Mal o avião aterrou um cheiro intenso a queimado invadiu a cabina. Os
passageiros que estavam à janela apressaram-se a tentar perceber, através da
noite escura, de onde vinha aquela cor encarniçada do céu. E, assustados,
observavam asas e motores. Ao mesmo tempo a hospedeira chefe, com ar
preocupado, soltava-se do seu cinto de segurança, mais completo que o dos
passageiros, levantava-se da cadeira com assento que levanta de costas para a
cabine de pilotagem, a lembrar as das velhas salas de cinema, e pegava no telefone
para anunciar ao comandante o forte cheiro a queimado, ainda o avião rolava
pela pista. Tudo isto não demorou mais de 10 a 15 segundos, até se ouvir a voz
do comandante anunciar aos passageiros: Não se preocupem. Este cheiro a
queimado não vem do avião. O que se passa é que parece estar tudo a arder à
volta do aeroporto.
No dia seguinte os jornais mostravam carros e casas em cinzas mas a maior parte
foi mato, em grandes extensões, como é comum na Austrália.
Tinha acabado de aterrar em Darwin, para o regresso à minha volta ao mundo
de moto. Passava pouco das cinco da manhã e decidi ficar uma hora ou duas pelo
bar do pequeno aeroporto, à espera que fossem horas decentes para aparecer no
Hotel que tinha reservado uns dias antes.
Quando finalmente saí para a rua o sol já tinha nascido mas o fumo intenso
não deixava ver mais que uns vinte metros à frente. O chofer de táxi considerou
o fogo uma banalidade e três ou quatro
quilómetros fora daquela zona já podíamos ver o azul do céu com o calor que
prometia.
As praias são boas, por aqui?
Sim, mas não se pode tomar banho.
Porquê?
“Crocodilos e alferrecas, que se agarram ao corpo e provocam fortes
queimaduras”.
Nunca tinha ouvido falar em crocodilos de água salgada mas o homem
informou-me que são os piores.
“Bastante maiores que os dos rios e pântanos atingem facilmente os cinco
metros e em vez de arrancarem um braço ou uma perna comem a vitima até ao
ultimo osso”.
Aqui, todos os anos morrem pessoas comidas pelos crocodilos, conta-me o
homem.
“Já ninguém vai nadar mas às vezes andam à pesca, em pé nos barcos e os
animais saltam da água para os agarrar”.
Darwin é uma cidade pequena, com pouco movimento. É aqui que chegará a moto
que, depois de muita insistência minha junto da companhia de navegação
timorense, lá foi carregada num contentor transportado por um navio que, a
fazer escala em Singapura, há de aqui chegar dentro de uns dez dias. Não me
resta mais que aguardar a passear e ler na pequena piscina do Hotel.
Bem-vindo de volta, Francisco. E boa sorte nesta etapa da viagem!
ResponderEliminarObrigado, Gonçalo. Não está a correr muito bem porque a moto atrasou-se a vir de Timor de barco e ainda estou à espera dela por mais uns quinze dias. É a vida...
EliminarAo menos tens a piscina. Não há nada aí à volta de Darwin para conheceres?
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