13 de maio de 2019

Guiné Conakri 4



Aquela manhã ainda tive mais uma centena de quilómetros pela frente em terra, os últimos quarenta em melhor piso, onde já pude rodar em quarta por alguns períodos.
A meio caminho, numa vila maior e já com casas em cimento, a alfandega oficial de entrada na Guiné Conakry, mesmo se já tinha percorrido uns 150 Km no país.
Na esquadra da polícia, onde carimbavam os passaportes, estava a decorrer uma espécie de julgamento. Percebi que nestas aldeias e pequenas vilas da selva não há tribunais. Assim, quando há desentendimentos, reúnem-se os desentendidos com o chefe da polícia, que aqui funciona como juiz, e discutem a situação, dizendo o chefe de sua justiça.
Pediram que esperasse cá fora enquanto decorria a discussão e, por fim, lá apareceu um homem que me carimbou o Passaporte e Carnet, operação que normalmente é feita por entidades distintas, já que o Carnet é alfandega e o passaporte emigração.
Só voltei a encontrar alcatrão a meia dúzia de quilómetros da cidade de Kankan. Foi um alívio.
Comecei por ir trocar dólares com uma mulher, comerciante, que me apresentaram como sendo a única que movimentava suficiente dinheiro para se interessar pelo câmbio, atestei o depósito e, à falta de um restaurante decente, encontrei um Hotel onde almoçar.
Ali a electricidade só é ligada à noite e em dias alternados com a província vizinha. Por isso os melhores Hotéis têm geradores mas que só ligam nas noites em que não têm electricidade.
Disse no Hotel que ficaria lá hospedado essa noite se ligassem o gerador logo às três da tarde, para ter acesso à internet. De início aceitaram a minha proposta mas, passada meia hora, quando estava a meio de carregar uns filmes, vieram dizer-me que só poderiam manter o gerador a funcionar se eu pagasse o combustível, para além do quarto, pois estavam a gastar muito.
Disse-lhes que não e desligaram o gerador. Como ainda eram quatro da tarde decidi então arrancar para a próxima cidade.
Nos últimos vinte quilômetros que havia percorrido na estrada de terra tinha sentido a moto a fugir muito de traseira e parara até, para dar uns pontapés no pneu a ver se tinha perdido ar. Parecera-me bom mas, quando saía do Hotel verifiquei que estava vazio quase por completo. Fui devagar até uma reparadora de pneus perto onde o encheram e verificámos que tinha um prego espetado mas, sendo “tubeless” não tinham como repará-lo. Já com ar no pneu fui então a outra onde colocaram um taco no pneu por pouco mais do equivalente a dois euros.
Parti para a pequena cidade de Kouroussa onde perguntei pelo melhor Hotel. Indicaram-me dois, qual deles o pior. Era sujo, só tinha electricidade à noite e internet nem sabiam o que era na cidade.
Pedi um prato e talheres e comi a manga que ainda me sobrava da aldeia na selva como jantar.
- Coma aqui no pátio, por favor, senão as cascas atraem ratos para o quarto.

Na manhã seguinte parei numa oficina de carros à saída da cidade, destas que há na rua, com o chão em terra batida endurecido por camadas de óleo queimado, para perguntar se tinham fusíveis, pois desde que a moto atravessara as profundas poças de água no Congo o fusível da ventoinha de refrigeração queimava constantemente, certamente por água ter causado um curto circuito no motor elétrico da ventoinha. O homem mandou primeiro um miúdo às lojas e depois foi lá ele de moto, regressando com um jogo de fusíveis que me resolveu a situação temporariamente.

1 comentário:

  1. Obrigado pela narrativa da viagem, que venho acompanhando desde sempre.
    Já deve estar escrito algures, mas.. quando sairá o livro?

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