila junto à fronteira tratar do visto e fui até um agente de companhia de telemóveis aceder à internet.
Procurei o site para o visto no google e fui enganado por uma companhia que não vi tinha sede em Gibraltar e se fazia passar por um departamento estatal do Ghana. Paguei 139 Euros com o cartão de crédito e imprimi o recibo.
Ao voltar à alfândega da Costa do Marfim disseram-me que o papel não era válido e havia sido enganado, até porque o visto custava 73 Euros e não 139.
Desta vez um guarda acompanhou-me aos guardas do lado do Ghana. Sentia-me um clandestino e trataram-me quase como tal. O meu visto para o Ghana havia caducado e, por isso, para regressar ao país, diziam-me que teria que tirar outro, com um custo de 150 Dólares.
Fui pedindo para falar com o chefe de cada chefe até que o mais graduado sugeriu que um guarda me levasse a um Hotel, onde eu ficaria para tratar do visto pela internet, conservando eles o meu passaporte na fronteira. Assim foi. Segui a pequena moto de um dos guardas até um primeiro Hotel, que não tinha Internet. À saída tive que colocar a moto do guarda a trabalhar porque ele não o conseguia fazer. No segundo Hotel disseram que tinham internet e por lá fiquei, quase como preso pois não tinha o Passaporte comigo.
O patrão era um idiota que foi na altura comprar tempo de internet e passados pouco mais de dez minutos de eu a utilizar disse que a iria cortar porque estava a consumir muito. Ainda consegui enviar o pedido correcto e receber o comprovativo de pagamento antes da besta desligar o sistema. Eram nove da noite e não havia comido nada desde o pequeno almoço, o que alimentava o meu sentimento de dar um murro no homem, só contrariado devido ao tamanho do animal.
Lá consegui que a parva da menina da recepção me fosse fazer um espaguete que até tive medo pudesse estar envenenado, tal era o ambiente na altura.
Na manhã seguinte pedi, infrutiferamente, que me voltassem a ligar a internet para imprimir o documento. 
Felizmente encontrei na vila um agente Vodafone onde os miúdos eram muito simpáticos e resolveram a situação. 
Finalmente conseguia entrar na Costa do Marfim, depois do guarda do Ghana insistir para que lhe desse uma gorjeta, em frente de todos os outros sem qualquer pudor. Quando eu, já pelos cabelos, lhe propus o equivalente a dois euros para uma Cerveja, apontou para os seus galões no ombro e disse:
- Não está a ver bem. Já viu a minha graduação? Acha que podia aceitar isso? Vá, dê-me lá uma coisa de jeito. Não dei.

2 comentários:

  1. Welcome back, Ana

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  2. Acabei de ver a reportagem do final da viagem na televisão. Parabéns pelo cumprimento do sonho! Para quando o livro?

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