O barco era maior que o anterior mas não muito, com uns 60 metros de comprimento mas em ferro, em vez de madeira. Tinha três pisos, todos abertos dos lados, com o de baixo reservado à carga e tripulação, o do meio às redes onde dormiam os passageiros, com um pequeno refeitório na parte de trás, também aberto ao rio e à temperatura agradável do Amazonas durante todo o ano.
No piso superior, para além da cabine de pilotagem e camarote do comandante, havia um bar junto a um enorme convés ao ar livre, com mesas e cadeira plásticas empilhadas, que os passageiros íam tirando conforme necessitavam. Um pequeno bar de apoio vendia essencialmente pastilhas elásticas às crianças enquanto uma televisão com imagem muito tremida reunia à volta, ao final de cada dia, grande parte dos passageiros, homens e mulheres, a assistirem a novelas, o Big Brother brasileiro ou um ou outro jogo de futebol.
Zarpámos pela meia noite, Amazonas a baixo.
O trajecto é lindo, com floresta virgem em ambas as margens, embora o rio em certos locais, seja tão largo que as não podemos observar de perto. Pelo caminho paramos em pequenas povoações com nomes de cidades portuguesas como Aveiro ou Almeirim, onde desembarca um ou outro passageiro e entram outros. Descarregam e carregam mercadoria. Em Almeirim vendedores de queijo entram barco dentro e vendem uma espécie de queijo fresco em porções avantajadas, embrulhado em plástico. Em Aveiro carregamos uma dúzia de baús de esferovite carregados de um peixe pequeno e escuro, coberto com uma camada de gelo, pesado no cais em balança rudimentar e negociado por um dos passageiros que acompanha as caixas até umas cidades mais abaixo no rio, onde a pesca excessiva acabou com a vida marinha.
As refeições a bordo eram boas embora me tivesse que adaptar às horas escolhidas para serem servidas. Pequeno almoço entre as seis e sete, almoço entre as onze e o meio dia e jantar entre as seis e sete da tarde.
Pelas nove da noite do segundo dia vim à ré e pedi se podia acender a luz de refeitório para me sentar a escrever. Um dos tripulantes, de espingarda à tiracolo, a andar de um lado para o outro a observar as águas do rio respondeu-me que “não, que dá muito nas vistas”.
- O que se passa?
- Nesta zona há muitos piratas e tenho que estar pronto para disparar.
Só então reparei que dois outros tripulantes, na proa e ré do navio, varriam o rio com potentes holofotes, à procura de possíveis assaltantes.
- O que fazem esses assaltantes?
- Armados, encostam as lanchas ao barco, saltam para o convés de baixo, e assaltam passageiros e tripulação. Só quando há mortos deste lado vem nas notícias. Eu estou farto de os matar mas continuam sempre a aparecer outros.
Parecia estar num filme com cenário na Somália. Os restantes passageiros não se apercebiam do que se passava ou, sendo eu o único estrangeiro, aquilo seria, simplesmente, uma banalidade para as gentes locais.
Todos os dias chego a casa e vou checkar se há novidades aqui... :) continuação de boas aventuras! Abraço
ResponderEliminarObrigado, Miguel. Abraço
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