Cheguei à cidade de Guatemala pelas cinco da tarde e, sem saber onde ficar,
decidi ir até ao centro. Eles têm a cidade dividida em Zonas e esta é a Zona1.
Achei estranho ao chegar por ser uma zona de ruas estreitas com péssimo
aspecto mas pensei que seria toda a cidade assim e tratei de procurar um Hotel.
Numa bomba de gasolina indicaram-me um com tão mau aspecto como a Zona mas que
tinha a vantagem de uma garagem onde guardar a moto. No dia seguinte soube que
me tinha instalado na Zona mais perigosa da cidade, onde muita gente nem se
desloca, principalmente à noite.
Estranhei ao perguntar à menina da recepção onde havia um restaurante onde
pudesse jantar e ela responder:
- Se esta zona é perigosa? Sim, é. Há que tomar cuidado.
- Mas não foi isso que eu perguntei.
- Sim, sim. Estou só a chamar a atenção. O único restaurante que está
aberto a esta hora fica nesta rua a dois quarteirões, numa esquina do outro
lado da rua.
- Obrigado. E lá segui a caminho do restaurante.
Pela primeira vez nesta viagem de volta ao mundo senti verdadeira
insegurança. As ruas eram escuras, numa zona muito degradada e sem iluminação
alguma. Viam-se vultos a sair de algumas portas, alguns em grupos de dois ou
três e a caminharem pelos estreitos
passeios. Eu fui até ao restaurante de passeio em passeio, a atravessar a rua
cada vez que vislumbrava um destes pequenos grupos que se cruzaria comigo. Á
porta do pequeno restaurante de frango assado estava um guarda de espingarda
mas recolhido dentro do restaurante, não fosse ser atingido por uma bala
perdida. Os clientes, estranhamente, eram absolutamente normais e pareciam não
fazer parte do cenário. Depois do meu frango lá voltei para o Hotel, onde a
porta de grades era aberta e fechada de cada vez que um cliente saía ou
entrava, saltitando novamente de passeio em passeio por entre a escuridão. A
rapariga pareceu feliz por me ver de volta.
Na manhã seguinte encontrei-me com um adjunto do Cônsul Português para o
pequeno almoço. Ele tinha-me recomendado um Hotel numa zona sossegada mas como
era bastante mais caro nem sequer o procurei. Sendo um Guatemaltenho, queria,
essencialmente, saber a opinião dele sobre o trajecto que tinha planeado fazer
nas travessia dos outros países da América Central.
Segui visitar a cidade de Antigua, velha capital, a cerca de 30 Km da actual
para depois seguir até ao lago Atitlán que me tinham recomendado visitar, por
ser rodeado de vulcões.
Antigua, fundada pelos espanhóis em 1543, é uma cidade linda, com as ruas
todas em calçada e boas casas e monumentos erguidos pelo invasor. Fica num vale
para onde se desce por uma inclinada via rápida.
Parti depois para o Atitlán, um enorme lago que, por o tempo estar enublado
não me permitiu que distinguisse bem os vulcões junto à margem oposta. Já perto
passei pelo que inicialmente pensei ser uma manifestação de Índios mas que ao
ultrapassar verifiquei tratar-se de um enterro, certamente de alguém importante
no Clã, pelo volume da assistência.
Almocei junto ao lago com um simpático casal de americanos que me chamou
para a sua mesa quando me viram de capacete na mão. Eles tinham vindo até ali
numa BMW e pensavam regressar brevemente aos Estados Unidos.
A caminho de Antigua tinha parado num concessionário Honda da cidade de
Guatemala para saber se teriam a ferramenta que preciso para reparar as
suspensões da moto, sem grande esperança de as encontrar. Eles não as tinham
mas confirmaram-me que havia outro na cidade que tinha certamente,
prontificando-se a ligar para lá a confirmar. Havendo a possibilidade de fazer
a reparação dois dias depois, ficou marcada a operação tendo eu regressado à
capital no dia seguinte a ficar junto ao lago.
Este teu blog é uma maravilha.
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