2 de março de 2017

Tepalcatepec - Mexico


Decidi fazer este trajecto até à costa do Pacífico por estradas nacionais, evitando autoestradas, como geralmente tenho feito nesta viagem.
Saí assim de Morelia por uma fantástica estrada de montanha, debaixo de sol e uma temperatura de pouco mais de 20º. Da parte da manhã fiquei bem impressionado com a boa qualidade destas estradas secundárias mas da parte da tarde acabei por apanhar algumas esburacadas. Outro dos problemas são as lombas de velocidade que têm em quantidade na travessia das populações e que, muitas vezes, estão mal assinaladas ou simplesmente não estão. Na saída de uma vila, já fora da zona de habitações e quando rodava a cerca de 100 Km/h apanhei uma desta lombas. A moto saltou e, desprevenido, levei uma pancada nos braços através do volante que passou para o ombro esquerdo. Pensei que tinha ficado com uma lesão mas à noite já nada sentia. Entretanto, na entrada de uma vila, um letreiro onde se lia “Bem vindos a Uruapan, capital mundial do Abacate” chamou-me a atenção. Parei para tirar uma fotografia e junto estavam duas raparigas engraçadas a vender não abacates mas côcos. Pedi para lhes tirar uma fotografia e estávamos numa galhofa quando, de trás do camião, apareceu um rapaz ciumento que me perguntou, divertido, em inglês:
-O senhor quer comprar um côco?
-Não
-E as miúdas? Vendo-as barato.
À medida que a altura a que circulava baixava a temperatura ia aumentando. Passados uns 200 Km, quase todos de serra, parei numa vila junto a um minimercado para saber onde estava. De trás do balcão da loja virada para a rua saiu um rapaz, bem disposto, que não teria mais de 12 anos. Ele e uma irmã de uns 8 anos, giríssima, de olhos azuis claros, tomavam conta do negócio. Muito solicito, veio explicar-me no mapa onde estava e indicou-me o caminho que deveria seguir. Achei graça ao miúdo e como tinham duas ou três mesas com cadeiras no mercado para os clientes, resolvi descansar por ali um pouco e almoçar dois gelados. Reparei que a loja estava impecavelmente limpa e, enquanto ali estive verifiquei que o miúdo, nos intervalos de eficientemente atender clientes e de me perguntar de onde vinha, curioso e fascinado com a viagem, tratava de varrer a loja ou passar uma esfregona no chão ou um pano no balcão onde via a mais pequena nódoa. Impressionante.  
Continuei viagem a caminho do mar com a temperatura a aumentar ao longo do dia e agora já a ultrapassar os 30º. Cheguei à cidade de Nueva Italia de Ruiz e pensei em ficar por ali por não haver outra dessa dimensão nos 300 Km seguintes mas vi no mapa uma pequena cidade 70 Km à frente e decidi ir até lá. Na estreita estrada de campo vi primeiro uma estranha operação stop porque não era realizada por polícias mas por militares, fortemente armados, uns a mandarem parar os carros e outros, de metralhadora em riste, em cima das caixas de carga de camiões da tropa. Mandaram-me seguir mas uns 15 Km’s depois estava uma segunda, com o mesmo estilo e meios. O Embaixador português tinha-me recomendado que não entrasse no estado de Guerrero, mesmo que tivesse que fazer um desvio grande, por ser considerado perigoso, mas este era um estado vizinho, que não estava indiciado como tal. Segui viagem na pouco movimentada estrada. Na entrada de Tepalcatepec estava um terceiro grupo de militares. Parei para perguntar se havia um Hotel decente na cidade e referiram-me dois, do lado oposto. A pequena população era estranha porque tinha corrais de bois na rua principal e as oficinas ou comércio de pneus eram na maioria para tractores. O primeiro Hotel em que parei, dos dois que os militares me tinham indicado, era ao estilo dos do dia anterior, em que tinham uma tabela de ocupação de quarto que acabava à cinco da manhã. O segundo já era para clientes mais comuns. Estavam 36º e só quando parei constatei que estava ensopado em suor. O homem que me atendeu arrastava os pés, parecendo não ter forças para se deslocar. Perguntei-lhe o porquê do aparato militar e respondeu-me que era um controlo normal e que a cidade era calma. Pus-me debaixo de um duche frio e uma hora depois saí para jantar. Parei numa roulotte de beira de estrada, com três mesas no passeio de terra onde comi uma espécie de crepe de carne, excelente. O transito era como o de qualquer outra cidade de campo mexicana: carrinhas de caixa aberta podres e homens em motos de baixa cilindrada ou raparigas em scooters, por vezes com vários filhos ou amigas à pendura, todos sem capacete. Mas no meio daquele transito, destoaram um Corvette encarnado que passou acompanhado de uma enorme “pick-up” americana, nova. Estranha cidade.


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