Quando cheguei a Huatulco um rapaz, junto ao porto, veio perguntar-me se
procurava Hotel. Disse-lhe que sim, um barato e por ali. Veio então a correr à
frente da moto até ao Hotel onde fiquei. Convidei-o para jantar e a seguir
ainda fomos a um cabaret abaixo de cão beber uma cerveja a um euro e meio cada
com direito a assistir ao striptease, embora eu pedisse a todos os santos para
que a mulher não se despisse, tão inestética já era vestida.
- “Só mais para o fim da noite. Começa com esta.”
No dia seguinte decidi embarcar para uma visita às baías, no que pensava
ser um passeio de turistas. Acabou por ser uma espécie de Feira Mexicana Naval.
Mal entrámos puseram música aos berros enquanto o capitão, no que me pareceu
muito sensato para um Mexicano pediu:
- “Agradeço que ponham todos os coletes porque o mar está bravo e pode ser
perigoso”. E quando arrancamos insistiu:
- “Atenção. Já têm todos os coletes? Agradeço que todos os ponham,
incluindo as crianças. O mar está bravo. Além disso vamos agora passar em
frente à capitania e podemos ser multados se alguém não tiver o colete
colocado”. Aqui estava o segredo de tanto zelo pela segurança dos passageiros.
Lá pusemos todos os coletes. Só que, mal saímos do porto e entrámos em mar
aberto o comandante voltou ao microfone:
- “Atenção. Já podem tirar os coletes. Já passámos a capitania. Agora é
festa meus amigos. Quero ver todos contentes e animados”. E aumentou o volume
da aparelhagem de som, onde berrava um Mexicano acompanhado de violas.
E lá andavam crianças de quatro e cinco anos a correrem de um lado para o
outro e a pendurarem-se no varandim do catamaran sem colete algum.
Ao meu lado seguia uma família típica: Um casal dos seus sessenta e cinco
anos em que o homem tinha uma barriga de um tamanho equivalente ao dobro de uma
mulher grávida de nove meses. O homem, que mal conseguia andar, entrou no barco
a suar em bica pelo esforço que tinha feito no trajecto dentro do Porto e,
quando se sentou já não se conseguiu levantar, nem mesmo para tirar a fotografia
de família a pedido do fotógrafo do barco. Este casal tinha três filhos nos
seus trintas, dois deles casados e com vários filhos entre os quatro e os seis
anos. Transportavam a bordo uma enorme arca congeladora que até rodas tinha e
onde vinham poucos refrigerantes mas cervejas suficientes para abastecer um bar
durante um fim de semana. Na primeira hora entre os três beberam uma dúzia. O
mais velho via-se que se encaminhava a paços largos para conseguir o físico do
pai e a mulher também não percebi se estava na eminência de ter outra criança
ou se a barriga era devida aos mesmos hábitos que o marido. Estavam todos em
enorme alegria e tiravam caricas, umas a seguir à outras, apenas com um
isqueiro, com a habilidade natural de verdadeiros profissionais. As crianças
ainda não tinham tido tempo para engordar mas já as mães lhes iam dando um ou
outro golo de cerveja para se habituarem, não fossem os petizes ficar
raquíticos com falta de álcool no sangue. Os pais diziam não, não, a rirem mas
percebia-se que tinham enorme orgulho no hábito que os filhos estavam a
adquirir. Tudo aquilo parecia um filme do Almodôvar.
Enquanto isto um outro casal, com o ar de terem saído da reserva de Índios
onde eu tinha passado no dia anterior, ela com uns justos calções brancos com
flores que pareciam um pijama a que tinham cortado as pernas e um top lilás, com flores de outro padrão,
fazia de Kate Winslet no Titanic,
abrindo os braços rechonchudos bem alto na proa do barco, com o marido radiante
por trás dela a acompanhar o gesto, em pose para o fotografo.
Pensei como iria resistir o dia todo ali fechado mas o Comandante anunciou
que iriamos parar numa praia para almoçar e antes noutra baía para quem
quisesse fazer “snorkeling”. Pelo caminho vimos várias tartarugas gigantes bem
perto do barco e o “snorkeling” a que só sete dos cerca de quarenta a bordo
aderimos, durou uma hora e foi espectacular, com peixes sensacionais de todas
as cores e uns às ricas em tons de azul ou com quadriculados que nunca tinha
visto. Pareciam pintados para a ocasião.
Na paragem para almoço, de duas horas, o patriarca da família de gordos foi
içado pelos filhos em peso para dentro do bote e, já em terra, de ali para a
mesa do restaurante na praia. Como não se consciencializam do incómodo que é.
Na volta ainda vimos uma baleia, a uns 150 metros, que soprou o seu repuxo
e mergulhou, atirando a enorme barbatana fora de água antes de mergulhar para
as profundezas do oceano.
Espectáculo!!
ResponderEliminarCom baleia e tudo.
Boa viagem
Um beijinho, Ana