Deixei Las Vegas a caminho do Grand Canyon, visita obrigatória a cerca de
400 Km da capital do jogo. Decidi ir pela estrada principal que segue pelo Sul
e voltar pelo Norte. A estrada através do deserto é linda com planícies
gigantescas e enormes escarpas ao fundo com cores alaranjadas. Tinha reservado
Hotel em Flagstaff, a Sul do Grand Canyon.
No dia, seguinte antes de visitar aquele impressionante vale, fui até
Sedona, um menos espetacular a 50 Km de Flagstaff mas que tem a vantagem de ter
uma estrada a passar no fundo do vale e é diferente porque tem vegetação. Aqui
estamos na parte do Arizona que é junto a território Índio e alguns deles vêm
vender o seu artesanato num dos pontos de vista no alto do vale. À conversa com
um deles quis confirmar.
-You’re Indian aren’t you?
- I’m Navajo. We are not Indians. Indians are the people from India. We’re
Native Americans.
E ele tem razão. Não faz muito sentido chamá-los Indios que foi o que
Colombo lhes chamou quando chegou ao território e pensou que tinha chegado à
India.
Almocei num simpático restaurante com vista espetacular sobre aquelas
escarpas que nos lembram os filmes de cowboys dos anos sessenta e setenta.
Quando estava à mesa um homem veio apresentar-se:
- Olá. Eu sou o dono daquela Ducati.
Ficámos à conversa. Ele tinha uma coleção de Ducatis de entre as quais a
original de TT que se classificou em segundo lugar no Dakar de 92, que acabou
em Kape Town.
Participei nesse Dakar, contei-lhe. Com um carro de fabrico português.
-Really???
Da parte da tarde fui até ao Grand Canyon. Era mais longe to que estava à
espera e cheguei já perto das cinco da tarde. Aliás aqui nos Estados Unidos
tudo é mais longe do que estamos à espera. Olhamos para o mapa e vemos as
distancias em milhas e tudo parece perto mas quando nos pomos à estrada nunca
mais chegamos aos destinos.
Fiquei verdadeiramente impressionado com o Grand Canyon. Aquele vale, de
dimensões gigantescas, foi cavado na rocha pelo leito de um rio durante séculos,
abrindo uma enorme racha no planalto. A vista cá de cima é absolutamente
deslumbrante.
Nesse dia acabei por ficar a dormir num Hotel lá junto porque era tarde
para seguir viagem. De manhã voltei aos mesmos pontos de vista porque queria
vê-los com outra luz e depois segui pela estrada 64, que dá a volta ao Grand
Canyon pelo Norte, voltando depois ao deserto profundo do Arizona. Rodei até ao
fim da tarde e, quando dei por mim, tinha percorrido 600 Km, primeiro através do
deserto, depois por uma parte montanhosa com árvores e os últimos 50 Km numa
via rápida que me levou a Cedar City, no Utah.
No dia seguinte de manhã voltei a arrancar cerca das 11 horas, sempre com
bom tempo nesta parte do país, felizmente. As temperaturas têm andado entre os
20 e os 30º e só nas partes mais altas apanhei por vezes 14 ou 15º. Estou nos
Estados Unidos já há vinte dias e ainda não apanhei um dia de chuva. Mas agora
estou a caminho do Norte e certamente será diferente.
Tinha rodado cerca de duas horas na movimentada via rápida que desce para
Las Vegas quando entrei numa bomba de gasolina e conheci dois franceses muito
simpáticos que estavam a atravessar os Estados Unidos de bicicleta, a partir de
Nova Iorque, já há dois meses. Ficámos mais de uma hora à conversa, trocámos
contactos, tirámos umas fotografias e continuei viagem para sul.
Uns 50 Km depois passei junto ao Speedway de Las Vegas e não resisti parar.
Não havia corridas no fim de semana mas estavam várias dezenas de camiões
estacionados no padock e fui até lá tirar umas fotografias e perguntar porque
estavam ali. Eram transportes de equipas de Dragsters e tinham vindo de uma
corrida no Texas. Estavam ali para a corrida que haveria no fim de semana
seguinte. “Por enquanto só cá estamos cerca de metade” disse-me um dos
condutores dos camiões.
Passei depois junto a Las Vegas e desviei para NW a caminho do Death
Valley. Passados uns 20 ou 30 Km entrei numa zona de deserto mais isolado.
Tinha passado por um placard que anunciava que não haveria gasolina durante
duas horas e meia mas não liguei muito ao assunto até porque ainda tinha
bastante. Só que aquele deserto começou a ficar verdadeiramente isolado, com
muito poucos carros a circularem em qualquer dos sentidos. Andei quase 200 Km e
a única construção que vi foi uma prisão com um placard junto à estrada que
anunciava ser proibido pedir boleia naquela zona. Será que a ideia era não
darem boleia a algum preso que se evadisse?
Quando nessa manhã tinha procurado um Hotel na zona através da internet não
tinha encontrado nada mas achei que certamente, no local, iria encontrar algum
sítio onde ficar. Pelas cinco da tarde comecei a ficar um pouco preocupado, até
porque tinha pouca água comigo e nada que comer. Pensei que, em ultimo caso,
teria que parar antes de anoitecer para poder montar a tenda na borda da
estrada. Entretanto a estrada deixava a grande planície e entrava por uma zona
de serra deserta mas sempre sem se ver vivalma, qualquer construção e só um ou
outro carro a passarem de longe em longe.
Eram seis e meia da tarde quando, já com 430 Km feitos nesse dia vi o que
pareceu ser uma bomba de gasolina ao longe. Era mesmo. Foi como se tivesse
encontrado um oásis a meio de uma travessia do Sahara. Havia também um pequeno
mercado onde me pude abastecer de água e comer um gelado. Pertencia a uma
família de Indianos que para ali se tinham mudado há duas semanas. Felizmente.
O Indiano era simpático e tratou de ligar para um Hotel 30 Km à frente, o
único na zona, que felizmente tinha vagas. Depois, quis ir ver a moto.
Contei-lhe que tinha estado na Índia e que de cada vez que estacionava
juntava-se uma multidão à volta da moto. E que por todo o lado a pergunta que
me faziam era não a potencia ou cilindrada da moto mas quanto custava.
-Ai, sim? E quanto custa?
Vivia há 25 anos nos Estados Unidos mas ainda era sangue Indiano que lhe
corria nas veias.
esta viagem não pode acabar. como esta é uma realidade que me é familiar estou completamente «agarrada» e, claro está, divertidíssima. beijinhos x
ResponderEliminarHa, ha. Obrigado Ana Teresa. Beijinhos
EliminarMuito bom...
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