Os Australianos que vivem fora das cidades, aliás como na maioria dos
países, são muito simpáticos.
Estava ainda a instalar a tenda neste parque de campismo com uma situação
fantástica sobre um rio quando veio uma vizinha fazer conversa. Lá partiu e
passado pouco tempo apareceu outra:
-
“You must be very tired. Will you join us for tea?”
-
“Yes, sure”
Já eram seis e meia da tarde e achei estranho estar a convidar-me para
tomar chá mas, conforme combinado, fui ter à roulotte da senhora quando acabei de montar a tenda.
Só quando lá cheguei me lembrei que estes velhos chamam “tea” ao jantar. Lá
estava ela a cozinhar uns legumes e bacon fantásticos e fiquei com aquele casal
muito simpático a jantar debaixo do toldo que tinham montado junto ao rio.
Muito bom.
Pelas nove da noite despedi-me e fui até à cozinha do acampamento, que
nestes sítios funciona também como sala de reunião, com o computador debaixo de
braço. Apareceu um gordo, divertido, com ar mais latino que australiano a
perguntar de onde eu tinha surgido. Ficámos à conversa e pouco depois juntou-se
a nós a mulher e outro casal amigo. Faziam parte de um grupo maior de amigos,
mais de 40 casais, que todos os meses se juntavam, entre 20 a 30, para
acamparem com as suas roulottes em diferentes parques do país.
Quando eles partiram para as suas casas ambulantes, pelas dez da noite, pude finalmente abrir o
computador. Estava a ajudar a minha filha num trabalho para a Universidade
quando se abateu sobre o acampamento uma tempestade, como ainda não tinha
apanhado na Australia, com chuva e ventos fortes.
Corri para a tenda debaixo de chuva porque tinha deixado a porta aberta.
Entrei apressadamente, atirei o blusão encharcado que trazia sobre a cabeça
para um canto e caiu em cima da almofada. Fechei a tenda com a chuva e vento a
aumentarem de intensidade e voltei a ligar o computador para continuar com o
trabalho. Pouco tempo depois acabou-se-me o crédito de internet. Li um pouco e
adormeci pelas onze da noite, embalado pelo som do vento e chuva a baterem na
tenda. Acordei às duas da manhã com a lateral da tenda a bater-me contra a
cara. O vento tinha aumentado de intensidade e comecei a imaginar-me a levantar
voo com a tenda. De vez em quando espreitava cá fora para ver se o rio, a não
mais de meio metro abaixo do relvado, não teria aumentado de caudal a um ponto
de entrar pelo parque dentro. Comecei a ter que segurar com as mãos a lateral
da tenda com medo do seu colapso eminente. Assim fiquei até à seis da manhã,
quando parou de chover mesmo com o vento a continuar a bater forte. Saí cá
fora, coloquei a moto numa posição para proteger um pouco a tenda do vento e,
estafado, fui tomar um duche quente. Voltei para a tenda e consegui dormir mais
duas horas. Quando acordei a tempestade tinha passado.
As minhas vizinhas vieram perguntar-me como tinha passado a noite.
- “How terrible. I thought about you during the night”
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