Quando cheguei à fronteira com o Belize pensava que o país também tinha
sido uma colónia espanhola como todos os outros por aqui, e portanto, quando o
primeiro homem que encontrei na fronteira me perguntou se falava inglês
disse-lhe que sim mas preferia falar em espanhol. Só quando fui ter com os
segundos guardas percebi que pertenciam a uma ex-colónia inglesa. Até 1973 o
país chamava-se British Honduras e só declarou independência em 1981. Pertencente
à Commonwealth, a rainha de Inglaterra é a chefe de estado. As notas de banco
são impressas com a sua cara.
Ao entrar no México por aquela terra sinistra no Norte do país, dominada
pelos gangs das drogas, o guarda da fronteira, não sei se pensando que eu era
Mexicano ou pertencente a algum dos grupos que lhe pagava o ordenado, mandou-me
seguir sem sequer olhar para o meu Passaporte, quanto mais carimbá-lo. Em
conversas que tive no país várias pessoas acharam a situação muito estranha
pois eles normalmente não só carimbam o Passaporte, com um visto de estadia no
país, como exigem que se deixe um depósito na fronteira de 450 Dólares pela
entrada da moto, que só é devolvido à saída. Assim, calculava que iria ter
problemas ao sair, quando vissem que não tinha carimbo de entrada. E assim foi.
O primeiro guarda disse-me que não me podia deixar passar e que a única solução
que conhecia na lei mexicana para o meu caso era a prisão. Pedi então para
falar com o chefe. O guarda que me levou ao chefe preparou-me pelo caminho: “Se
eu lhe conseguir resolver a situação vai ter que me dar um abono”.
O chefe tinha um ar bonacheirão, bem disposto e despachado e, pela cara com
que me disse que só havia duas soluções que seriam a prisão ou uma multa de
largos milhares de dólares, percebi que já estava a pensar numa terceira.
- “É que sem o carimbo de saída de aqui não o deixam entrar no Belize”,
dizia-me.
Acabou por dizer ao guarda que me acompanhou para me colocarem um carimbo
em como se eu fosse um Mexicano a emigrar, que me custaria 25 Dólares. Fiz cara
de achar caríssimo e quando o guarda me levou de volta e pediu a comissão dele
respondi-lhe:
- “Nem pensar. Então já viu que vou ter que pagar 25 dólares por uma
situação pela qual não fui culpado”.
Na fronteira do Belize o problema foi o oposto. Quando mostrei à menina um
papel impresso com o selo branco do ACP, dirigido às autoridades alfandegárias
do Belize com a autorização da Honda Portugal para eu utilizar a moto,
estranhou e não me queria passar o papel de entrada.
- Mas qual é o problema?
- O problema é que eu acho estranho o senhor ter isto tão organizado, com
um papel dirigido a cada país por onde passa.
Mas com mais dois dedos de conversa lá passou o papel de importação
temporária da moto e carimbou o Passaporte.
Aqui sente-se a influência inglesa pois foi dos poucos países que me
exigiram que fizesse um seguro local para a moto.
- “E como é a estrada que vai para Belize City”?, perguntei ao homem dos
seguros.
- “É alcatroada"
- “Ah, sim senhor”
É a principal estrada do país e só tem uma faixa para cada lado, sem bermas
pavimentadas, mas pelo menos estava remendada nos pontos mais fracos. Cerca de
cento e cinquenta quilómetros depois estava em Belize City. A cidade é
relativamente pequena, assim como o país que não tem mais de 300 Km de
comprimento por 110 de largura e pouco mais de 350.000 habitantes. Tem das
maiores taxas de criminalidade do mundo mas mesmo assim inferior à dos vizinhos
Guatemala, El Salvador e Honduras.
Belize City não é a capital mas a maior economicamente e tem quatro vezes
mais habitantes que Belmopan. Tem poucos prédios, com os únicos que existem a
não terem mais de dois ou três andares. A maioria das ruas, que não têm os
nomes gravados, é ladeada de velhas casas em madeira, quase todas herdadas dos
ingleses. Fiquei em casa do Cônsul Português, um homem de negócios local, com
uma boa casa com piscina e ancoradouro para o barco, fora do centro.
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