26 de agosto de 2016

Kakegawa


Ao fim do dia cheguei à cidade de Kakegawa onde procurei um Hotel. Encontrei um de uma cadeia “Smile” que achei graça porque o emblema era mesmo um desses “smile” como os do facebook. Só deixei de rir quando cheguei ao quarto que tinha a alcatifa toda suja e um aspecto bastante desolador, mas não quis procurar outro com medo de não encontrar alternativa. De qualquer forma foi mais barato que o costume e, tal como me dizia um professor em Inglaterra, “you pay for what you get”.
Pelas nove da noite saí à procura de um restaurante onde jantar. À esquina encontrei um único onde duas simpáticas e giras miúdas pareciam esperar o primeiro cliente da noite. Pedi a ementa e um Biru (cerveja) mas a partir daí a comunicação foi mais difícil. Elas não falavam uma palavra de inglês e o menu, sendo numa cidade de província onde não há turistas, estava todo em Japonês e não tinha fotografias, como muitas vezes têm. Nem sequer havia outros clientes para eu poder escolher através do que tinham pedido e apontar para o prato deles. Estivemos uns bons minutos a rir os três com a situação até que uma delas se lembrou de procurar fotografias de pratos na internet. E assim escolhi o que queria através das fotografias no telemóvel da rapariga. Original
E já que não havia mais clientes elas sentaram-se na mesa ao lado da minha também a jantarem. Muito engraçado.
Já só estava a duzentos e poucos quilómetros de Tokyo de maneira que marquei pela internet Hotel para os dois dias seguintes na capital e fiz-me à estrada.
A zona que passa junto ao monte Fugi é linda, primeiro com uma estrada no topo da montanha com vista para o famoso monte, com o glaciar no topo, de um lado e um lago em baixo do vale do outro. Infelizmente o céu nublado do dia não me permitiu ver o Fugi mas a vista para o lago lá de cima é espetacular. Além disso, a estrada que desce até ao lago e sobe a montanha do outro lado é linda, com uma vegetação muito densa e grande variedade de árvores. O transito é que estava praticamente parado com o que parecia ser um passeio típico para as gentes de Tokyo. Lá fui eu pela faixa contrária a passar o traço contínuo, sempre que a segurança o permitia.
Ao entrar em Tokyo decidi fazer um filme com a Go pro no capacete porque é sempre engraçado a conversa que tenho com as pessoas a perguntar caminhos, comigo a falar inglês e eles a responderem invariavelmente em japonês mas, como a conversa é acompanhada por gestos, lá nos vamos entendendo. Neste caso era para encontrar o caminho para o Hotel. Ainda não vi o filme de mais de uma hora mas deve estar giro. Principalmente porque, já no final, passei uma fila de carros que estava parada no sinal luminoso para virar para a rua do Hotel e parei à frente deles. Quando arranquei estava uma mulher polícia ao lado de um alto motão, creio que uma Honda 750, a mandar-me parar. Era uma miúda giríssima, mesmo, que não teria mais de 25 anos. Fiquei embasbacado a olhar para ela, fardada e de capacete na cabeça com um enorme emblema dourado na frente. Sexy. Mas fiz um sorriso e disse-lhe que tinha toda a razão em mandar-me parar. O que vale é que ela também achou graça e falava inglês, para minha surpresa. Disse-me que eu tinha cometido uma infracção e pediu-me a carta japonesa.
-Não tenho
-Não tem?? Como??
-Não. Só tenho portuguesa.
-Não pode ser. E o que faz aqui?
-Sou turista.
-Turista, de moto?
-Sim. Tem matricula portuguesa
-Como é possível?
E para não complicar mais a conversa mudei o tema.
-Ajude-me lá. Sabe onde fica o Richmond Hotel? Disseram-me que era nesta rua.
- Sim. É ali em cima.
-Depois do cruzamento?
- Sim, no segundo sinal luminoso.
-Ah, óptimo. Muito obrigado
E resolvi a questão com mais um sorriso simpático. Apetecia-me dar-lhe um beijo mas achei que me levaria preso e desisti da ideia.

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