Arranquei perto
do meio dia com a ideia de fazer tranquilamente os 150 Km que me separavam de
Bandung até às quatro ou cinco da tarde.
Só que não previ
a loucura que é sair de Jakarta sem poder entrar na auto estrada pois as motos
estão proibidas de as usar na Indonésia. É que esta ilha de Java que, não sendo
a maior é a mais populosa, tem 140.000 Km2 ou seja, um tamanho de cerca de uma
vez e meia a área de Portugal e nada menos que 135 milhões de habitantes que
parecem ter cada um uma “scooter” ou moto de 125 c.c.
É a loucura
total. Passadas duas horas de um para arranca entre milhares de motos e carros,
debaixo de uma temperatura de 38º, com uma humidade altíssima e níveis de
poluição assustadores, comecei a sentir as mesmas tonturas que tinha tido uma
vez na Índia que acho se devem a uma baixa tensão. Parei para descansar uma
meia hora durante a qual bebi um litro de água e fiquei novo.
Pelo caminho
apanhei, por sorte, a feira de antiguidades da Jalan Surabaya que é fantástica.
Um dos comerciantes, enquanto me mostrava um maravilhoso escafandro, réplica dos
utilizados pela marinha Norte americana durante a segunda grande guerra,
cotava-me que já tinha tido a visita dos Clinton’s e de Mick Jaeger, por mais
que uma vez.
Tinha deixado a
feira há pouco quando um miúdo numa 125 meteu conversa nuns sinais luminosos.
Perguntou-me de onde vinha e quando lhe disse Portugal ficou espantado por eu
vir sozinho: “Alone? Crazy, crazy”.
Achei graça ao
miúdo e quando nos sinais seguintes me perguntou se não queria ir até casa dele
que era ali perto, imaginei uma mãe a cozinhar um almoço maravilhoso e disse-lhe
que sim. O miúdo dos seus vinte anos foi então à minha frente a afastar o
transito em sinais com as mãos e pernas, tanto o que vinha no nosso sentido
como em sentido contrário, qual policia motorizado.
Levou-me por umas
ruas estreitas até um beco onde vivia. Entrámos então numa barraca com três pequenas
divisões onde morava com um casal amigo. Na primeira divisão estavam uma moto e
uma scooter meia desmontadas e com peças amontoadas no meio de muita tralha. A
divisão seguinte era o quarto onde dormia o casal amigo com um colchão no chão,
lençóis revoltos com ar muito sujo, vários cinzeiros cheios de beatas e papéis
e lixo à volta. Não teria mais de dois metros por três e o único sítio sem ser
o colchão do casal onde alguém se pudesse sentar era uma almofada onde
descansava um rafeiro, com três meses de idade, a quem tinha caído o pelo quase
todo e que os amigos do rapaz disseram ter sido causado por uma alergia. A
miúda da casa deu uma limpeza rápida no cubículo, que consistiu em levar os
cinzeiros lá para fora e amontoar a um canto papéis e lixo e ficámos os quatro
ali em pé à conversa, pois a divisão seguinte era a cozinha que calculo fosse
também quarto do rapaz e onde não me atrevi a entrar.
Ofereceram-me
café mas disse que tinha acabado de beber muita água e tinha que voltar à estrada
para tentar chegar ainda de dia a Bandung.
Depois de uma
sessão fotográfica na barraca e junto à moto lá consegui arrancar, novamente
guiado por este amigo com vocação para polícia de transito a quem desta vez
recomendei que não mandasse afastar os outros carros do meu caminho pois dava muito
nas vistas.
Voltei ao inferno
do transito Indonésio onde não se vêm tantos camiões como na Índia mas muitas mais
motos que parecem um enxame de abelhas a atacar quem lhes foi ao mel.
Só tinha tomado o
pequeno almoço às dez da manhã mas durante o dia não passei por nenhum
restaurante com aspecto minimamente limpo onde me apetecesse almoçar de maneira
que às cinco da tarde começou a chover e decidi
parar numa destas tascas de beira de estrada. Um simpático velho
disse-me que pusesse a moto abrigada da chuva quase dentro da tasca e a mulher
veio perguntar o que queria. Em cima da mesa tinham uns peixes e outros fritos
com aspecto de terem passado pela frigideira há mais de um mês de maneira que
lhe pedi quatro bananas que vi a um canto e um chá que me soube
maravilhosamente.
Quando arranquei
estava a ficar noite e ainda faltavam 80 Km para Bandung que com aquele
transito e estradas esburacadas era coisa para me levar a fazer em duas horas
de maneira que, ao cheguei à próxima cidade, Cikampek, procurei um Hotel no GPS
que me encaminhou para o único existente na zona. Não é dos piores onde tenho
ficado e o pessoal é simpático.
Perigoso, é perigoso ir assim com qualquer um para qualquer casa. Perigoso!
ResponderEliminarnão lhe ensinaram isso?
Cuidado Francisco.
Bjs, Ana
Não. O miudo não tinha ar de bandido. Beijinhos
ResponderEliminar