14 de novembro de 2017

Huaraz


Fiquei na pequena cidade de Trujillo e, à hora do jantar, em vez de pegar na moto optei por apanhar um Tuktuk à porta do Hotel que me levou ao centro pelo equivalente a 50 cêntimos.
Jantei um franco com batatas fritas e, numa pastelaria, comprei um gelado antes de regressar ao Hotel.
Na manhã seguinte continuei esta travessia do deserto. No dia anterior tinha quase atropelado dois abutres que comiam restos de animais na estrada em duas situações distintas, quando eles levantaram voo tarde e hesitantemente. Desta vez apanhei pela frente um enxame de insectos que formavam uma nuvem e se estatelaram contra a viseira da moto e capacete num barulho do género “schchump”, deixando ambos carregados de manchas de pequenos corpos dilacerados.
Passados uns 350 Km, numa das várias rotundas que têm a meio dos pequenos troços de autoestrada olhei para a direita e pareceu-me ver um lago, a cerca de dois quilómetros. Eram duas e meia da tarde e achei que poderia ter junto um bom local para almoçar e fui até lá. Era o mar e só então me lembrei que rodava sempre perto do mar de onde aquele deserto parte, praticamente. Ali havia uma pequena aldeia de pescadores com dois ou três restaurantes junto ao cais, todos vazios. Uma senhora fez-me sinal de dentro de um deles a dizer que estavam abertos e sentei-me na esplanada. Almocei o pior linguado com batatas que comi na vida, acompanhado de uma cerveja.
Fiz depois mais cerca de 50 Km até encontrar um desvio para o interior a caminho da cidade de Huaraz, um local inóspito perdido no meio das montanhas e que só foi descoberto por turistas há muito pouco tempo. Os primeiros 20, 30 Km são quase todos numa estrada maioritariamente de terra mas depois, surpreendentemente, a estrada está em bom estado quando começa a subir a montanha. Tinha almoçado ao nível do mar mas agora parecia não parar de subir esta estrada quase sem movimento que por vezes atravessava pequenas aldeias habitadas por Índios com vestimentas grossas e as mulheres de chapéus altos na cabeça.
Fui sentindo a moto a perder potencia e, passados uns 100 Km, pelas cinco da tarde, fui eu que comecei a ter dificuldade em respirar e a sentir necessidade de, uma ou outra vez, respirar fundo para me oxigenar. Estava a mais de quatro mil metros de altitude. No topo da serra vi, mais em baixo, a cidade de Huaraz. Em 1970 um tremor de terra em que morreu mais de metade da população destruiu-a por completo tendo, desde então, vindo a ser reconstruída. A catedral ainda não está pronta, não se percebe se por não haver verba para a acabar, como me sugeriram dois habitantes, ou se por haver pouca vontade de um povo cujas origens acreditavam em outros Deuses que não o católico. 
Felizmente começava a descer mas mesmo na cidade, a mais de três mil metros, continuava a respirar mal. Só no dia seguinte, mais habituado à altitude, me senti melhor.


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