4 de maio de 2019

Nigeria 2



Na manhã seguinte segui o conselho do Alexandre e rodei uns 100 Km para Norte, atravessando o parque natural. A estrada varia entre alcatrão razoável, outro muito esburacado e algumas partes em terra, também em mau estado. O ambiente geral é melhor e numa das vilas parei junto a uma pequena oficina de motos para pedir uma chave de bocas emprestada que me permitisse apertar o suporte do GPS, que sofre muito nos maus caminhos por onde me leva.
Pela hora do almoço parei noutra vila quando vi uma família à porta de uma mercearia com um ar simpático. Almocei um pacote de amendoins e uma Coca Cola e fiquei um pouco à conversa.
Do outro lado da rua havia uma discussão entre dois “portageiros” das vilas, o que por aqui é comum.
À entrada e saída das vilas e cidades eles têm grupos de populares que simplesmente pedem portagens a carros e camiões. Estão munidos de grandes paus com que ameaçam os veículos que dão sinais de não abrandarem e batem-lhes se não param. De vez em quando zangam-se uns com os outros e, por vezes, há vários grupos distintos, à entrada das cidades maiores. Aí há condutores que fazem sinal que vão parar no seguinte e assim passam de grupo em grupo sem pararem. Alguns camiões também preferem levar umas pauladas na carroceria e ouvirem os gritos dos “portageiros” que pagarem portagem. Felizmente as motos, por normalmente pertencerem à faixa da população mais pobre, estão isentas.
Nas paragens para reabastecer também fico a descansar um pouco e acabo à conversa, normalmente com jovens curiosos. Com um deles fiz até amizade no Facebook.
Cheguei a Benin City, uma das maior cidades nigerianas, estafado. Tinha marcado o Hotel pela internet essa manhã para não ter que andar à procura pela cidade, aumentando o risco de assalto.
Os Hoteis aqui, mesmo os de classe média alta onde fiquei, funcionam muito mal. No de Calabar a internet só funcionava no corredor do andar onde estava de maneira que trazia uma cadeira do quarto para o corredor para estar “on line”. Ao jantar pedi um esparguete Carbonara mas, sem me avisarem, trouxeram um Bolonhesa.
- Mas eu pedi Carbonara, não foi Bolonhesa.
- Não havia.
Quando me deitei senti que a capa do edredom não era lavada e, por isso, no Hotel de Benin City fiz uma inspecção aos lençóis logo que lá cheguei e pedi que os mudassem por terem nódoas, embora estivessem muito bem esticados, como se estivessem lavados.
De Benin City a estrada até à fronteira com o Benin é em grande parte uma autoestrada mas muito “sui generis”. Os populares partem o passeio central em cimento em cada local onde há uma feira, para que os clientes que vêm na faixa contrária possam atravessar a auto estrada.
Para além disso apanhei vários carros em sentido contrário. Um deles deu a volta uns 150 metros à minha frente porque ter-se-á enganado no local onde pretendia sair. Eu ía a 130 Km/h. Travei e fiquei a vê-lo hesitar se havia de se encostar à direita, como se viesse numa estrada de via única ou à esquerda, junto à berma. Por fim decidiu-se pela esquerda e lá o deixei do meu lado direito.
A polícia, para fazer abrandar os carros de forma a mandarem parar os que pretendem controlar, montam obstáculos de troncos de arvores amontoados, de um e outro lado da via, formando uma “chicane”, sem qualquer outro sinal de aviso. Quem for distraído esbarra contra os paus, o que não os parece incomodar minimamente. 
Grupos de vendedores ambulantes também por vezes montam estes obstáculos ou até com bidões, para que os carros abrandem e lhes possam vender os seus produtos, normalmente bebidas e alimentos mas também caixas de fósforos e tudo o mais que se possa imaginar.
Quando há um desastre na autoestrada e os veículos ficam em estado de não poderem ser recuperados, são abandonados no local em que se encontram, formando assim outra forma de obstáculos na via. Ninguém os retira, os donos por não se justificar o gasto, a polícia certamente por não conseguir forma de o cobrar. Aliás não vi um único reboque na Nigéria pois os carros ou são reparados no local, como acontece a maior parte das vezes, ou puxados por outros carros.
O mais insólito foi ver um Mercedes que tinha batido por trás num camião que estaria parado na auto estrada. O carro viria a alta velocidade e entrou por baixo do camião ficando o tejadilho ao nível do capot até mais de metade e pegando fogo, ardendo por completo. Condutor e possíveis passageiros morreram no acto, sem qualquer hipótese de sobrevivência. Os seus restos mortais continuavam dentro do veículo pois não tinha sido feito nada para o retirar da posição em que estava, provavelmente há meses. Não tinham tentado sequer abrir as portas, que aliás seria impossível sem retirar o carro debaixo do camião. Os familiares terão pensado que seria um custo financeiro sem qualquer retorno e a policia terá concluído que, estando os corpos queimados, não havia perigo de transmissão de doenças, etc.

Um pouco mais à frente um homem nu, certamente vindo da floresta adjacente, caminhava tranquilamente pela berma da autoestrada com ar de “zombie”. Provavelmente teria comido alguma erva alucinógena estragada.

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