Hoje saí do Hotel
em English Bazar às dez da manhã com o termómetro da moto a marcar 38º. Antes
de sair liguei ao cônsul de Portugal em Calcutá a dizer que chegava nesse dia.
O embaixador em Delhi tinha-me posto em contacto com ele e o cônsul honorário,
um empresário indiano, propôs-se organizar uma conferencia de imprensa quando
da minha passagem por Calcutá. Pedi-lhe se me recomendava um Hotel bom mas não
muito caro e ele sugeriu marcar um quarto para mim num clube de que ele era
sócio. Achei a ideia interessante e aceitei. Com cerca de 350 Km para percorrer
disse-lhe que deveria chegar por volta das seis da tarde, já a dar uma margem
para imprevistos. Afinal os meus cálculos pecaram por demasiado optimismo.
Passadas duas
horas em que só parei para pôr gasolina não tinha percorrido mais de 60 Km. O
problema não era só o transito mas também o estado da estrada, muito degradada.
Pelo caminho parei numa oficina de motos de aldeia, daquelas feias e sujas para
recolocar dois parafusos de fixação do vidro da moto. O esforço das suspensões
é enorme e a da frente esquerda começou a perder óleo.
Com o calor que
tem estado costumo andar com o blusão mas sem as calças e botas do fato porque
além disso, à exceção de uma chuva leve no Butão, o tempo tem estado seco. Só
que hoje o céu começou a ficar escuro e, de repente, uma carga de água
abateu-se sobre mim, daquelas que ensopam jeans e sapatos em dez segundos.
Parei para me abrigar por debaixo de uma barraca à beira da estrada onde um
rapaz vendia copos de chá com leite. O aspecto do local era terrível de maneira
que me limitei a sentar-me num banco corrido onde o dono mandou abrir espaço
para mim, sem me atrever a provar o chá. Deviam estar uns quinze homens naquela
barraca de um metro por quatro onde parte do espaço era ainda ocupado pelo
fogão a carvão que aquecia água e leite. Quando a chuva abrandou troquei os
jeans pelas calças do fato, enfiei as botas e fiz-me de novo à estrada. Pensava
que iria passar o resto do dia debaixo de chuva mas não tinha rodado um
quilómetro quando um risco na estrada separava aquela parte encharcada de uma
totalmente seca. Acabou por ser assim o resto do dia: chuva torrencial
acompanhada de raios e trovões fortíssimos, alternada com tempo seco e quente. Pelo
meio parei para almoçar um sumo de manga e, como de costume, reuniu-se um grupo
dos que vão crescendo a cada minuto que passa, para observarem a moto.
Tinha esperança
que o estado da estrada fosse melhorando ao aproximar-me de Calcutá, cidade que
foi capital da Índia no tempo do Império Britânico, mas buracos enormes e
transito caótico mantiveram-se ao longo do dia. Anoiteceu quando estava a
cinquenta quilómetros da cidade e voltei a ter que circular em condições muito
complicadas em que não vemos buracos da estrada nem a quantidade enorme de
veículos que circulam sem luzes. Entrei na cidade pelas sete da tarde. Parecia
que tinha acabado uma prova de todo o terreno, depois de nove horas a levar
pancada em cima da moto.
Dentro da cidade
a situação melhora porque, embora esta seja uma das mais populosas da Índia,
com 12 milhões de habitantes e um transito obviamente caótico, sempre vemos por
onde andamos e quem circula à nossa volta. Para chegar ao escritório do cônsul,
no centro da cidade, demorei mais hora e meia. Ele já tinha saído mas um dos
seus empregados foi num carro à minha frente até ao clube.
Este clube onde
estou instalado é um “Swimming Club”, com duas piscinas olímpicas, uma exterior
e outra interior e alguns quartos para sócios e convidados que ficam num primeiro
andar, com as portas a darem para um patamar suspenso sobre a piscina interior.
Um clube à antiga, certamente montado pelos ingleses. Tomei um duche e fui
jantar ao óptimo restaurante. Dormi nove horas.
Ainda não tinha lido estes dois dias. Continuo a pensar que a India é um tormento.
ResponderEliminarFelizmente chegou são e salvo, ali e aqui.
Cá ficarei à espera dos próximos episódios.
Boas viagens
Ana
....e então dormiste que nem um Marahjah
ResponderEliminarabraço
Bernardo