Quando deixei Oaxaca novamente em direcção ao Pacífico, para visitar uma
famosa zona onde há sete baías umas a seguir às outras, o António Braga
explicou-me que às tantas deveria abandonar a estrada principal, sensivelmente
a meio da serra, para apanhar uma estrada em bom estado que me faria cortar
cerca de 80 Km ao trajecto.
Há uns dias, quando rodava a cerca de 120 Km/h numa estrada de província
voltei a não ver uma das muitas lombas de velocidade que este país tem. Bati
com força com a roda da frente na lomba, a suspensão bateu no fundo, a moto deu
um salto e o retentor do amortecedor esquerdo rebentou, o que já não me
acontecia desde as esburacadas estradas do Norte da Índia e da Birmânia. O que
me valeu agora é que o direito aguentou o golpe e por isso, mesmo só com um
amortecedor à frente, a moto continua a curvar bastante bem. Isto a propósito
das fabulosas estradas de montanha que tenho apanhado no México, que são um
grande contraste com a pasmaceira das estradas através das planícies dos
Estados Unidos e me têm dado imenso gozo. Nesta que segue de Oaxaca para Sul
estava divertidíssimo a fazer trabalhar o pneu traseiro até ao limite embora
com a frente a perder um pouco de aderência, por só um dos amortecedores
funcionar.
Até que ... virei à esquerda no que pensei fosse a estrada indicada pelo
António. Os primeiros quatro ou cinco quilómetros eram de uma estrada
alcatroada em bom piso mas depois entrei numa parte de terra. Pensei em voltar
para trás mas achei que seria apenas uma zona de obras e que rapidamente
voltaria o alcatrão de maneira que continuei, serra abaixo, com a estrada a ser
cada vez mais inclinada. À medida que ia andando e a estrada piorando pensava
sempre que aquilo deveria estar a acabar e lá continuava. Às tantas encontrei
um grupo de rapazes, Índios. Perguntei a um se a estrada iria melhorar ali à
frente e ele respondeu que eu não poderia ali passar porque precisava de
Passaporte. Estranhei a ideia porque estava longe da fronteira com a Guatemala.
- E se voltar para trás?
- Também precisa de Passaporte.
Ignorei o rapaz e continuei por ali abaixo. A estrada ficou tão inclinada e
em algumas partes com muita areia solta de tal forma que já não poderia voltar
para trás pois a moto não teria qualquer hipótese de subir aquilo, com o peso
que carrego. E a descer estive várias vezes a sentir que estava muito próximo
de ir ao chão. Cheguei a uma aldeia de Índios no meio da serra. Eles tinham cimentado
a parte da estrada que atravessava a aldeia, com rasgos no cimento para se ter
alguma tracção naquelas inclinações que desciam as montanhas praticamente a
pique. Doíam-me os ouvidos de baixar de altitude tão rapidamente. Voltei a
perguntar se havia alcatrão perto. Disseram-me que a cinco quilómetros e
passados os cinco outros disseram-me que seriam mais sete. Parecia um inferno
sem fim. Concentrava-me para não cair a pensar que poderia partir alguma peça
que não me deixasse sair dali. Estes Índios que vivem fora das cidades mal
percebem espanhol e têm o ar de não estar contentes por eu andar por ali no que
parece considerarem território deles, mas não tenho outra hipótese senão
continuar a descer por estradas cada vez mais esburacadas e difíceis. Passaram
vinte e cinco quilómetros daquele inferno que pareceram cem e duraram uma boa
hora. Finalmente alcatrão. Um grupo de militares estava junto à saída da
estrada de terra. Mandaram-me parar. Queriam saber porque estava ali. Contei-lhes
que estava perdido, perguntei como poderia seguir para a costa e deixaram-me
partir sem mais conversa.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEncontrei este blog à pouco mais de um mês e tenho vindo a ler desde o principio!sao excelentes crónicas dando a conhecer um pouco de tudo por onde passa.gosto muito também da parte onde fala das refeições/estadia/precos e pessoas que encontra!
ResponderEliminarOnde posso ver os videos da go pro?
Espero um dia fazer o mesmo!continuação de boa viagem!
Boa tarde,
EliminarTenho colocado alguns dos videos pequenos na minha pagina de facebook, onde me pode pedir amizade. Os maiores ficam para uma montagem posterior. Espero no fim da viagem poder montar uma exposição com tudo isso. Obrigado. Abraço
Olá Xico,
ResponderEliminarcontínua em grandes aventuras! Continuação de boas Viagens!
Abraço