Quando o concerto do Neil Young estava perto do fim e eu ainda noutro
planeta com aquilo tudo, um casal de namorados veio para o pé de mim. Ela era
gira, nos seus 37, 38 anos, cabelo curto e feições quase perfeitas. Pôs-se a
dançar ao meu lado e, às tantas, perguntou-me o nome e começou a bater o rabo
contra o meu ao som da música. Olhei para o namorado a ver se não estava a
levar a mal mas parecia não o afectar. Até que a rapariga se agarrou a mim e
assim ficou um momento. Depois, com a cara encostada à minha, disse-me ao ouvido:
- Não o posso largar porque você está a passar-me muita energia positiva.
- E o seu namorado não se importa que eu lhe passe toda essa energia
positiva?
- Não.
E afastando um pouco a cara e virando-a na direção da minha disse:
- Olhe para a lua. Não está linda? Parece que tem anéis à volta.
- Está
E beijamo-nos.
O namorado achou naturalíssimo. Sim, com aquela lua percebe-se.
Passámos a dançar agarrados um ao outro.
Quando o Neil Young acabou o espetáculo perguntou-me se não queria ir beber
um copo com eles mas achei melhor recusar.
Arranquei de Índio no dia seguinte, a caminho de Las Vegas.
A maior parte do trajeto é através de um espetacular deserto, num planalto
de terra com montanhas ao longe. A estrada tem pouco movimento e por vezes
passa junto a uma linha férrea onde comboios com quilómetros de comprimento,
por vezes com uma locomotiva em cada ponta, transportam centenas de
contentores.
Percorri pouco mais de 400 Km até Las Vegas. Cheguei ainda de dia, deixei a
moto no Hotel e fui até ao centro observar aquele folclore e deixar uns tostões
numa qualquer roleta.
Ainda a caminho do Hotel passei pela agora famosa Trump Tower e não resisti
parar, para tirar uma fotografia.
A cidade tem uma vida noturna que não para e os Hoteis/Casinos parecem
fazer concursos para ver qual é mais extravagante. O Bellagio tem um enorme
lago em frente onde centenas de repuxos de água parecem dançar ao ritmo da
música que passa nos altifalantes. O Mirage, para contrabalançar, inventou um
vulcão que entra em “erupção” a cada duas horas, expelindo fumo e enormes
labaredas, para delírio do povo. O Venetian tenta replicar Veneza, com Gôndolas
a passearem em canais criados para o efeito e uma arquitetura que imita velhos
palácios venezianos e que deve ter custado uma fortuna incalculável. No
interior, uma sala com pinturas tenta imitar a capela Cestina, para delírio dos
turistas chineses para quem as cópias são sempre melhores que os originais, por
serem novas e estarem em melhor estado. Ruas interiores replicam as de Veneza
com o teto pintado como um céu.
O Caesars Palace, por sua vez, imita Roma e à entrada tem uma estátua de
Julio Cezar enquanto uma charrete ao estilo das de corrida que víamos no
Ben-Hur, colocada no Hall de entrada, serve para os passeantes tirarem
fotografias.
Só me lembrava do meu pai, que odiava este género de coisas e quando as via
dizia ironicamente: “Ai, que interessante”.
Mas eu acho mesmo interessante. E o que tem graça é que toda a gente pode
andar a passear pelas recepções e átrios dos melhores hotéis, acabando por ser
uma espécie de feira gigante onde, nos túneis envidraçados que ligam os hotéis
ao outro lado das ruas, até mendigos se instalam a pedir esmola com frases em
cartões a contarem as suas tristes histórias. Um deles, sem rodeios,
justificava a esmola com um “sai caro estar agarrado ao crack”.
Nesta rua principal ou “strip” como lhe chamam, multidões movimentam-se de
hotel em hotel a ver a paisagem, ou as montras de lojas como as de Louis Vuitton,
Armani ou Tiffany’s ou a jogar nas centenas de máquinas, roletas e mesas de
bacará disponíveis. Não param de um lado para o outro. Temos a sensação de
estar numa feira de aldeia gigantesca em que o local tenta reproduzir o melhor
nível europeu, mas mais extravagante e caro, e os visitantes são do tipo
“profissional de feira de aldeia”, que vai a todas.
Ao ler esta crónica, só me ocorre um comentário: Only in America... Boas curvas!
ResponderEliminar