Saí de Tepalcatepec pelas onze da manhã. Não estava tanto calor como no dia
anterior. O meu pequeno almoço foi uma banana que tinha comprado numa mercearia
na noite anterior, do outro lado da rua da roulote onde jantei.
À saída da cidade estava mais um grupo de militares a mandar parar e
revistar alguns dos carros e poucos quilómetros depois estavam a queimar um
enorme monte de erva. Devia ser mistura, para se não estragar muito produto,
pois cheirava mas não muito intensamente. Poucos quilómetros depois um homem
que circulava numa “pick-up” fez-me sinal para eu parar mas disfarcei,
ultrapassei-o e acelerei. Fiz mais duzentos quilómetros numa estrada de
montanha praticamente deserta mas espectacular, com boas sequencias de curvas e
contracurvas. Só parei para tirar umas fotografias junto a um camponês que sentava
a filha pequena num burro pela primeira vez.
No dia seguinte contaram-me que a zona onde estive era região onde os
traficantes se escondiam. Há pouco tempo chegaram a controlar a cidade e a polícia
não entrava lá. Fazia todo o sentido. Uma Mexicana contou que ela e o marido
tinham sido assaltados há cinco anos atrás, numa parte mais calma, junto à
costa, por tipos armados que lhes deram cinco minutos para retirarem tudo o que
tinham no carro, porque era uma pick-up americana quase nova que lhes dava
jeito. Nunca mais a viram. O que vale é que uma moto não lhes serve para grande
coisa. De qualquer forma na volta escolho outro trajecto.
Chegado à Costa do Pacífico parti para Norte, cerca de 100 Km até Costa
Careyes onde passei quatro dias na fantástica casa da irmã de um amigo.
Esta zona da costa foi nos anos 60 comprada por um italofrancês que aqui
fez um empreendimento que combina luxo com natureza, com praias desertas
maravilhosas e uma fauna que inclui crocodilos nas lagoas, linces, veados e
enormes aves que sobrevoam as rochas. Perto da costa passam baleias e
golfinhos. Apanhei excelentes dias de praia onde também andei a cavalo e
visitámos outras baías e enseadas de barco. Fantástico. Nos anos setenta o
velho Agnelli da Fiat encantou-se com aquilo e pensou em ali construir diversos
hotéis mas quando visitou o local a filha foi picada por um peixe aranha e
desistiu da ideia. Ainda bem. A grande vantagem de Costa Careyes é não ter
hotéis e assim estar reservada para quem tem ou aluga ali casa.
Quando arranquei não tinha percorrido mais de dez quilómetros quando, o que
me pareceu um corvo, saiu da vegetação da borda da estrada e se estatelou
contra a frente da mota, ficando estrangulado entre a carenagem e o para brisas.
Parei para o retirar, já cadáver.
Desta vez escolhi uma estrada fora da zona dos gangs de droga para
regressar e também era excelente,
através da serra. Fui até Guadalajara e aproveitei para visitar a parte antiga
da cidade na manhã seguinte. Parei a moto junto à porta principal da catedral,
em cima do largo passeio mas sem tapar a passagem a ninguém, à boa maneira
antiga portuguesa. Aqui a policia não se tem queixado muito quando deixo a moto
mal parada e desta vez acabaram por me deixar um papel delicioso, que eu
pensava ser uma multa mas não passava de um aviso impresso para não deixar a
moto ali por muito tempo ou seria multada. Simpático.
Francisco, não sei se é do seu ar simpática, mas tem-se safado sempre da polícia... Ainda por cima no México onde a polícia habitualmente tenta sempre sacar uns trocos aos turistas...
ResponderEliminarAb e boa viagem
Nunca me mandaram parar. Nem na fronteira. E não me vêm a cara, porque estou de capacete. :)
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