22 de junho de 2018

Chapada Diamantina 2




No dia seguinte saímos os cinco do Hostel pouco passava das oito. Duas das brasileiras traçavam os programas. Fomos primeiro visitar umas grutas com muitas estalagtites e estalagmites, cada um com a sua lanterna na mão. Depois seguimos para uma lagoa fantástica, de água transparente, onde tomámos banho, com as brasileiras a tirarem centenas de fotografias que postavam directamente no Instagram enquanto eu e a francesa apreciávamos mais a paisagem e o banho.
Acabámos por almoçar no restaurante daquela Fazenda e, da parte da tarde, visitámos mais uma lagoa subterrânea perto e, depois, fizemos 70 Km em sentido contrário ao Hostel, à procura de uma bomba de gasolina de uma vila onde nos disseram que ainda haveria gasolina.
Quando lá chegámos e constatámos que tinham gasolina festejámos com um brinde de …. Coca Cola.
Comprei um depósito de água de 25 litros vazio e levei também gasolina para atestar a moto.
Entretanto, uma das empregadas do Hostel, uma preta linda, com um metro e oitenta, dos seus trinta anos, que eu havia elogiado, tinha-se apaixonado por mim. Apareceu ao fim da tarde, bem arranjada e penteada, com um vestido que parecia saído das mãos de um costureiro francês, a convidar-me para uma festa. Disse-lhe que parecia uma princesa mas já tinha combinado jantar com as brasileiras e talvez lá fosse ter mais tarde. Fez um ar triste e lá arrancou, com amigos. Lembrei-me entretanto que princesa era um posto abaixo do dela pois por lá todos a tratavam por Rainha.
- Rainha de quê?, perguntei ao rapaz da recepção.
- Rainha do Quilombo
- Quilombo? O que é isso?
- São comunidades de descendentes de escravos que fugiam das fazendas e formavam pequenas aldeias na floresta. A escravatura acabou mas eles continuaram a viver na floresta, mais evoluídos mas muitos ainda sem electricidade ou água corrente. O pai dela era o Rei do Quilombo e, quando morreu, herdou ela o título por ser a filha mais nova.
Não apareci na festa mas, no dia seguinte, quando ela veio perguntar, com ar amuado, porque eu não tinha lá ido indaguei um pouco mais sobre a sua vida. O pai, como rei do Quilombo, tinha quatro mulheres, das quais teve 24 filhos. Da mãe dela foram 17 e ela era a mais nova dos 24, por isso ficou a rainha, pois a ideia é prolongarem os reinados o mais possível. Convidou-me a visitar o Quilombo mas eu estava de partida.
- O seu pai é que sabia viver. Quatro mulheres só para ele escolher cada dia com qual ficar.
- Eu não concordo nada com isso, respondeu ela já modernizada. Se o meu homem tiver outra mulher, eu também arranjo outro homem. Hoje em dia os direitos são iguais para homens e mulheres.

Arranquei, essa manhã, a caminho da Chapada dos Veadeiros, que o tempo estava a esgotar-se. Deixei a Rainha do Quilombo com um ar tristíssimo.

2 comentários:

  1. Ainda anda longe mas vai ou foi ao Jalapão?
    Tem paisagens do outro mundo
    Boa viagem
    Bjs
    Ana

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    Respostas
    1. Claro que fui. Dei uma volta grande por lá. E até visitei a fábrica porque o engenheiro responsável pelo projecto da moto tinha pedido que lá passasse. Tem paisagens fantásticas, sim, e as pessoas são muito simpáticas e civilizadas embora quase ninguém fale inglês. Bjs.

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