A minha ideia quando
cheguei a Calcutá era tratar do visto para o Bangladesh, fazer a tal conferencia
de imprensa que o cônsul tinha planeada e partir para Dhaka, capital do país
vizinho, onde deixaria a moto estacionada por um mês para vir à Europa fazer um
trabalho que tenho programado. Só que entretanto, no consulado do Bangladesh
recusaram-se a dar-me um visto de duas entradas, de maneira que tive que deixar
a moto em Calcuta e, como ainda tinha uns dias até apanhar o avião que estava
marcado do Dubai para Portugal, vim até Goa que fica a caminho e não tinha tido
a hipótese de visitar de moto.
Cheguei já de
noite e instalei-me na Pangim Inn, que me tinha sido recomendada pelo cônsul
local, este português.
Goa não tem nada
a ver com o norte da Índia. Há muito menos lixo nas ruas e as estradas estão em
bom estado.
No dia seguinte
de manhã tratei de alugar uma “scooter” e fui explorar a região.
Com pouca coisa
que visitar em Panjim, comecei por ir até Velha Goa. Não tinha percorrido dois quilómetros fora da cidade quando fui mandado parar pela polícia.
- “your licence,
please”
- “your
nationality”?
- “Portuguese”
- “Ah. Fala
Português”? diz-me o polícia com pronuncia de inglês radicado no alentejo.
- “Sim”
- “What does it
mean, sim”?
- “Yes”
- “Ah. Very well.
Bacalhau. Ha, ha. You may go”
Em velha Goa,
como em todo o lado na Índia, tudo o que são monumentos estão muito mal
conservados. O velho palácio dos Governadores já não existe porque, ainda no
século IXX os dirigentes portugueses decidiram-se mudar para o Palácio do Cabo,
junto ao mar, e acabaram por destruir aquele para utilizarem parte do material
para construírem o novo. Tanto a enorme Sé, a maior igreja na Ásia, como a
Basílica do Bom Jesus, onde está o tumulo de S. Francisco Xavier, estão em bastante
mau estado e a coleção de quadros dos governadores e vice reis portugueses,
instalada no Museu Arqueológico, foi restaurada por curiosos que transformaram
os dirigentes portugueses numa espécie de bonecos mascarados.
Interessante é a
frase que estava na estátua de camões, originalmente edificada pelos
portugueses em 1960, um ano antes de serem expulsos do território e agora
recolhida no mesmo museu dos governadores: “Camões, o génio da pátria pelo
mundo em pedaços repartida. Oferta de Portugal da Índia à Índia de Portugal”.
Curioso é também
verificar que, mesmo no tempo dos Filipes, entre 1580 e 1640, estes nomeavam
governadores portugueses e mesmo vice reis para tomarem conta dos territórios
portugueses na Índia. Foram perto de duas dezenas, nesse período.
No dia seguinte
viajei para sul na “scooter”, rumo às praias de Miramar e Dona Paula. Do meio
do nada surge um imponente mas bem enquadrado na paisagem Hotel Hyatt onde parei
para almoçar, junto à piscina. Turistas Americanos a almoçarem em tronco nu
tinham ar de quem vinham passar uma semana à Índia sem saírem do Hotel. Fiquei
depois a ler num dos sofás do jardim sobre a praia, com o calor temperado por
uma ligeira brisa vinda do mar. Por ali fiquei até às cinco da tarde antes de
regressar a Panjim.
Ontem fui para
Norte, a parte mais turística de Goa. Visitei o forte dos Reis Magos,
restaurado há dois anos mas já a começar a dar sinais de pouca ou nenhuma
manutenção e o forte da Aguada, mais a norte. Não tinha ideia que os
portugueses, desde o Afonso de Albuquerque, foram construindo várias
fortificações ao longo da costa, desde Goa até Damão e Diu, passando por
Bombaim, que acabou por ser oferecida aos ingleses como dote dum casamento
real. Assim, o território por nós ocupado no século XVI não se limitava às
quatro cidades mas incluía uma enorme zona costeira.
Sigo agora para
Portugal, através do Dubai, para regressar a Calcutá no final do mês, antes de
partir para o Bangladesh.
Boa viagem. ficamos a espera de novas crônicas.
ResponderEliminarHelder Galante
Pois, esta Índia já me parece um pouquinho mais atraente. Será espirito de colonialista?
ResponderEliminarAguardemos então serenamente.
Ana