9 de abril de 2017

Guatemala City 2


Quando regressei do lago Atitlán à cidade de Guatemala fui direito ao concessionário Honda onde tinha marcado uma reparação da suspensão para o dia seguinte. Fiquei impressionado com a dimensão e o movimento. O departamento automóvel estava repleto de carros novos à espera de serem entregues e, na parte das motos, só do modelo Africa Twin tinham doze em stock. O director da concessão contou-me no dia seguinte que na semana em que começaram a comercializar o modelo venderam 20. Tenho impressão que em Portugal não há tanto movimento no país inteiro. E isto é supostamente um país pobre, com poucos mais habitantes que nós, quinze milhões.
Combinei estar lá no dia seguinte às oito da manhã e indicaram-me um Hotel relativamente barato por perto.
Ajudei o excelente mecânico a fazer a reparação e aproveitei para mudar pastilhas de travão e o óleo do diferencial que pensava nunca ter sido mudado mas que, pelo seu estado, constatei que o teriam feito quando passei na fábrica, no Japão.
Deixei as instalações já perto das seis da tarde e decidi sair da cidade para no dia seguinte de manhã não ter que fazer a muito movimentada estrada que sai para Sudeste a caminho de El Salvador. O mecânico que trabalhou na minha moto tinha-me dito que havia uma cidade a pouco mais de meia hora de caminho onde encontraria hotéis. Só que, quando achei que já tinha passado a referida cidade, perguntei por hotéis e começaram a indicar-me estradas secundarias. Ficou noite e acabei por me perder. Estes arredores de Guatemala são sinistros e os únicos hotéis que encontrava eram Moteis de estrada destes com quartos alugados à hora, que não queriam perder tempo e dinheiro com um cliente que vinha para passar a noite toda. Para manter a discrição dos clientes existe um telefone na parede da entrada que toca quando nos aproximamos e, ao atendermos, falamos com a recepcionista. Num disseram-me para voltar às dez da noite que me alugariam o quarto até às oito da manhã enquanto uma simpática mulher me informou pelo telefone que não estava autorizada a alugar quartos a pessoas só.
- Não quer então passar lá a noite comigo? Ainda nos rimos ao telefone.
Fui andando às voltas nesta zona horrível onde cada bomba de gasolina tinha um guarda de metralhadora, com um aspecto pior que qualquer possível assaltante. Passaram duas horas totalmente perdido, com cada pessoa a indicar-me um caminho diferente. Pelo meio apanhei engarrafamentos com as camionetas de transporte de passageiros Guatemaltenhas, que são dos anos sessenta e provocam uma poluição impressionante. Ás tantas entrei numa vila de ruas empedradas em tão mau estado quanto as casas. Tudo podre e com um aspecto assustador. Pelas nove da noite fiquei com fome e decidi parar num restaurante de frangos para jantar. Não tinha mau aspecto e as empregadas eram simpáticas mas, pela primeira vez nesta minha viagem, apanhei uma intoxicação com esse jantar.
Depois do jantar consegui encontrar o caminho de volta a Guatemala. Não estava longe. Andei uma hora à procura de um Hotel com um preço decente e todos eles me diziam: “se quer barato tem que ir para a Zona 1 mas recomendamos vivamente que não vá para lá de noite”. Acabei por me instalar no mesmo da noite anterior, junto ao concessionário Honda, de onde tinha saído cinco horas antes.
Dormi mal com a intoxicação e no dia seguinte acabei por sair a caminho da fronteira com San Salvador, a uns 180 Km de ali, só pelo meio dia, já em muito melhor estado. Parei já perto da fronteira para beber uma Coca Cola. A fila de camiões para passar a fronteira tinha nada menos que sete quilómetros. Quando estava a percorre-la um homem numa destas monocilindricas de 100 c.c. fez-me sinal para parar. Tinha um boné enfiado na cabeça virado para trás e, por cima, um capacete de plástico a que lhe tinha cortado a parte traseira para não interferir com a pala do boné. Ofereceu-se para me tratar da papelada para passar ambas as fronteiras, de saída de Guatemala e entrada em El Salvador, por 20  dólares. Aceitei a proposta e lá o segui a meia dúzia de quilómetros através dos camions estacionados, que por vezes ali passam três dias.


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