Já fora da autoestrada encontrei o que eles chamam um “Business Hotel” que
são uma espécie de Ibis lá da zona. Há várias cadeias mas têm todos uma coisa
em comum. As casas de banho foram certamente encomendadas ao mesmo fornecedor e
parecem as dos barcos. Uma espécie de cubos pré fabricados que aplicam num
canto do quarto, aliás ao estilo dos Ibis. Mas são funcionais.
Nestes hoteis, o preço por noite ronda os 55 euros mas algumas vezes inclui
jantar. Só que a cozinha japonesa de restaurante de meia tijela é mesmo fraca.
A sopa é de legumes, sempre igual e má e os restantes pratos à base de arroz
temperado com algum molho feito com peixe ou fritos de alguma espécie e legumes
estranhos. O que vale é que sou de pouco alimento e por isso durante o dia
normalmente compro uma sandwich, um sumo e uma banana no caminho e só à noite
levo com a refeição de Hotel.
Quando cheguei as meninas da recepção anunciaram-me que nessa noite havia
um festival ali perto dedicado ao Obon que é um período no ano, de três ou
quarto dias, em que os japoneses se reúnem em família, normalmente nas suas
terras de nascença, para lembrarem os familiares mortos. Embora sejam
supostamente budistas a maioria dos japoneses liga pouco à religião mas seguem
estes costumes.
Fui assistir a esse festival onde aconteceu um fenómeno estranho. Em Agosto
aqui está sempre muito calor e o céu por vezes esta um pouco nublado mas chove pouco. Pois a meio do festival, pelas
oito da noite, o céu abriu-se e começou a chover, e forte. Parecia que os
Deuses estavam a abençoar a cerimónia. Consistia em danças que parecia
misturarem-se com artes marciais iluminada por centenas de tochas carregadas
por miúdos. Fantástico.
Gosto de assistir a este género de cerimónias locais, fora dos circuitos
turísticos. Nesta ilha ainda não encontrei nenhum estrangeiro e é talvez por
isso que me tratam tão bem.
No dia seguinte arranquei pelas oito e meia da manhã, depois de um pequeno
almoço de sopa de legumes e arroz pois nestes hotéis de província muitas vezes
não há pão, que os japoneses não o comem.
Parti por estreitas estradas de montanha, aqui já com pouco transito, até à
fabrica da Honda, perto de Kumamoto.
Ao meu encontro vieram o engenheiro chefe do projeto “Cross Tourer” e de
outros modelos, outro engenheiro de pesquisa, o chefe de comunicação da fabrica
e um ajudante da parte técnica que, já de capacete enfiado, pediu para levar a
minha moto. Os outros fomos beber um café e conversar sobre a minha viagem e a
fabrica com os problemas que teve com o tremor de terra que praticamente
destruiu o seu interior. Tinham retomado a produção há três ou quatro semanas
mas ainda em pequena escala, fabricando cerca de 300 motos por dia em vez das
habituais 700. A semana passada tinham estado a produzir a nova Africa Twin que
tem sido um sucesso mundial, com milhares de clientes à espera da sua, depois
da produção ter parado quase três meses.
Normalmente não poderia ver a linha de produção nas condições em que estava
a funcionar mas, perante a minha insistência, lá deixaram. A linha reduzida
obriga a que mais peças sejam montadas por cada trabalhador e a montarem as 750
bicilíndricas naquele dia estavam desde uma miúda gira de 18 anos que achou
muito divertida a minha visita, até um rapaz dos seus sessenta, todos em
perfeita sintonia.
Num local à parte apenas dois funcionários montavam uma das duzentas e
poucas RC, réplicas da moto de GP (garantiram-me que o quadro, braço oscilante,
etc. são os mesmos, assim como grande parte das peças do motor, suspensão,
travões, etc.). 180.000 euros de moto de estrada. A mais próxima de uma MotoGP
que alguma vez foi fabricada, garantem.
Ao fim da manhã reunimo-nos para uma fotografia de grupo com o pessoal de
desenvolvimento de produto, que adoraram a minha visita, e a minha moto onde,
para minha surpresa, tinham montado pneus novos, que os que lá estavam já
tinham muito pouco piso, proteções de punhos novas, que estavam partidas e um
novo vidro de carenagem, a voltar a ser transparente. Fantástico.
Tratamento VIP mais que merecido pela Cross Tourer e pelo Francisco que a fez percorrer meio mundo até aí!
ResponderEliminarAbraço
Miguel Ala Silva