23 de outubro de 2016

Joshua Tree National Park





No Hostel, em San Diego, conheci uma miúda Coreana muito simpática. Quando arranquei ela veio despedir-se junto da moto. Trocámos contactos mas não nos pensávamos voltar a ver tão cedo. Ela também ia para Los Angeles nesse dia mas para o outro lado da cidade e não a podia levar na moto porque não tinha espaço para a sua enorme mala nem capacete.
Chegado a Los Angeles, depois de almoçar às quatro da tarde, fui deixar as coisas ao Hotel e tratei de ir buscar as encomendas que tinham chegado a casa de um amigo. Ao final da tarde decidi ir visitar o Observatório Astrológico de LA que, para além de ser muito interessante, tem uma vista fantástica sobre a cidade por ser no alto de um monte. Qual não foi o meu espanto quando, ao preparar-me para arrancar, já de noite, encontrei a Tim, com duas amigas, também a acabarem de visitar o Observatório. O mundo é pequeno.
Já tinha ouvido falar, quando ainda estava em Portugal, de um concerto que haveria em Índio, na Califórnia, por esta altura do ano, com um elenco de cortar a respiração. No mesmo fim de semana tocavam Bob Dylan, The Rolling Stones, Neil Young, Paul Mc Cartney, The Who e Pink Floyd. O preço dos bilhetes era pornográfico mas pensei o que depois disse Mick Jaeger durante o concerto: que este concerto não se deveria chamar “Desert Trip” como lhe chamaram mas sim: “Concerto do vamos lá vê-los antes que eles batam a bota”.
De facto todos os artistas tinham mais de 70 anos e certamente não haverá outra oportunidade de os juntar. Arranjei um bilhete nas primeiras filas e arranquei para Índio. Os Hoteis estavam esgotados e só consegui arranjar um em Yucca Valley, a 75 Km do local do concerto.
Saí de Los Angeles ao final da manhã duma sexta feira, primeiro dia de concerto, e comecei por ir a Yucca Valley, no Joshua Tree National Park, fazer o check in e deixar as malas.
Quando deixamos LA para Oriente, passados uns 60 Km, entramos num deserto de terra, com muito pouca vegetação, rasteira, a via rápida a passar numa planície entre montanhas. É uma paisagem fantástica. Na zona de onde sai o desvio para Joshua Tree National Park, a uns 200 Km de LA, talvez por as montanhas formarem uma espécie de funil, originando um efeito de venturi, o vento aumenta muito de intensidade. É uma planície com uns cinco quilómetros de largura que temos que atravessar. Devido às condições de vento montaram ali um parque eólico mas, à boa maneira americana, não tem meia dúzia de ventoinhas, como vemos por aí, mas centenas delas numa área relativamente pequena. Parece uma paisagem assustadoramente futurista: imaginamos um mundo deserto,  cheio de ventoinhas silenciosas a produzirem eletricidade, sem clientes para a consumirem.
Entrei nessa recta, que atravessa para as montanhas a Norte e apanhei o vento mais forte que alguma vez tinha apanhado de moto. A moto, acentuadamente inclinada para a esquerda na recta, abanava com as rajadas e fazia-me varrer a faixa de rodagem. Tive que reduzir a velocidade para pouco mais de 80 Km/h.
Quando estava a percorrer esta recta já pensava o que seria atravessá-la nos próximos três dias, às duas da manhã, de regresso ao Hotel depois dos concertos. Por acaso acabou por não ser tão mau como estava à espera porque fui-me habituando ao tratamento que me esperava todas as noites. E, depois das sensações extraordinárias por que passei naqueles concertos, este trajeto passou a ser um contratempo sem grande importância.
Este Joshua Tree National Park é uma parte deste deserto que, por ser num planalto com temperaturas mais amenas, tem a particularidade de ali crescerem estas árvores que só se dão nas terras mais altas desta zona do mundo, existindo ainda noutros três estados americanos vizinhos. O nome Joshua Tree foi-lhe dado pelos Mormon, quando atravessaram esta zona em meados do século XIX, por lhes fazer lembrar uma pose de prece do profeta Joshue, discípulo de Moisés.

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