10 de maio de 2019

Guiné Conakri 1

Quando deixei o Hotel em Seguela tive uma sensação estranha de que algo não estava bem, que qualquer coisa estava para correr mal.
Constatei o que foi quando, passadas quase duas horas a circular numa estrada alcatroada mas muito esburacada, ao parar numa bomba de gasolina para comprar água, verifiquei que tinha andado em sentido inverso ao que devia, numa via paralela à que percorrera no dia anterior.
Tracei um novo trajecto e fui parar à cidade de Man, mais a Ocidente do que tinha previsto antes.
No caminho estava um homem deitado na berma da estrada. Parei para ver o que se passava. Respirava mas parecia estar em coma alcoólico, pois tinha uma pequena garrafa ao lado. Carros e camiões passavam sem ligar nenhuma. Tentei acordá-lo sem sucesso. Parei então no posto de polícia seguinte, a dois ou três quilómetros, a pedir que lá fossem. Ficaram muito espantados com a minha atitude, agradeceram e disseram que já lá iriam.
A vantagem de ir parar a Man foi ter encontrado uma boa oficina, onde me fizeram novos apoios pra o GPS, que se haviam partido outra vez. 
Numa ladeira da serra junto ao Hotel em que fiquei homens e mulheres faziam tecelagem de uma forma estranha. Os novelos de fio estavam estendidos montanha abaixo, com uns pesos na ponta, para que, ao entrarem no tear, estivessem em tensão.
De Man pensei que poderia entrar na Guiné e procurar Hotel na primeira cidade mas, quando cheguei a Odienné, a 80 Km da fronteira, eram três da tarde e, felizmente decidi ficar por ali.
O dia seguinte iria revelar-se dos mais difíceis desta viagem.
Não tinha reparado que as duas únicas hipóteses de entrar na Guiné Conakri através da Costa do Marfim eram por estradas de terra. Por isso, e por ter pouco mais de 300 Km para fazer até à cidade de Kankan, na Guiné, saí do Hotel só por volta das 10,30h da manhã.
À saída da cidade fui mandado parar por uma das brigadas de policia que costuma haver nas entradas e saídas das povoações maiores, em pequenos telheiros de colmo e com uma lagarta de pregos esticada na estrada, pronta a furar os pneus de quem não pare. Normalmente mandam-me seguir mas este oficial era dos que gosta de mostrar serviço e pediu-me para verificar seguro da moto, Carnet, etc. informando-me que, se não saísse do país com a moto nos próximos três meses ela seria apreendida.
- Acha que vou a caminho de onde?
Mal passei o controlo a estrada passava a terra. Voltei atrás e perguntei se aquela era a estrada para a fronteira e se era toda assim. Confirmaram-me que sim mas que estava em bom estado e seriam só 80 Km de terra.
Um dos mapas digitais dava-me uma alternativa mais a Ocidente de maneira que perguntei aos guardas se aquela segunda hipótese não tinha melhor estrada.
O chefe disse-me que sim, que era uma estrada boa e seria melhor segui-la.
Passei então para uma fantástica estrada, alcatroada de novo, ainda sem marcações. Pensei que tinha sido optima a opção por aquela alternativa. Só que o doce acabou rapidamente. Passados uns 70 Km a estrada estava cortada, por estar em construção, tendo os últimos 40 Km até à fronteira que ser feitos numa via em terra paralela. Já não estava a ser tão bom mas iria piorar muito.
No lado da fronteira da Costa do Marfim um único guarda, à paisana, mandou-me parar. 
- É aqui que carimbo o Passaporte?
- Não. Aqui é a alfandega. O Passaporte é um quilómetro à frente, depois da ponte.
- Então aqui é o Carnet? 
- Sim, vou chamar o meu chefe.
Lá apareceu o homem.
- Vamos lá tratar disso. Teve sorte porque eu era para ter ido para Abidjan e só voltava pra semana.
- E não há ninguém que o substitua?
- Sim, tenho cá um ajudante mas ele não fica com os carimbos. Os carimbos só eu é que os coloco.
Carimbou-me o Carnet e segui até ao posto do Passaporte.
- Não temos cá carimbo para lhe dar a saída do país no Passaporte mas não se preocupe que eu escrevo aqui os seus elementos e informo as autoridades que saiu neste dia.
Provavelmente naquele momento deveria ter dado a volta para trás, pois fiquei com a ideia que ninguém atravessava aquela fronteira. Mas voltar atrás era um caminho grande, com 40 Km de estrada de terra pelo meio, e ainda não sabia exactamente o que me esperava.
- A fronteira da Guiné é aqui à frente?
- Sim, mas aí tem só um posto que vê o seu Passaporte. Só lhe carimbam Passaporte e Carnet numa vila a 110 Km daqui.


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