Quando deixei Mancora em direcção a sul, pela única estrada que existe
nesse sentido no Norte do Peru pensava que a paisagem iria ser similar à que
tinha encontrado no Ecuador, mas é totalmente distinta. Atravessamos primeiro
uma espécie de Savana, que lembra a Africana, com pouca vegetação e rasteira,
para depois passarmos para uma parte de verdadeiro deserto.
Por sorte pus gasolina ao sair de Mancora, porque tinha pouca pois fiz os
primeiros 150 Km sem encontrar uma bomba de gasolina e apenas duas ou três
casas na beira da estrada com ar quase abandonado. No entanto passei por vários
poços de petróleo e, ao longo de parte
do percurso, havia um “pipeline”.
A estrada tinha partes bem alcatroadas mas grandes buracos traiçoeiros que
surgiam quando menos esperava, alguns no meio de curvas. Tinha que ir com
enorme atenção ao piso mas mesmo assim escapou-me uma lomba de velocidade,
colocada num sítio totalmente despropositado que, quando a vi não tive sequer
tempo de travar mas apenas de me pôr em pé na moto que deu um enorme salto.
Passada a vila de Chiclayo, onde voltei a pôr gasolina, aqui bastante mais
cara que no Ecuador, apanhei uma recta com 200 Km através do deserto. Não tinha
atestado o depósito porque mais uma vez estava à espera de encontrar aldeias e bombas
de gasolina mas não há construções nem vivalma, embora a estrada tenha algum
movimento, pois é a famosa Pan Americana, que atravessa a America do Sul. Por
volta das duas da tarde parei junto ao único restaurante porque passei. Estavam
estacionados uns três ou quatro camiões. À porta, do lado de fora, uma espécie
de termos grande com uma torneira, em cima de um banco, servia para os clientes
lavarem as mãos. Galinhas passeavam no chão de terra à volta do
estabelecimento, certamente com os dias contados para entrarem na panela. Quando
entrei senti-me um personagem daqueles filmes americanos passados no Texas, com
os cowboys de chapéu e de talheres na mão a tirarem os olhos do prato para
olharem para o forasteiro que acabava de chegar. Só que aqui eram camionistas e
não tinham chapéu.
Não havia água corrente mas o cabrito estufado que comi com arroz e feijão
não estava mau. Trazia uma laranja na moto, que me tinham oferecido uns dias
antes, que fez de sobremesa.
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