Saí por volta das onze para visitar as famosas cataratas. Tinha cá estado há vinte anos e não me impressionara muito pois, provavelmente por não ser época de chuvas, não havia muita água a correr.
Agora, com o que choveu principalmente em Angola, estavam impressionantes, com uma quantidade enorme de água a cair de mais de cem metros de altura em vários locais distintos, proporcionando imagens espectaculares.
Livingstone, o primeiro Ocidental aqui a chegar, em 1855, descreveu assim a visão:
“no one can imagine the beauty of the view from anything witnessed in England. It had never been seen before by European eyes; but scenes so lovely must have been gazed upon by angels in their flight”.
E compreendo o seu deslumbramento. Desta vez passei também a fronteira para o lado do Zimbabwe, que me diziam ser ainda melhor. É difícil dizer. Em certos locais a água cai com tanta força que a pulverização levantada cria chuva junto às cascatas. Para protecção eu e a Natasha, a minha simpática guia, vestimos capas plásticas e saímos de ali um pouco menos encharcados de que se não as tivéssemos.
Quando regressei das cascatas, após várias horas a pé tanto na Zâmbia como no Zimbabwe, estava de rastos mas decidi ainda passar a visitar um fantástico Hotel de que me tinham falado, o Royal Livingstone Hotel. Muito bom, sobre o rio Zambeze, que alimenta as cascatas.
Das Victoria Falls tomei a estrada rumo à fronteira com a Namíbia, para percorrer a faixa de Caprivi e entrar em Angola já perto da costa, onde as estradas são melhores.
Estes 300 Km na Zâmbia são um martírio, com partes da estrada muito esburacadas ou mesmo já sem alcatrão, em terra muito irregular que provocava enormes vibrações na Crosstourer.
A paisagem era mais verde que no Sul da Namíbia e aqui passei por minúsculas povoações de meia dúzia de cubatas, construídas em terra com telhados de colmo.
Almocei ainda do lado da Zâmbia, no restaurante menos mau que encontrei, uma perna de galinha muito ressequida com esparguete. A vantagem foi que, incluindo a cerveja de meio litro que fui buscar a um bar ao lado, a refeição me ficou por menos de quatro euros.
A passagem da fronteira foi relativamente tranquila mas, embora a minha licença de circulação na Namíbia fosse válida para três meses, obrigaram-me a tirar outra por entretanto ter saído do país.
Qualquer desculpa é boa para sacar mais algum.
Procurei onde ficar já do lado da Namíbia e acabei por encontrar um Hotel que tinha um parque de campismo fantástico, num impecável relvado sobre o rio Zambeze. Como a diária no Hotel eram mais de cem Euros fiquei a acampar. Dois outros campistas vieram avisar-me para não deixar nada de fora da tenda porque à noite costumavam vir assaltantes de barco, da margem da Zâmbia. Dormi profundamente sem pensar no assunto e não houve desassossego.
Antes de partir daquele parque perguntei a um velho inglês, que acampava num jipe Toyota muito bem preparado e que já tinha visto no Elephant Sands, onde haveria um local bom para ficar, uns 300 ou 400 Km para Ocidente. Ele recomendou-me um Guest House chamado Nunda River, junto ao Okovango.
- A cerca de 300 Km de aqui há uma ponte por cima do Okovango. Dois ou três quilómetros depois há uma estrada para a esquerda que dá acesso a três ou quatro Guest Houses junto ao rio. Recomendo o “Nunda River”.
Parei na estrada duas ou três vezes junto a miúdos que quase sempre se assustam ao me verem. Ficam excitados e surpreendidos ao verem passar um veículo que não conhecem com um monstro em cima de capacete pois aqui não há motos. Quando paro, assustados, escondem-se no mato e só quando tiro o capacete e os chamo, espreita primeiro o mais corajoso e depois, pouco a pouco vão-se aproximando. Por vezes, uma ou outra miúda, não pára de chorar, nervosa. Demora uns minutos até se sentirem à vontade.
Cheguei ao Nunda River” pelas quatro e meia da tarde. Fui simpaticamente recebido à porta pelo dono que depois me encaminhou para a recepção. O preço dos quartos era mais de cem euros por isso disse que pretendia acampar. Quando a mulher me mostrava os locais onde poderia montar a tenda recebeu um telefonema do dono a sugerir que me mostrasse um dos quartos previstos para os guias turísticos, que me propunha ao preço de campismo, cerca de 12 Euros.
O quarto era excelente e limpíssimo, sem ar condicionado mas com uma rede mosquiteira montada à volta da cama. Obviamente aceitei a proposta de imediato e pensei mesmo em ficar por ali mais um dia, a descansar. A parte de recepção, sala, bar e restaurante era típica africana, só com paredes laterais e telhado em colmo, com uma grande esplanada sobre o rio onde vários hipopótamos deixavam apenas que se lhes visse os olhos e o topo da cabeça. Geralmente passam os dias dentro de água a defenderem-se do calor e só à noite saem para as margens.
...fantástico Xico, boa continuação...
ResponderEliminarLindíssimo, de cortar a respiração...
ResponderEliminarMuita muita inveja (da boa). Quando for grande quero fazer uma viagem assim e já ficava satisfeito com a ultima etapa. Muitos parabéns e continuação de boa viagem/aventura.
ResponderEliminarA segui-lo! Boa viagem. Ana
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ResponderEliminarContinuação de grandes crónicas e boa viagem !!!!
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