Já esperava um concerto fora do vulgar mas este superou em muito todas as
expectativas que pudesse ter. Ainda por cima, para ajudar à festa, estava uma
temperatura noturna ideal, dos seus 24, 25º, noites de lua cheia e montaram uma
aparelhagem de som fenomenal.
Quando entrei no recinto, na sexta feira pelas quatro e meia da tarde, a
gorducha que me controlou a pulseira virou-se para mim e disse:
“Wow. First row. You must be bloody rich, sucker” e levantou a mão para
bater contra a minha a rir-se.
“Enjoy the concert”
Começou com o Bob Dylan. “That guy is a character”. O tipo é
extraordinário. Maior que os Americanos todos juntos. E tem consciência disso.
Apresentou-se com um blazer manhoso que nem Zara, mas engomado, e umas calças
também pretas e de ar bera que lhe caíam pelas pernas abaixo e tinham a
extravagancia de serem à boca de sino e terem umas flores bordadas de lado. O
homem arrancou a cantar e tocar piano em pé com aquela voz única e um ar de “eu
já não tenho paciência para isto” mas nitidamente a gostar de estar perante
80.000 pessoas.
Continuou, trocando por diversas vezes o piano por uma viola ou a sua
famosa gaita mas não deu confiança a ninguém e, ao longo do concerto ou mesmo
no fim, não disse um obrigado ou teve qualquer conversa com o publico, ao
contrario de todos os outros artistas. Ficamos com a sensação que ele acha
graça ir ali tocar mas não dá confiança aquela multidão de analfabetos que
estão longe de perceber a sua poesia, como foi considerada e muito bem, pelos
júris do Nobel. Aliás a grande maioria dos Americanos não deu grande
importância a este prémio Nobel pela simples razão que não fazem ideia do que
seja.
Quando chegou a hora de se ir embora juntou os músicos que tocaram com ele
e a sua forma de agradecer foi ficar em pé, por uns segundos, a olhar para o
publico, sem dizer uma palavra. Extraordinário. Adorei.
Vi os Rolling Stones pela primeira vez, em Londres, há mais de trinta anos,
quando se dizia: Vamos vê-los porque estão velhos, já têm mais de 40 anos, e
este deve ser o ultimo concerto que dão. Ninguém acreditaria que trinta anos
mais tarde, mesmo com a ajuda de umas vozes jovens, conseguiriam dar um espetáculo
fantástico como o que deram, com o Mick Jaeger a continuar a saltar e dançar
pelo palco fora, embora a ter que beber água o tempo todo e descansar de vez em
quando, enquanto um surpreendente Keith Richards que já pouco mais faz que barulho
com a sua guitarra, cantou duas músicas com uma voz muito melhor do que alguma
vez se esperaria de um homem que parece estar com os pés para a cova há vinte
anos. Fantásticos. Grande show.
O Roger Daltrey, dos Who, estava há menos de uma semana entubado no hospital,
como contou o Pete Townshend, mas apresentou-se em palco com uma energia para
dar e vender e a atirar o microfone ao ar, vezes sem conta, ao bom estilo do
nosso Marco Paulo. Giríssimo. O Pete Townshend continua a ser um dos melhores
guitarristas da atualidade. Sensacionais.
O Paul Mc Cartney também montou um espetáculo fenomenal, felizmente muito
agarrado aos velhos temas dos Beatles.
Estes dois foram quem mais encheu as medidas aos americanos, que dançaram e
cantaram as velhas músicas dos Who e Beatles apaixonadamente.
Mas o melhor do fim de semana foram os dois de que ainda não falei.
Os Plink Floyd dos dias de hoje conseguem superar os originais a tocarem as
mesmas fabulosas músicas. O Roger Waters monta um espetáculo de som e imagem
único, junta duas vozes de coro femininas do outro mundo e músicos ao melhor
nível, enquanto ele mantém a mesma voz inconfundível. Tudo isto com uma
aparelhagem de som quarenta anos à frente. Duvido que o David Gilmore se
consiga sequer aproximar do nível a que assistimos no fim de semana. Foi uma
coisa de outro planeta. Absolutamente
extraordinário.
Finalmente Neil Young. Era, talvez, o único ídolo que tinha na música da
minha juventude. Nunca tinha assistido a um concerto dele. Quando começou a
cantar e tocar não queria acreditar. O homem canta e toca como o fazia há
quarenta anos. Absolutamente único.
Quando ele começou a cantar lágrimas de emoção começaram a cair-me pela
cara e não pararam durante mais de metade do concerto. Nem sabia que tinha
tantas lágrimas. E não tinha fumado nada, a não ser como fumador passivo. Tocou
as três primeiras músicas sozinho e, depois, foi acompanhado por outros três
guitarristas dois dos quais, ainda miúdos, estavam entre os quatro melhores do
fim de semana, grupo onde estava incluído ele próprio, evidentemente. Foram duas
horas extraordinárias que vão ficar na minha memória para sempre.
Extraordinário Chico!! Só,por isso já valeu a pena dar a volta ao mundo!! Na próxima vou contigo só para assistir a esse concerto.......Abraço!
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