9 de maio de 2019

Costa do Marfim



Fui direito a Abidjan, a cerca de 180 Km. Entramos na cidade pela costa. Do lado direito barracas, enquanto o lado esquerdo, a dar para o mar, dá ideia de ser uma zona onde projectam construir bons prédios pois são uns 300 metros até à praia já limpos de lixo. A cidade é moderna, com avenidas largas. 
Fiquei num turismo de habitação de onde já não saí essa tarde. Tomei um duche, almocei e fiquei a por a escrita em dia. 
De manhã fui à Embaixada da Guiné Conakri tratar do visto, o que me havia levado à cidade.
O responsável pelos vistos era simpático e brincalhão.
- Precisava do visto ainda para hoje, se possível, pois queria partir amanhã.
- Normalmente só dentro de quatro dias
- Veja lá se consegue fazer-mo hoje?
- Vou tentar, mas não prometo nada.
- Quanto custa, que tenho que levantar dinheiro?
Com cara séria respondeu:
- 549.000 Francos CFA (cerca de 800 Euros)
- Quanto? Está a brincar.
- Não. São 549.000. Vá lá tratar das fotografias e fotocópias.
- Diga lá quanto é. Tenho que levantar dinheiro.
- 50.000
Do outro lado da rua dois homens pedem para me sentar numa cadeira de plástico de costas para o muro. Um deles estica um pano branco por trás enquanto o outro tira a fotografia com uma máquina digital de fraca qualidade. Rio-me com a situação.
- Não pode estar a rir na fotografia.
Imprimem-nas logo ali, no passeio, com uma mini impressora. Só mesmo em Africa.
As fotocópias de Passaporte, Carnet e Boletim de Vacinas foram tiradas numa lavandaria, um pouco à frente.
Fui levantar dinheiro a um Multibanco na outra esquina e dez minutos depois estava de volta à Embaixada, uma casa que já foi boa mas muito degradada, com um resto de água suja no fundo da piscina.
- Passe por cá às duas e meia da tarde. Olhe que fechamos à três
Estava outro homem a pedir urgência no visto.
- Não. Só terça feira
- Mas este senhor…
- Este senhor tem duas mulheres à espera dele na Guiné. Se não parte amanhã elas vão-se embora.
Voltei ao Hotel e fiquei por lá a descansar e escrever.
Arranquei para o Norte por volta das onze. A saída de Abidjan para o Norte é um inferno de transito onde mesmo as motos têm dificuldade em conseguir passar entre carros e camiões, com vendedores ambulantes à mistura, que correm atrás dos carros fazendo as transacções em andamento. Um sistema que já vira noutros países africanos. Custa a crer que não sejam atropelados vários por dia.
Numa das paragens, junto a um camião ao qual mudavam as pastilhas de travão, ajudando a empatar o transito, juntaram-se meia dúzia de populares a fazerem perguntas sobre a moto e, quando os filmava, constatei que um tinha uma camisola da selecção portuguesa de maneira que não pude deixar de fazer uma “selfie” com o homem.
Quando passa a barafunda apanhamos uma óptima autoestrada, muito ao estilo das americanas, com duas faixas para cada lado e sem “rails” de protecção mas um separador central largo com uma vala no meio, para recolher águas da chuva e acidentados.
Passados 30 Km, porém, acaba a autoestrada e passamos para uma estrada típica africana das que são supostamente asfaltadas mas que têm tantos buracos abertos no pavimento que quase seria preferível não serem. Ao passar em Yamoussoukro chamou-me a atenção uma imponente catedral, que ao longe me parecia uma mesquita. Dei lá um salto mas estava fechada para visitas.

Cheguei à vila de Bouafle pelas quatro e meia da tarde e não vi um Hotel minimamente decente de maneira que decidi ir até Seguela na esperança de lá chegar ainda de dia. Asneira. A ultima meia hora já a tive que fazer de noite o que, nestas estradas, é perigoso e chato. Acabei por cair em três grandes buracos que podiam ter feito danos em pneus, jantes ou suspensão. Felizmente não houve drama pois se tenho possibilidades de reparar um furo causado por um prego, um rasgão num pneu obrigar-me -ia a ter que desmontar a roda e esperar em alguma cidade que me enviassem um pneu de Portugal. Nesta parte de Africa seria totalmente impossível encontrar um.

3 comentários:

  1. Primeiras para o livro (depois dos prioritários).
    Não se esqueça de mim com autógrafo e tudo.
    Beijos, grande viagem! O que a vida mudou nestes anos!
    Ana

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