Quando regressei do lago Atitlán à cidade de Guatemala fui direito ao
concessionário Honda onde tinha marcado uma reparação da suspensão para o dia
seguinte. Fiquei impressionado com a dimensão e o movimento. O departamento
automóvel estava repleto de carros novos à espera de serem entregues e, na
parte das motos, só do modelo Africa Twin tinham doze em stock. O director da
concessão contou-me no dia seguinte que na semana em que começaram a
comercializar o modelo venderam 20. Tenho impressão que em Portugal não há
tanto movimento no país inteiro. E isto é supostamente um país pobre, com
poucos mais habitantes que nós, quinze milhões.
Combinei estar lá no dia seguinte às oito da manhã e indicaram-me um Hotel
relativamente barato por perto.
Ajudei o excelente mecânico a fazer a reparação e aproveitei para mudar pastilhas
de travão e o óleo do diferencial que pensava nunca ter sido mudado mas que,
pelo seu estado, constatei que o teriam feito quando passei na fábrica, no
Japão.
Deixei as instalações já perto das seis da tarde e decidi sair da cidade
para no dia seguinte de manhã não ter que fazer a muito movimentada estrada que
sai para Sudeste a caminho de El Salvador. O mecânico que trabalhou na minha
moto tinha-me dito que havia uma cidade a pouco mais de meia hora de caminho
onde encontraria hotéis. Só que, quando achei que já tinha passado a referida
cidade, perguntei por hotéis e começaram a indicar-me estradas secundarias.
Ficou noite e acabei por me perder. Estes arredores de Guatemala são sinistros
e os únicos hotéis que encontrava eram Moteis de estrada destes com quartos
alugados à hora, que não queriam perder tempo e dinheiro com um cliente que
vinha para passar a noite toda. Para manter a discrição dos clientes existe um
telefone na parede da entrada que toca quando nos aproximamos e, ao atendermos,
falamos com a recepcionista. Num disseram-me para voltar às dez da noite que me
alugariam o quarto até às oito da manhã enquanto uma simpática mulher me
informou pelo telefone que não estava autorizada a alugar quartos a pessoas só.
- Não quer então passar lá a noite comigo? Ainda nos rimos ao telefone.
Fui andando às voltas nesta zona horrível onde cada bomba de gasolina tinha
um guarda de metralhadora, com um aspecto pior que qualquer possível assaltante.
Passaram duas horas totalmente perdido, com cada pessoa a indicar-me um caminho
diferente. Pelo meio apanhei engarrafamentos com as camionetas de transporte de
passageiros Guatemaltenhas, que são dos anos sessenta e provocam uma poluição
impressionante. Ás tantas entrei numa vila de ruas empedradas em tão mau estado
quanto as casas. Tudo podre e com um aspecto assustador. Pelas nove da noite
fiquei com fome e decidi parar num restaurante de frangos para jantar. Não
tinha mau aspecto e as empregadas eram simpáticas mas, pela primeira vez nesta
minha viagem, apanhei uma intoxicação com esse jantar.
Depois do jantar consegui encontrar o caminho de volta a Guatemala. Não
estava longe. Andei uma hora à procura de um Hotel com um preço decente e todos
eles me diziam: “se quer barato tem que ir para a Zona 1 mas recomendamos
vivamente que não vá para lá de noite”. Acabei por me instalar no mesmo da
noite anterior, junto ao concessionário Honda, de onde tinha saído cinco horas
antes.
Dormi mal com a intoxicação e no dia seguinte acabei por sair a caminho da
fronteira com San Salvador, a uns 180 Km de ali, só pelo meio dia, já em muito
melhor estado. Parei já perto da fronteira para beber uma Coca Cola. A fila de
camiões para passar a fronteira tinha nada menos que sete quilómetros. Quando
estava a percorre-la um homem numa destas monocilindricas de 100 c.c. fez-me
sinal para parar. Tinha um boné enfiado na cabeça virado para trás e, por cima,
um capacete de plástico a que lhe tinha cortado a parte traseira para não
interferir com a pala do boné. Ofereceu-se para me tratar da papelada para
passar ambas as fronteiras, de saída de Guatemala e entrada em El Salvador, por
20 dólares. Aceitei a proposta e lá o
segui a meia dúzia de quilómetros através dos camions estacionados, que por vezes
ali passam três dias.
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