9 de maio de 2018

Pantanal 3

O dia seguinte foi dia de boi. O Armando foi ter comigo ao armazém onde de manhã tinha tomado um pequeno almoço improvisado, comprado numa bomba de gasolina na noite anterior, e partimos para a oficina onde acabavam de assar o boi. O dono tinha-me dito para aparecer a partir das oito da manhã, que já haveria festa e, de facto, quando lá chegámos às onze e meia da manhã, já havia muito boa gente com ar de já ter entornado meia dúzia de cervejas no bucho. Uma banda “rock” instalava os instrumentos e, pelo meio dia, desataram numa chinfrineira ensurdecedora enquanto os muitos clientes do boi íam chegando.
Alguns aceleravam as motos a fundo à porta e faziam-nas dar estoiros com cortes de ignição. Um pandemónio infernal. Bebemos uma imperial e o Armando fugiu aos primeiros acordes da banda rock, com a desculpa que tinha uns amigos em casa para almoçar, enquanto eu “ataquei” o boi logo que ficou pronto, que por acaso estava fantástico, e parti para a próxima etapa, mais uma vez Pantanal dentro. Fui nessa tarde até Poconé, uma vila a cerca de 100 Km de Cuiabá. Já perto parei num bar de estrada, uma barraca na floresta com uma mesa de bilhar ao ar livre onde dois vaqueiros, um velho de chapéu à “cowboy” e um novo de boné apostavam umas poucas cervejas, já bem “aviados”. Pedi para me sentar na mesa deles, por ser a única da rudimentar esplanada, com a família do proprietário a ocupar uma grande nas traseiras da barraca. Eram simpáticos os vaqueiros.
- Aqui também há fazendas com mais 50.000 hectares, perguntei?
- Não. Isso é lá para o Sul, onde estão as dos políticos, que são quem tem dinheiro para isso. Aqui somos gente de trabalho e as fazendas raramente ultrapassam os 10.000.
Os brasileiros da província têm todos a ideia que os ricos do país são os políticos, que vêm sempre como bandidos que roubam o dinheiro do povo.
Quando cheguei a Poconé procurei um Hotel onde deixar as malas e parti visitar Porto Cercado. A rapariga da recepção, impressionada com a minha pronúncia brasileira, que utilizo para que me percebam, dizia:
- Mas como é que o senhor, sendo lá de Portugal, fala tão bem português?
- Tenho práticádo, né?

Porto Cercado é um pequeno porto de rio para onde os habitantes de Cuiabá levam pequenas embarcações com que partem pescar no abundante rio Cuiabá.
Estava lá atracado um enorme barco que fazia confusão pudesse navegar em relativamente estreito e certamente pouco fundo rio. O comandante, que me convidou a bordo, explicou que fazem principalmente pescarias de meia dúzia de dias com grupos de duas a três dezenas de pessoas e que o barco, construído para navegar em rios, só cala 1,10 metros.
Regressei ao Hotel de Poconé e, no dia seguinte, entrei pela famosa Transpantaneira e segui até Porto Jofre. São 150 Km em piso de terra bastante esburacado e onde se atravessam mais de cem pequenas pontes em madeira. O trajecto segue dentro deste enorme pântano e floresta, com uma vida animal fenomenal mas que, nesta época do ano, é limitada no visionamento pela enorme quantidade de água que afasta para o interior da floresta animais como os Jaguar ou os próprios crocodilos. Assim, para além das centenas de espécies de aves, algumas de grande porte, vi apenas vários Porcos do mato, por vezes acompanhados de crias, uma espécie de castores de grandes dimensões que andam pelos pântanos.
Mas o passeio é lindo, mesmo se um buraco maior que não vi me fez levar uma pancada no pescoço que me começou a dar dores dois dias depois.



Sem comentários:

Enviar um comentário