Quando deixei a fabrica da Honda comecei por subir ao monte Aso, por trás
da fábrica, por recomendação de um dos japoneses. Lá no alto atravessei um
enxame de gafanhotos que batiam com força contra a carenagem e o capacete,
felizmente fechado.
Mas a vista lá de cima compensou. Fabulosa, com um raio de 180º sobre um
imenso vale que parece ter resultado da erosão sobre uma ou várias crateras de
vulcão. Fiquei um bom quarto de hora parado, no alto, a respirar aquela vista.
Arranquei depois rumo a oriente, atravessando esta ilha Kyushu para a costa
oposta. A princípio, ainda perto da fabrica, apanhei algumas estradas cortadas
e outras em reparação, por terem caído com o tremor de terra, mas uns
quilómetros à frente já estava a percorrer fantásticas estradas de montanha com
pouco transito e sem policia. Um gozo.
Pelas cinco da tarde pensei em encontrar um hotel onde ficar mas não via
nenhum. Até que apanhei um posto de informações. A senhora gorda, com a cara
tapada por uma destas mascaras de papel, como se vê aqui bastante, indicou-me
um hotel demasiado caro para o meu orçamento pois os na casa dos 50 euros
estavam esgotados. Pedi-lhe que procurasse mais barato e o disponível era uma
pequena pensão.
-Boa! Quanto custa?
-15 euros pelo quarto mais cinco pela cama.
-Mas alugam o quarto sem cama?
-(a rir-se)Não sei. É o que vem aqui.
-Tudo bem. Então reserve um quarto e uma cama. Tudo à grande.
Quando lá cheguei uma simpática senhora que não falava uma palavra de
inglês, como todas as outras por aqui, esperava-me cá fora não fosse eu não ver
a pensão na estrada. Indicou-me o quarto, do tipo japonês, ou seja, vazio.
Tinha uma espécie de edredon no chão que fazia de colchão, com lençóis
lavados. Pedi mais dois para colocar debaixo daquele e instalei-me. Quando
perguntei onde podia jantar, tudo por gestos, estou perito em mímica, a senhora
fez uma careta e ligou para o único restaurante da aldeia. Estava fechado por
ser segunda.
Pensou um pouco e decidiu ligar a um vizinho para que me desse de jantar.
Deve se hábito porque o vizinho prontificou-se logo a cozinhar-me jantar. Ainda
pelo telefone perguntou-me o que queria e como “curry” foi a única palavra que
percebi foi o que escolhi. Combinei estar em casa do vizinho às oito.
Lá estava ele ao fogão a acabar de cozer o arroz e um lugar posto para mim
na mesa. Arranjou-me uma cerveja que aqui já aprendi chamam “Biko”. Tinha
acrescentado uns panados de porco à ementa com medo que eu não me alimentasse
só com o Curry e no fim cobrou-me 9 euros pela refeição. Fantástico.
Dormi bem mas no dia anterior tinha dado um jeito nas costas e naquela
manhã, talvez pela estrutura da “cama”, estava pior. Vi-me aflito para me
levantar mas tomei uma aspirina, o único remédio que viaja comigo para além de
betadine para as feridas, mordidas de insecto, etc., e lá consegui pôr-me de
pé. Fui a uma mercearia comprar um iogurte e pão para o pequeno almoço e parti,
pelas dez da manhã, visitar, de barco a remos, umas cascatas sobre um pequeno
rio.
Estive por lá cerca de hora e meia e segui viagem por estas estradas de
montanha fantásticas da ilha de Kyushu.
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