1 de abril de 2017

Belize


Quando cheguei à fronteira com o Belize pensava que o país também tinha sido uma colónia espanhola como todos os outros por aqui, e portanto, quando o primeiro homem que encontrei na fronteira me perguntou se falava inglês disse-lhe que sim mas preferia falar em espanhol. Só quando fui ter com os segundos guardas percebi que pertenciam a uma ex-colónia inglesa. Até 1973 o país chamava-se British Honduras e só declarou independência em 1981. Pertencente à Commonwealth, a rainha de Inglaterra é a chefe de estado. As notas de banco são impressas com a sua cara.
Ao entrar no México por aquela terra sinistra no Norte do país, dominada pelos gangs das drogas, o guarda da fronteira, não sei se pensando que eu era Mexicano ou pertencente a algum dos grupos que lhe pagava o ordenado, mandou-me seguir sem sequer olhar para o meu Passaporte, quanto mais carimbá-lo. Em conversas que tive no país várias pessoas acharam a situação muito estranha pois eles normalmente não só carimbam o Passaporte, com um visto de estadia no país, como exigem que se deixe um depósito na fronteira de 450 Dólares pela entrada da moto, que só é devolvido à saída. Assim, calculava que iria ter problemas ao sair, quando vissem que não tinha carimbo de entrada. E assim foi. O primeiro guarda disse-me que não me podia deixar passar e que a única solução que conhecia na lei mexicana para o meu caso era a prisão. Pedi então para falar com o chefe. O guarda que me levou ao chefe preparou-me pelo caminho: “Se eu lhe conseguir resolver a situação vai ter que me dar um abono”.
O chefe tinha um ar bonacheirão, bem disposto e despachado e, pela cara com que me disse que só havia duas soluções que seriam a prisão ou uma multa de largos milhares de dólares, percebi que já estava a pensar numa terceira.
- “É que sem o carimbo de saída de aqui não o deixam entrar no Belize”, dizia-me.
Acabou por dizer ao guarda que me acompanhou para me colocarem um carimbo em como se eu fosse um Mexicano a emigrar, que me custaria 25 Dólares. Fiz cara de achar caríssimo e quando o guarda me levou de volta e pediu a comissão dele respondi-lhe:
- “Nem pensar. Então já viu que vou ter que pagar 25 dólares por uma situação pela qual não fui culpado”.
Na fronteira do Belize o problema foi o oposto. Quando mostrei à menina um papel impresso com o selo branco do ACP, dirigido às autoridades alfandegárias do Belize com a autorização da Honda Portugal para eu utilizar a moto, estranhou e não me queria passar o papel de entrada.
- Mas qual é o problema?
- O problema é que eu acho estranho o senhor ter isto tão organizado, com um papel dirigido a cada país por onde passa.
Mas com mais dois dedos de conversa lá passou o papel de importação temporária da moto e carimbou o Passaporte.
Aqui sente-se a influência inglesa pois foi dos poucos países que me exigiram que fizesse um seguro local para a moto.
- “E como é a estrada que vai para Belize City”?, perguntei ao homem dos seguros.
- “É alcatroada"
- “Ah, sim senhor”
É a principal estrada do país e só tem uma faixa para cada lado, sem bermas pavimentadas, mas pelo menos estava remendada nos pontos mais fracos. Cerca de cento e cinquenta quilómetros depois estava em Belize City. A cidade é relativamente pequena, assim como o país que não tem mais de 300 Km de comprimento por 110 de largura e pouco mais de 350.000 habitantes. Tem das maiores taxas de criminalidade do mundo mas mesmo assim inferior à dos vizinhos Guatemala, El Salvador e Honduras.
Belize City não é a capital mas a maior economicamente e tem quatro vezes mais habitantes que Belmopan. Tem poucos prédios, com os únicos que existem a não terem mais de dois ou três andares. A maioria das ruas, que não têm os nomes gravados, é ladeada de velhas casas em madeira, quase todas herdadas dos ingleses. Fiquei em casa do Cônsul Português, um homem de negócios local, com uma boa casa com piscina e ancoradouro para o barco, fora do centro.   

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