5 de março de 2019

Windhoek



De Springbok até à fronteira com a Namíbia são 120 Km. A passagem das fronteiras nesta parte de África é simples, com os vistos a serem concedidos no local, embora do lado da Namíbia o homem que preencheu a minha licença de circulação tenha precisado da ajuda de um superior para colocar os meus dados no computador e de uma calculadora para saber que troco me havia de dar quando lhe entreguei uma nota de 200 Rands para pagar 188. Em cerca de meia hora estava do outro lado da fronteira. O trajecto continua através do deserto mas da parte da tarde a temperatura subiu para os 42º, sem sombras onde arrefecer um pouco.
Pelas cinco da tarde cheguei a Keetmanshoop e instalei-me no menos mau de três Hotéis disponíveis.
No dia seguinte segui até Windhoek. O deserto de areia junto à costa é talvez a maior das atracções da Namíbia mas já o havia percorrido há vinte anos de carro e sabia que as estradas de terra da costa têm um piso relativamente liso mas com pequenas pedras soltas por cima que são como berlindes, extremamente escorregadias. Preferi não as percorrer de moto e assim segui pela estrada principal, mais interior, até à capital.
Fiquei num Hotel que pertence a angolanos e contaram-me que em Luanda está tudo inundado com as chuvas que têm assolado o território. Parece Veneza, dizia-me a mulher do gerente, com ar de quem só tinha visto a cidade italiana em bilhetes postais.
Pensei que tinha sido bom o meu atraso em Cape Town. Talvez ao chegar a Luanda já não tenha que andar de gôndola.
No dia em que cheguei fui jantar a um excelente Restaurante de amigos portugueses que tinha aberto uma semana antes e o dia seguinte passei-o no Hotel a escrever e a pôr a internet em dia, com muitos filmes a terem que ser passados para um disco exterior, que precisava de ser desbloqueado. Para quem não é um expert estas coisas dão trabalho.
Deixei Windhoek, a caminho da fronteira com o Botswana, já perto do meio dia. Pelo caminho, numa espécie de Savana de vegetação rasteira avistei dois javalis, perto da estrada, e uma espécie de galinholas de porte maior. Cerca de 120 Km depois cheguei a uma pequena povoação e decidi parar para descansar. Na beira da estrada três mulheres negras cozinhavam uma carne estufada e puré de batata em potes de barro por cima de uma fogueira para venderem em pratos na rua. 
Os melhores momentos que tenho retido desta viagem são estes em que ganho a confiança de pessoas locais e falamos sobre variadíssimos assuntos.
Pedi para me sentar e depois de meter conversa fui comprar uma cerveja do outro lado da rua e regressei almoçar com as duas irmãs e uma amiga, que estava com uma neta de um ano.
A carne estufada estava optima e na hora que por ali estive contaram-me um pouco das suas vidas. A mais velha, acalmada pelas agruras da vida, era a mais faladora. Enquanto a neta gatinhava na terra foi-me contando que um dos filhos se havia suicidado com 22 anos e o marido morrera aos sessenta. Mas não parecia amargurada. Daquelas pessoas que aceitam a vida como ela vem, sem se queixarem.
- Tem ideia porque se matou o seu filho?
- Nem eu nem o pai percebemos. Parecia um miúdo feliz, acabado de entrar na universidade
Quando acabei o meu prato, a mulher do meio, que era a dona do negócio, raspou os restos do meu prato para cima do prato da irmã, que acabara de comer à mão, carne e puré, e voltara a colocar mais puré no prato, à falta de carne. Colocou depois película plástica por cima do puré e dos meus restos de carne 
- Isso é para o seu jantar?,  perguntei.
- Não. É para uma colega minha que está do outro lado da estrada.
Segui caminho até à fronteira.
Já no Botswana procurei onde ficar na primeira aldeia que encontrei pois a próxima cidade era a mais de 200 Km, o que me obrigaria a viajar de noite.
O único Guest House era uma casa muito rudimentar. Entrei pela porta aberta e uma mulher saiu da cozinha dizendo que o dono tinha saído e não sabia quanto tempo demoraria. Esperei 15 minutos e decidi voltar atrás meia dúzia de quilómetros até outro que tinha visto junto à fronteira. Tinha bastante melhor aspecto mas não tinham vagas. Disseram-me que podia montar a tenda nas traseiras que, supostamente, era uma zona de campismo. Tinha casas de banho funcionais e poderia utilizar o restaurante do Hotel. Assim fiz. 

Tomei um duche e quando fui jantar constatei que, de entre as várias dezenas de clientes e outra de empregados era o único branco.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Da parte dos africanos para com os brancos ainda não senti. Têm me tratado lindamente. Dos brancos para eles ainda há muito na Africa do Sul. Nos outros países muito menos.

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