Kyoto, que foi capital do Japão por mais de mil anos, até 1869, é uma
cidade fantástica. Tem um ambiente descontraído para uma cidade com um milhão e
meio de habitantes. Avenidas largas, com espaço, um transito que não é caótico,
apartamentos espetaculares sobre o rio, cultura, gastronomia e … Gion, o ultimo
bairro japonês onde ainda há Gueixas.
Os táxis em Kyoto são quase todos de um modelo Toyota dos anos 70, grande,
de tração traseira. São todos pretos e sempre impecavelmente limpos, a brilhar.
Provavelmente fabricaram-nos até tarde, tal como os táxis londrinos. Os
chauffeurs são uns senhores, vestidos de fato e gravata, discretos e educados.
Alguns até andam de boné, como usavam nos anos sessenta em Lisboa.
Serão milhares destes táxis a circularem na cidade.
No dia em que cheguei parei numa bomba de gasolina onde estava um a
abastecer enquanto o taxista dava uns retoques de limpeza no porta bagagens.
Perguntei-lhe o caminho para o Hotel que tinha reservado e, muito
simpaticamente explicou-me, não sem antes se concentrar para contar quantas
ruas eu teria que passar antes de virar à esquerda ou direita para depois
explicar com firmeza: one, two, three, four, FIVE, LEFT. One, two, THREE,
RIGHT. E assim me indicou o caminho, com convicção. Muito engraçado.
Agradeci-lhe e segui viagem. No dia seguinte, quando procurava o caminho
para Gion, já longe de ali, seguia por entre os carros numa enorme fila e
decidi parar junto a um dos muitos táxis para perguntar o caminho ao taxista.
Era o mesmo do dia anterior. Inacreditável. Ele achou tanta graça quanto eu e
desatámos os dois a rir com ele a dar-me palmadas no depósito da moto antes de
me explicar o caminho da mesma forma. One, TWO, RIGHT. Extraordinário.
Na noite anterior tinha saído do
Hotel para procurar um restaurante onde jantar. Na esquina de uma movimentada
rua vi um “steak house” com bom aspecto. A parte onde me sentei era uma pequena
sala mas com janelas largas, a dar para duas ruas, só com meia dúzia de mesas
pequenas e altas e bancos para nos sentarmos. Tinha boa onda e boa música a
tocar. Sentei-me na única mesa livre. Pedi o menu e uma cerveja à menina gira
que me atendeu. Recomendou-me a carne de lombo. Avisou-me que os pratos traziam
só 100 gramas de carne, uma batata, um tomate e grelos. Junto trazia outro A4 plastificado
onde recomendavam o Kobe beef. Olhei para o menu. O lombo na carne normal
custava 1890 yenes, o equivalente a 17 euros. Do Kobe, que vinha por cima,
pareceu-me ver 1200.
Pedi-lhe que me trouxesse então carne do lombo mas desse mais barato, de
Kobe. Ela só ouviu essa parte e confirmou:
- “so it’s a Kobe beef Sirloin”
- “yes, that’s right”
Passado um bocado trouxe-me um prato rectangular, com uns vinte centímetros
de comprimento e dez de largura onde estavam os tais 100 gramas do lombo de
Kobe, cortado às fatias, uma rodela de batata, grossa, um mini tomate e um
reduzido cacho de grelos. Pedi faca e garfo mas não precisava. Quando provei o primeiro
bocado de carne não queria acreditar. Em sessenta anos de vida nunca tinha
comido uma carne tão boa, de longe. Era muito tenra mas ao mesmo tempo não se
desfazia, o sabor era extraordinário, estava grelhada no ponto exato e tinha a
pequena e certa quantidade de gordura. Inexplicável. A primeira coisa que
pensei foi que estaria ali caído no dia seguinte ao almoço.
Saboreei bem aquela carne maravilhosa mas despachei os 100 gr mais a rodela
de batata, o tomate e os grelos em cinco minutos. Pensei em pedir uma segunda
dose mas, como sou rapaz de pouco alimento, achei que por hoje chegava.
Dirigi-me ao bar para pagar a conta, um costume no Japão onde nunca se
deixa gorjeta porque eles não estão à espera e até consideram uma ofensa. A
menina que me serviu apresentou-me a conta: 13.340 Yenes.
- “Desculpe mas enganou-se. Não são 13.000 mas 1300”.
- “Não. São 13.000. O senhor pediu “Kobe beef”.
- “Mas no menu”.
- “No menu vem lá Kobe beef a 12.000 Yenes”. E foi buscar o menu.
Onde eu, á primeira vista tinha visto 1.200 até por parecer o mais lógico,
estavam 12.000. Ou seja, aquele jantar, composto por 100gr de carne, uma rodela
de batata, um mini tomate, 10gr de grelos e uma cerveja custou-me a módica
quantia de 120 euros. Rir foi o melhor remédio.
Quando regressava ao Hotel pensei: ainda bem que isto me aconteceu. Se
tenho sabido o preço antes nunca tinha passado por esta experiencia de comer
uma carne que nem sabia existir e sei que é uma coisa que nunca irei repetir na
vida pois, mesmo que um dia seja rico, nunca vou pagar 120 euros por cem gramas
de carne porque, simplesmente, acho um desperdício. Esta deve ser a tal carne
de que tinha ouvido falar de vacas a quem fazem massagens e põem a ouvir música
clássica enquanto não vão para o tacho.
Extraordinário...
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