No Hostel, em San Diego, conheci uma miúda Coreana muito simpática. Quando
arranquei ela veio despedir-se junto da moto. Trocámos contactos mas não nos
pensávamos voltar a ver tão cedo. Ela também ia para Los Angeles nesse dia mas
para o outro lado da cidade e não a podia levar na moto porque não tinha espaço
para a sua enorme mala nem capacete.
Chegado a Los Angeles, depois de almoçar às quatro da tarde, fui deixar as
coisas ao Hotel e tratei de ir buscar as encomendas que tinham chegado a casa
de um amigo. Ao final da tarde decidi ir visitar o Observatório Astrológico de
LA que, para além de ser muito interessante, tem uma vista fantástica sobre a
cidade por ser no alto de um monte. Qual não foi o meu espanto quando, ao
preparar-me para arrancar, já de noite, encontrei a Tim, com duas amigas,
também a acabarem de visitar o Observatório. O mundo é pequeno.
Já tinha ouvido falar, quando ainda estava em Portugal, de um concerto que
haveria em Índio, na Califórnia, por esta altura do ano, com um elenco de
cortar a respiração. No mesmo fim de semana tocavam Bob Dylan, The Rolling
Stones, Neil Young, Paul Mc Cartney, The Who e Pink Floyd. O preço dos bilhetes
era pornográfico mas pensei o que depois disse Mick Jaeger durante o concerto:
que este concerto não se deveria chamar “Desert Trip” como lhe chamaram mas
sim: “Concerto do vamos lá vê-los antes que eles batam a bota”.
De facto todos os artistas tinham mais de 70 anos e certamente não haverá
outra oportunidade de os juntar. Arranjei um bilhete nas primeiras filas e
arranquei para Índio. Os Hoteis estavam esgotados e só consegui arranjar um em
Yucca Valley, a 75 Km do local do concerto.
Saí de Los Angeles ao final da manhã duma sexta feira, primeiro dia de
concerto, e comecei por ir a Yucca Valley, no Joshua Tree National Park, fazer
o check in e deixar as malas.
Quando deixamos LA para Oriente, passados uns 60 Km, entramos num deserto
de terra, com muito pouca vegetação, rasteira, a via rápida a passar numa
planície entre montanhas. É uma paisagem fantástica. Na zona de onde sai o
desvio para Joshua Tree National Park, a uns 200 Km de LA, talvez por as
montanhas formarem uma espécie de funil, originando um efeito de venturi, o
vento aumenta muito de intensidade. É uma planície com uns cinco quilómetros de
largura que temos que atravessar. Devido às condições de vento montaram ali um
parque eólico mas, à boa maneira americana, não tem meia dúzia de ventoinhas,
como vemos por aí, mas centenas delas numa área relativamente pequena. Parece uma
paisagem assustadoramente futurista: imaginamos um mundo deserto, cheio de ventoinhas silenciosas a produzirem
eletricidade, sem clientes para a consumirem.
Entrei nessa recta, que atravessa para as montanhas a Norte e apanhei o
vento mais forte que alguma vez tinha apanhado de moto. A moto, acentuadamente
inclinada para a esquerda na recta, abanava com as rajadas e fazia-me varrer a
faixa de rodagem. Tive que reduzir a velocidade para pouco mais de 80 Km/h.
Quando estava a percorrer esta recta já pensava o que seria atravessá-la
nos próximos três dias, às duas da manhã, de regresso ao Hotel depois dos
concertos. Por acaso acabou por não ser tão mau como estava à espera porque
fui-me habituando ao tratamento que me esperava todas as noites. E, depois das
sensações extraordinárias por que passei naqueles concertos, este trajeto
passou a ser um contratempo sem grande importância.
Este Joshua Tree National Park é uma parte deste deserto que, por ser num
planalto com temperaturas mais amenas, tem a particularidade de ali crescerem
estas árvores que só se dão nas terras mais altas desta zona do mundo,
existindo ainda noutros três estados americanos vizinhos. O nome Joshua Tree
foi-lhe dado pelos Mormon, quando atravessaram esta zona em meados do século
XIX, por lhes fazer lembrar uma pose de prece do profeta Joshue, discípulo de
Moisés.
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