Acabei por ficar mais um dia no “Nunda River” em total “dolce far niente”. Fiquei a ler e a escrever, na piscina ou naquela esplanada com paisagem fabulosa sobre o Okovango.
No dia seguinte percorri uma grande etapa, das maiores desta viagem. Saí da Caprivi Strip, aquela língua de terra que faz parte da Namíbia e continuei a circular pelo Norte da Namíbia, agora junto à fronteira com Angola. É uma zona muito isolada e pobre. Percorri centenas de quilómetros em que as únicas construções visíveis são pequenos povoados de meia dúzia de palhotas construídas em terra e com telhados em colmo. A obtenção de água é certamente o principal problema destas populações e as poucas pessoas que vejo junto à estrada são crianças ou mulheres, muitas vezes com bebês às costas e outros prestes a nascerem, com baldes de água vazios pela mão ou cheios à cabeça. Alguns percorrem muitos quilômetros a pé para irem buscar água. Quando são crianças vão normalmente em grupo, até porque ali não há qualquer controlo de natalidade e as famílias são grandes. Quando passo por elas acenam, entusiasmadas mas se dou a volta para parar junto, fogem esconder-se no mato. Ficam assustadas por verem um homem numa moto grande pois ali nem pequenas há, com um capacete na cabeça, coisa inédita. Por vezes, quando vejo que estão escondidos perto da estrada, paro, desligo a moto, tiro o capacete e chamo-as. Às vezes um mais corajoso mostra-se e, pouco a pouco vão-se aproximando, desconfiados. Numa das vezes, uma miúda dos seus sete ou oito anos, foi-se aproximando com os outros mas sem parar de chorar, muito assustada. Outras vezes vejo-os correr mato dentro sem pararem e sigo viagem.
Nesse dia percorri perto de 700 Km. Tinha ideia de ficar numa vila onde me disseram que haveria um Hotel mas ao parar numa barreira de estrada militar, uma família angolana num jipe disseram-me que não haveria Hotel nessa vila e aconselharam-me a percorrer mais 60 Km até à cidade junto à fronteira onde, aí sim, haveria vários hotéis. Recomendaram aquele onde iriam ficar e foi lá que acabei o dia, cansado.
Esta fronteira com Angola fica junto à vila de Oshikango O processo de saída da Namíbia foi rápido mas a entrada em Angola, mesmo tendo visto, exigiu fotografias da moto e cópias de documentos vários, incluindo Passaporte. Um miúdo Angolano, a quem tinha dito que não precisava de ajuda, acabou por ser a minha salvação ao correr de um lado para o outro a obter fotocópias e cópias de pagamento da entrada da moto junto do banco local. Correu de um lado para o outro durante meia hora regressando a suar em bica.
A primeira coisa que constatei em Angola foi o preço da gasolina, o mais barato de Africa, até agora. Fui até cidade de Lubango por uma boa estrada, construída por empresas portuguesas, a contrastar com as que encontrei mais tarde, feitas por chineses.
A paisagem na beira da estrada, começa a ser mais verde, à medida que me desloco para Norte.
As cidades estão sujas, com lixo acumulado em muitos lugares, ruas esburacadas e os esgotos de águas pluviais inoperacionais. As ruas não são limpas e o aspecto geral leva-nos muitas vezes a comparar a situação com a da Índia.
Em Lubango procurei um Hotel. Parei junto a uma mulher e perguntei se sabia onde encontraria um.
- Mas é para o “Chik, Chik”? perguntou-me.
- Não. É só mesmo para dormir.
Então há outro mais à frente, ao fundo da rua.
Achei a conversa estranha mas fui na direcção que a mulher me indicou. Ao ver uns mastros com bandeiras parei e qual o meu espanto quando vejo, em letras grande por cima da porta: Hotel Chik Chik. A minha mente perversa tinha-me levado a interpretar as palavras da mulher noutro sentido. O nome do Hotel pretendia transmitir a ideia que era chique a dobrar. Cheio de dourados mas certamente o melhor da cidade. Fiquei por lá.
Em Angola os cartões Visa não funcionam, o que os compara apenas com o Irão. Felizmente transporto Dólares que, trocados no mercado negro, me permitem gastar pouco em Hotéis, gasolina e alimentação. Além disso só em Luanda o custo de vida é desproporcionado em relação ao rendimento médio da população. No resto do país os preços são muito aceitáveis.
Mente perversa :)
ResponderEliminarContinuação de boa viagem.
Bjs
Ana
Muito bom!!
ResponderEliminarChik Chik...shmuk
"Mas é para o “Chik, Chik”? perguntou-me.
ResponderEliminar- Não. É só mesmo para dormir"
Hahahahahaha, muito muito bom!
Obrigado por este momento.
Nuno
Xico, boa continuação e em Angola nada fora de estrada, as minas são reais.
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