10 de novembro de 2014

Sepang



Quando cheguei ao circuito de Sepang não tinha passe para entrar no “padock” que era onde me interessava ir mas, como bom português, convenci os vários porteiros a deixarem-me passar e, já lá dentro, fui ter com o Miguel Oliveira, o piloto português que corre nas moto3, que tratou de me arranjar um passe.
Fui depois falar com o diretor da equipa Honda de motogp para tentar organizar uma fotografia onde estivesse eu, a moto e os pilotos da marca. Ele concordou com a ideia e pediu ao Marquez e ao Pedrosa para, ao saírem do circuito fazerem a fotografia comigo e a moto, que entretanto fui buscar para dentro do “padock”.
As corridas foram espetaculares e só foi pena o Miguel ter caído na primeira volta das moto3. O Marquez voltou a ganhar nas motogp e o Rossi, com o mesmo entusiasmo dos miúdos de vinte anos, ficou em segundo.
Quanto às motogp em si cada vez que as vejo fico impressionado com a sua aceleração e velocidade em recta, superiores às de um Formula 1.
No Domingo voltei a jantar no “Hard Rock”, especialmente animado no fim de semana de motogp, e segunda feira ainda fiquei por Kuala Lampur para visitar as Batu Caves, umas grutas naturais enormes à entrada da cidade. Desiludiram-me pelo mal tratadas e sujas que estão. Fui ainda procurar uns pneus novos para a moto, que os de tacos que tinha montado na Índia e que tanto jeito deram estavam no fim, mas não os consegui encontrar.
Arranquei assim na terça para Malaca com a curiosidade de constatar se ainda haveria algo de português na cidade que Afonso de Albuquerque conquistou em 1511 e que se manteve em nossa posse até os holandeses nos terem de lá corrido, 130 anos depois.
Quando cheguei dei uma volta pela cidade e parei quando vi um chamado Portugis Hotel, com as cores da nossa bandeira à porta. Embora fosse uma espelunca e a dona chinesa, a mulher foi simpática e achou graça eu ter vindo de Portugal na moto de maneira que me fez um preço especial e por ali me instalei.
O Hotel, de tectos baixos, tinha alguns móveis bons mas mau aspecto e sujidade por todo o lado.
A chinesa recomendou-me o Spa do primeiro andar e deu a entender que a massagista de serviço fazia mais que massagens.
Perguntei-lhe o que havia mais de Portugal em Malaca e indicou-me um bairro vizinho de descendentes de portugueses.
Estava a dar uma volta pelo bairro de fraca qualidade de construção quando parei, junto ao mar e de dois homens sentados no que já teriam sido bons sofás, agora apodrecidos pela exposição aos elementos, debaixo de um telheiro no que parecia ser um poiso habitual. Perguntei-lhes se havia alguma sede portuguesa e um deles, quando lhe disse que era português, pediu para me sentar ao lado dele e começou a falar comigo em português, não perfeito mas compreensível.
O seu nome era Jorge Alcântara e era descendente dos portugueses que cá tinham ficado no século XVI. Disse-me que a língua tinha passado através das gerações e ele também a ensinara aos filhos de maneira que em casa falavam sempre em português.
A comunidade de descendentes são cerca de 1200 pessoas, a maioria já com muitas misturas de raças, como é nosso costume.
Estivemos ali uma meia hora à conversa e depois ele pediu a um amigo, também supostamente português mas que falava muito pouco, para me guiar na sua “scooter” até à sede do “Portuguese Settlement”, um local com um ar decrépito, um restaurante chamado Lisbon mas onde as refeições são Malaias, e um Museu com meia dúzia da tarecos. O que foi um Lisbon Hotel, com bom aspecto, só durou dois anos como Hotel e foi depois vendido a uma Universidade que lecciona ali.
A presença portuguesa em Malaca neste século XXI tem um ar bastante miserável mas pelo menos existe e resistiu 500 anos. Para além disso algumas das nossas palavras ficaram na língua Malaia, como Escola ou Manteiga.
Almocei no restaurante do “Portuguese Settlement” pelas quatro e meia da tarde uns bons camarões em molho de ananás muito pouco portugueses e regressei ao Hotel.
Pelas nove da noite decidi ir jantar só uma sopa porque tinha almoçado já tarde.
Recomendaram-me um restaurante perto onde pedi a única sopa disponível, com esparguete.
“E para beber?”
“Um sumo natural”
“Isso não temos”
“Então o que têm?”
“Água, sumos enlatados ou chá de ervas”
Um pouco contrariado optei pelo chá de ervas. Quando o criado me perguntou se queria quente ou frio preferi quente por ter medo de beber água neste sítios sem ser fervida.
Sabem quando os criados, satisfeitos, nos dizem: “boa escolha”?
Neste caso o homem olhou para mim com a cara exatamente contrária, como quem procura uma expressão de lucidez na minha face sem conseguir encontrar.
Quando chegou o que tinha encomendado percebi a razão de me considerar maluco. É que o caldo da sopa que vinha na tijela com o esparguete e o chá quente, servido no copo, eram exatamente o mesmo líquido.
Pus umas pingas de picante na sopa para lhe mudar um pouco o sabor e lá bebi esse chá à colher e o outro pelo copo sem me queixar.



2 comentários:

  1. Esse estilo para chegar ao Paddock não é de bom português, que eu não conseguiria entrar de certeza, é estilo à Sande e Castro!

    Viu a fortaleza de Malaca, a Famosa, da qual só resta a Porta de Santiago?

    Boa viagem, Ana

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  2. Não porque só soube quando já tinha partido mas pelo que vi de fotografias recentes acho que nem a porta existe. Só resta um pequeno pedaço de fortaleza.

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