No dia seguinte voltei a tomar um banho de mar pelas oito da manhã e cerca
das nove e meia saí com a ideia de enfrentar a tal estrada esburacada a caminho
do ferry. Só que, quando estava lá perto, percebi que havia um outro ferry,
mais perto e que não obrigava a enfrentar aquele trajecto. Foi um alívio e
embora este segundo ferry partisse hora e meia antes do outro, como tinha saído
com tempo, consegui apanhá-lo, por dez minutos, pois só há dois por dia.
A travessia deixou-me em Punta Arena, uma língua de terra que sai da parte
continental. De aí arranquei até um parque que me tinham recomendado com um
nome muito português, não percebi por que razão: Parque Nacional Manuel
António. É um parque relativamente pequeno, com muita vegetação e vida selvagem
e que, estando junto à Costa, tem boas praias. Ao chegar, ainda a cerca de 4 Km
da praia, vi um Hostel sensacional, construído em madeira, no meio da floresta,
com uma decoração fantástica e ventoinhas e rodarem nos terraços da sala ao ar
livre. Fui até à praia explorar o local mas voltei para procurar estadia ali e
instalei-me numa destas camaratas mistas de miúdos que a maior parte das vezes
olham para mim com um ar de: “o que é que este velho anda aqui a fazer”?
Só nos Estados Unidos encontrei muita rapaziada da minha idade nestes
Hostel, que são uma forma de se dormir barato em sítios, algumas vezes, muito
giros.
Depois de deixar as bagagens no Hostel voltei á praia, já de fato de banho,
regressando pelas cinco da tarde.
Jantei pelo Hostel, deitei-me cedo e, como a enorme janela mesmo em frente
da minha cama não tinha cortinas, acordei pouco depois das seis. Aproveitei
para sair cedo pois pretendia chegar nesse dia à cidade do Panamá, setecentos
quilómetros à frente, com uma fronteira para atravessar.
Depois de um duche e de reparar o suporte de uma das malas, que me tinha
saltado fora numa lomba da estrada à entrada de uma ponte em que a moto
descolou as duas rodas, tomei um pequeno almoço de ovos e fruta e, às oito e
meia da manhã, estava na estrada.
Duas horas depois chegava à fronteira com o Panamá. Cobram mais 8 euros
para os turistas saírem da Costa Rica, como em outros países nesta região, mas
a burocracia aqui foi bastante rápida e perdi pouco mais de meia hora até estar
de volta ao alcatrão. A estrada que atravessa o Panamá é quase a única do país
e, talvez por isso, está em excelente estado. Estão mesmo a transformá-la numa
óptima auto estrada mas de momento, na maior parte do percurso, só se está a
utilizar um dos lados da via, com o transito a circular com via única em cada
sentido. Na meia dúzia de quilómetros em que isso não acontecia e a estrada tinha
um separador central em cimento, com estreitas aberturas onde não cabia um
carro, vi uma BMW do outro lado da auto estrada no que me pareceu ser um
viajante em apuros. Voltei para trás através de um dos espaços no separador
central e fui ter com o homem. Era um polícia que fez um ar do tipo “o que é
que o senhor quer”? Pedi desculpa, expliquei a razão de ter voltado atrás e,
como ele não se queixou, votei a atravessar o separador central nas barbas do
homem.
Nessa manhã também tinha parado, ainda na Costa Rica, quando vi um casal em
outra BMW na borda da estrada. Esses agradeceram muito e explicaram que estavam
a esperar um amigo que passaria numa competição ciclística.
Ainda não tinha apanhado chuva desde que saí dos Estados Unidos mas, mal
entrei no Panamá, uma carga de água tropical abateu-se sobre mim. Parei para me
abrigar numa paragem de autocarro e, quando abrandou, votei a arrancar para,
dez minutos depois, voltar a cair outra carga de água. Assim passei a tarde,
entre períodos de chuva intensa que duravam uns dez minutos para depois chegar
a uma zona onde a estrada estava seca
rodando uns vinte minutos sem chuva, com 33º de temperatura que eram
suficientes para o fato secar e logo levar com outra dose.
Pelas quatro da tarde vi duas BMW numa bomba de gasolina e parei. Eram locais
que tinham ido em grupo visitar o único vulcão existente no Panamá e voltavam à
capital.
Perguntei-lhes se sabiam onde era um Hostel que me tinham indicado e, como
um deles o conhecesse, combinei acompanhá-los nos cerca de cem quilómetros que faltavam.
Sem comentários:
Enviar um comentário