24 de novembro de 2014

Cikampek



Arranquei perto do meio dia com a ideia de fazer tranquilamente os 150 Km que me separavam de Bandung até às quatro ou cinco da tarde.
Só que não previ a loucura que é sair de Jakarta sem poder entrar na auto estrada pois as motos estão proibidas de as usar na Indonésia. É que esta ilha de Java que, não sendo a maior é a mais populosa, tem 140.000 Km2 ou seja, um tamanho de cerca de uma vez e meia a área de Portugal e nada menos que 135 milhões de habitantes que parecem ter cada um uma “scooter” ou moto de 125 c.c.
É a loucura total. Passadas duas horas de um para arranca entre milhares de motos e carros, debaixo de uma temperatura de 38º, com uma humidade altíssima e níveis de poluição assustadores, comecei a sentir as mesmas tonturas que tinha tido uma vez na Índia que acho se devem a uma baixa tensão. Parei para descansar uma meia hora durante a qual bebi um litro de água e fiquei novo.
Pelo caminho apanhei, por sorte, a feira de antiguidades da Jalan Surabaya que é fantástica. Um dos comerciantes, enquanto me mostrava um maravilhoso escafandro, réplica dos utilizados pela marinha Norte americana durante a segunda grande guerra, cotava-me que já tinha tido a visita dos Clinton’s e de Mick Jaeger, por mais que uma vez.
Tinha deixado a feira há pouco quando um miúdo numa 125 meteu conversa nuns sinais luminosos. Perguntou-me de onde vinha e quando lhe disse Portugal ficou espantado por eu vir sozinho: “Alone? Crazy, crazy”.
Achei graça ao miúdo e quando nos sinais seguintes me perguntou se não queria ir até casa dele que era ali perto, imaginei uma mãe a cozinhar um almoço maravilhoso e disse-lhe que sim. O miúdo dos seus vinte anos foi então à minha frente a afastar o transito em sinais com as mãos e pernas, tanto o que vinha no nosso sentido como em sentido contrário, qual policia motorizado.
Levou-me por umas ruas estreitas até um beco onde vivia. Entrámos então numa barraca com três pequenas divisões onde morava com um casal amigo. Na primeira divisão estavam uma moto e uma scooter meia desmontadas e com peças amontoadas no meio de muita tralha. A divisão seguinte era o quarto onde dormia o casal amigo com um colchão no chão, lençóis revoltos com ar muito sujo, vários cinzeiros cheios de beatas e papéis e lixo à volta. Não teria mais de dois metros por três e o único sítio sem ser o colchão do casal onde alguém se pudesse sentar era uma almofada onde descansava um rafeiro, com três meses de idade, a quem tinha caído o pelo quase todo e que os amigos do rapaz disseram ter sido causado por uma alergia. A miúda da casa deu uma limpeza rápida no cubículo, que consistiu em levar os cinzeiros lá para fora e amontoar a um canto papéis e lixo e ficámos os quatro ali em pé à conversa, pois a divisão seguinte era a cozinha que calculo fosse também quarto do rapaz e onde não me atrevi a entrar.
Ofereceram-me café mas disse que tinha acabado de beber muita água e tinha que voltar à estrada para tentar chegar ainda de dia a Bandung.
Depois de uma sessão fotográfica na barraca e junto à moto lá consegui arrancar, novamente guiado por este amigo com vocação para polícia de transito a quem desta vez recomendei que não mandasse afastar os outros carros do meu caminho pois dava muito nas vistas.
Voltei ao inferno do transito Indonésio onde não se vêm tantos camiões como na Índia mas muitas mais motos que parecem um enxame de abelhas a atacar quem lhes foi ao mel.
Só tinha tomado o pequeno almoço às dez da manhã mas durante o dia não passei por nenhum restaurante com aspecto minimamente limpo onde me apetecesse almoçar de maneira que às cinco da tarde começou a chover e decidi  parar numa destas tascas de beira de estrada. Um simpático velho disse-me que pusesse a moto abrigada da chuva quase dentro da tasca e a mulher veio perguntar o que queria. Em cima da mesa tinham uns peixes e outros fritos com aspecto de terem passado pela frigideira há mais de um mês de maneira que lhe pedi quatro bananas que vi a um canto e um chá que me soube maravilhosamente.
Quando arranquei estava a ficar noite e ainda faltavam 80 Km para Bandung que com aquele transito e estradas esburacadas era coisa para me levar a fazer em duas horas de maneira que, ao cheguei à próxima cidade, Cikampek, procurei um Hotel no GPS que me encaminhou para o único existente na zona. Não é dos piores onde tenho ficado e o pessoal é simpático.

21 de novembro de 2014

Indonésia


A Indonésia é o 15º país maior do mundo, com perto de dois milhões de quilómetros quadrados espalhados por mais de 17.500 ilhas, das quais cerca de 1.000 são permanentemente habitadas. Com mais de 250 milhões de habitantes é o quarto país mais populoso do mundo, a seguir à China, Índia e Estados Unidos. E sentimos isso quando circulamos nas ultra congestionadas ruas de Jakarta, a capital.
O país é menos civilizado que os vizinhos Malaios, Tailandeses ou, principalmente, de Singapura. Aqui já se vê muito lixo nas ruas, embora não atinja as proporções indianas, rios transformados em enormes esgotos e um transito caótico onde voltamos a ouvir o barulho das buzinas. Os motoristas de táxi já escarram para fora da janela e dão arrotos.
Os processos burocráticos para a moto entrar nos muitos países que tenho atravessado é o que podemos chamar um 8 ou 80. Na Malásia, por exemplo, mal olharam para a moto e não me pediram qualquer documento. Em Singapura também entrei sem qualquer problema embora à saída me dissessem que deveria ter carimbado o Carnet na entrada. Aqui na Indonésia foi um processo complicado que durou vários dias e incluiu pedidos de papelada a múltiplas instituições. Ontem felizmente resolveu-se, até porque quando estou sem a moto me sinto como que descalço.
Mas o dia não começou bem. Ao sair do Hotel de fraca qualidade situado nos últimos três andares de uma espécie de enorme centro comercial para ferramenta e material mecânico e electrónico, o elevador travou de repente entre dois andares levando a que eu e um casal que também ali viajava, quase fôssemos atirados ao chão. A mulher assustou-se mas o namorado ainda estava com mais medo. O que vale é que a cena durou pouco tempo. Sem tocarmos em qualquer botão o elevador voltou a arrancar e parou tranquilamente no rés do chão. Felizmente era a ultima vez que tinha que andar nele. Apanhei um táxi à porta já munido do que pensava serem todos os papéis necessários para levantar a moto mas o taxista não deu com o local onde estava a moto no caos que é o porto de Jakarta e acabou por me deixar noutro táxi local, que dizia saber muito bem onde eu queria ir. Não tínhamos andado mais de cinco minutos quando percebi que me estava a levar para longe do sítio previsto. Fartei-me de refilar e insultar o homem mas às tantas comecei a achá-lo com um ar estranho. Só me dizia “slow, slow” , revirava a cabeça e quando eu me chegava à frente e olhava para ele puxava a camisa para cima a tapar-lhe a cara até aos olhos.
Fiquei preocupado, até porque me estava a levar para uma zona do porto com muito mau aspecto. Comecei então a trata-lo bem e a dizer-lhe que era exatamente ali onde estávamos que eu queria ficar. “Pode parar aqui que é aqui mesmo”.
“No, no, slow, slow” e o homem não havia maneira de me deixar em lado nenhum. Eu a ver-me cada vez mais afastado do local onde estavam os escritórios da alfândega ia-lhe dizendo para parar junto a cada edifício que eu ficava ali mas o homem não parava mesmo. Sem saber falar inglês só repetia “slow, slow”. Passados três quartos de hora foi ter ao sítio onde eu realmente queria ir e só então percebi que nunca tinha estado perdido nem era maluco mas quis apenas dar uma martelada no taxímetro.
Cheguei ao escritório da alfândega eram uma e meia da tarde e só tinha tomado o pequeno almoço. Só consegui sair do porto com a moto às oito e meia da noite. Nessa manhã tinha deixado a mala num Hotel pior do que aquele em que estava antes mas mais barato e, quando lá regressei com a moto, duas raparigas que bebiam um chá numa pequena esplanada de rua em frente, meteram conversa e por ali fiquei a beber uma cerveja antes de ir jantar.
Uma delas falava pouco inglês mas convenceu-me que era muito boa massagista ... e era. No dia seguinte tinha aprendido a dizer “I want to ride your motorcycle”, de maneira que a levei a dar um passeio pela cidade. Fomos ver um teatro e uma exposição de pintura e a seguir pretendíamos ir até à praia mas perdemo-nos no caos da cidade. Quando parei para pôr gasolina caiu uma carga de água daquelas que parece que o céu nos vai cair em cima. Fiquei um quarto de hora à espera que passasse mas um homem avisou-nos que as ruas da cidade estavam a ficar intransitáveis e então lá arrancamos debaixo de chuva torrencial. Talvez por não chover há uns tempos e os esgotos estarem entupidos houve ruas em que a água chegava a meio das rodas da “Cross Tourer”.

19 de novembro de 2014

Jakarta



Cheguei a Jakarta ao fim da tarde e, como de costume, fui enganado pelo táxi que me levou ao Hotel. Só que aqui é ainda dentro do aeroporto que têm uns balcões onde várias companhias vendem viagens de táxi por quatro vezes mais do que custam se apanharmos o táxi à saída do aeroporto. Achei logo estranho porque a menina do balcão me veio acompanhar até ao carro.
A primeira impressão que temos de Jakarta é francamente má porque fora do centro a cidade é feia e suja. Para além disso os dez milhões de habitantes parecem não ter onde estar e ficamos com a sensação que há gente a mais não só parada nas ruas como a circular de carro ou “scooter”.
A moto, a viajar de barco, só chegava dois dias depois de maneira que no dia seguinte decidi ir fazer um passeio turístico.
Fui primeiro ao Nasional Monument, uma torre mandada construir pelo presidente Sukarno em 1961 para celebrar a independência do país, com uma grande chama dourada em cima e que tem a particularidade de ficar iluminada de azul à noite. Não tentei entrar porque estavam filas assustadoras no túnel de acesso ao elevador que nos permite subir ao ponto mais elevado.
Cá fora, nos mal tratados jardins e acessos, decorria uma manifestação com muitos jovens de bandas pretas na cabeça e bandeiras brancas com caracteres indecifráveis que vociferavam sob o olhar atento da polícia.
De seguida tentei visitar o palácio presidencial mas, mal atravessei a rua para chegar ao passeio em frente, o guarda que estava na guarita saiu e mandou-me atravessar a estrada de volta e não tirar fotografias. Só então reparei que realmente aquele passeio e a entrada do palácio estavam vazios.
Fui então num Tuk tuk até um mercado de rua onde acabei por almoçar uma espécie de cozido onde reconheci batatas e couves mas em que o ingrediente principal era, segundo a mulher, peixe mas tinha a consistência de toucinho e calculo que fosse a gordura que está entre a carne e a pele de algum peixe de grandes dimensões. Como aquilo era tudo cozido achei que não me faria mal. E não fez.
Fui depois visitar a mesquita Istiqlal que é a maior do sudeste asiático. Impressionante em tamanho mas, pelo menos por fora, sem graça nenhuma. Em Jakarta não se vêm turistas nas ruas e muito menos na mesquita de maneira que quando passei os enormes portões que dão acesso aos jardins que circundam a Istiqlal senti-me um pouco desconfortável, principalmente por estarem ali enormes grupos de jovens com as bandeiras  e panos pretos na cabeça que tinha visto duas horas antes junto ao Nasional Monument.
Perguntei a uns deles o que representava aquela manifestação e, num inglês muito fraco, lá me explicaram que era a favor do movimento Hizbut Tahrir que defende a existência de um único Estado Islâmico no mundo, um Califato, sujeito a um único líder eleito, um Califa, que aglomeraria todos os estados Islâmicos atuais e a partir daí converteria todos os outros ao Islamismo. O grupo foi formado em 1953 na Palestina, é contra a existência de Israel e embora seja proibido em vários países, ganhou nova força com a guerra na Síria, onde são um dos movimentos que lutam contra o regime. Dizem não ter nada a ver com o auto denominado Estado Islâmico, que tanto tem aparecido nas notícias, mas pelos vistos compartilham algumas das ideias.
Estive uma meia hora numa interessante conversa com eles mas comecei a sentir-me desconfortável quando se juntou muita gente à nossa volta, principalmente porque eu era o único estrangeiro naqueles terrenos da mesquita onde estavam muitas centenas de pessoas. A situação ainda se tornou mais estranha quando um rapaz me veio agarrar a mão e a beijou. Achei que era altura de partir e despedi-me dos estudantes.
Do outro lado da rua  desta enorme mesquita existe uma imponente catedral católica, que tinha sido mandada construir por Napoleão, quando ocupou a Holanda e com isso as suas colónias e reconstruída pelos holandeses entre 1899 e 1901. Entrei para ver. Estava arrumada e bem tratada mas não tinha uma única pessoa dentro.

16 de novembro de 2014

Singapura 2




Ainda em relação aos pneus que montei ontem na moto é interessante verificar o seguinte: eles tinham os pneus Metzeler em promoção, que são excelentes e foi os que escolhi. O curioso é que são pneus alemães e não japoneses, coreanos ou indonésios, como seria de esperar na região.
O que aconteceu aqui em relação a estes países asiáticos, e o mercado automóvel é um bom exemplo disso, foi que enquanto a maioria dos fabricantes europeus acharam que o nosso mercado era suficiente para escoarem os seus produtos, os alemães previram o enorme crescimento económico desta parte do mundo e trataram de cá se estabelecerem. As pessoas espantam-se porque é que eles estão ricos e os franceses e italianos falidos mas esta é uma das razões. Quando circulamos nas ruas é evidente que a maioria dos carros que vemos são japoneses ou coreanos mas também há muitos Mercedes, BMW’s, Audis e Volkswagens. O que não vemos é um único Peugeot, Renault ou Fiat.
Depois de montar os pneus fui fazer um passeio turístico. Primeiro visitei um Templo Budista, dos melhores que já vi. Como mais de 70% da população aqui  é de origem chinesa a religião deles é o dinheiro mas também há muitos Hindus e uma comunidade muçulmana. De qualquer forma muitos asiáticos são budistas e á noite, numa sala aberta para a rua, perto do hotel, estive a assistir um pouco ao discurso de um guru que dizia pouco mas tinha uma plateia numerosa e encantada.
Depois de visitar o templo Budista dei uma volta pela “China Town” local onde acabei por almoçar muito bem enquanto uns miúdos de uma escola se sentaram à minha mesa para me entrevistarem num trabalho de grupo.
A seguir fui visitar o Marina Bay Sands. É o Hotel mais extraordinário que se pode imaginar. O prédio em que está inserido é considerado o prédio mais caro do mundo. São três enormes torres, com um design fantástico e, no topo das três, está pousado como que um enorme barco, que faz uma elegante curvatura, onde está instalada a piscina, dois bares e restaurantes. Uma extravagancia espetacular. Subi até ao 52º andar num elevador que nos transporta aquela altura em meia dúzia de segundos, e, estando a entrada na zona da piscina reservada a clientes do hotel, visitei os bares e terraços, com vista fabulosa. De qualquer forma não resisti a perguntar depois na recepção por um quarto. Um dos funcionários achou-me com ar de rico e mandou-me para a secção VIP. Estavam esgotados no fim de semana e custavam 580 dólares de Singapura por noite, qualquer coisa como 500 USD. “Sim, sim, depois telefono a marcar”.
Nesta zona de Singapura, junto à costa sul, eles têm vindo a conquistar terreno ao mar, como fazem em Macau, de maneira que até o mapa do GPS, que não está atualizado, por vezes marcava como se eu estivesse a navegar no mar com a moto.
Depois do Marina Bay Sands fui visitar um parque botânico onde têm árvores e plantas de todo o mundo numa espécie de estufas gigantes de moderno design. Teve graça porque davam um grande destaque às oliveiras, que tratavam com enorme admiração, não só por darem um ingrediente tão fabuloso como o azeite mas também por haver exemplares que resistem muitas centenas de anos. Mostravam um mapa da zona mediterrânica onde se dão, com Portugal em enorme destaque. Aprendi ali que chegam a haver oliveiras com dois mil anos.
No dia seguinte fui tratar de embarcar a moto para a Indonésia. Não existindo em Singapura ferries que transportem veículos motorizados tive que a mandar num cargueiro para Jakarta. Ainda pedi se a podia acompanhar no navio mas disseram-me que não de maneira que me despedi dela e apanhei um avião, 24 horas depois, para a capital Indonésia.

14 de novembro de 2014

Singapura



Quando ontem à noite cheguei ao Hotel depois do jantar, a menina que fazia as massagens no Spa do 1º andar estava cá em baixo na rua à minha espera, talvez por sugestão da patroa.
Perguntou-me se não queria uma massagem e eu caí na asneira de lhe perguntar o preço. A partir daí não me deixou sair dali enquanto não me explicou todas as alternativas que propunha. Como não falava uma palavra de inglês ia-me mostrando os números com o preço que gravava no telemóvel enquanto me descrevia em mímica os muitos serviços sexuais que a massagem podia incluir. Cada tratamento tinha depois um preço diferente se fosse pago através do hotel ou diretamente a ela. Ficou triste quando lhe disse que não queria nada. Tanta explicação em vão. Nem uma massagem aos pés? Não, nem uma massagem aos pés.
No dia seguinte arranquei para Singapura. Para não levar com 250 Km de auto estrada escolhi a estrada junto à costa, bonita embora com alguns troços em mau estado, e só entrei na autoestrada a 80 Km de Singapura.
Nesta zona do mundo as entradas e saídas nos países são muito facilitadas e, se na entrada na Malásia não me tinham pedido nenhum documento da moto, aqui em Singapura só me carimbaram o passaporte e deram uma olhadela ao interior de uma das malas. Em cinco minutos tinha passado a fronteira.
Logo à entrada fiquei espantado porque estavam a lavar a estreita entrada em cimento encarnado reservada às motos com máquinas rotativas. Quando entramos no pequeno país percebemos porquê. Ali não há um papel na rua e está tudo limpo e tratado, com os jardins impecáveis e as sebes nas estradas aparadas. Nesse aspeto parece que entrámos na Austria.
O país é relativamente recente pois só se tornou independente da Malásia em 1965, dois anos depois dos ingleses terem sido corridos da região, mas desenvolveu-se  de uma maneira extraordinária. É o país do mundo que tem maior percentagem de milionários e vê-se que ali há dinheiro, com bons carros nas ruas e pessoas a consumirem nas lojas, cafés e restaurantes. E o bom é que, ao contrário do Dubai, onde é tudo demasiado novo, ali existe uma mistura do recente com o antigo embora os prédios estejam todos bem tratados e limpos. Além disso, sendo um país pequeno, com cerca de 700 Km2, sempre tem cinco milhões de habitantes e muitas zonas verdes, ajudadas pelo clima equatorial.
O regime é considerado totalitário porque embora haja eleições só concorre um partido. De qualquer forma como há dinheiro a circular, mesmo com enormes diferenças sociais, não há praticamente desemprego nem contestação. Vivem principalmente do comércio externo, pois estão numa posição privilegiada das rotas marítimas, o que os levou também a terem uma importante frota mercante mas além disso têm industria pesada como a da produção de, por exemplo, plataformas de petróleo e são importantes na refinação de petróleo para abastecimento da região. Enfim, um país que funciona e nunca soube o que era uma crise financeira.
Sendo o país com o nível de vida mais caro da região é difícil encontrar um hotel barato mas lá acabei por encontrar um embora o quarto não tivesse janela, o que me levou a trocar para o dia seguinte, por um que até era mais barato.
Nesse dia fui de manhã montar uns pneus novos na moto. Na loja que me indicaram havia várias hipóteses de escolha em “stock” o que mesmo na europa é muito raro. O rapaz que me atendeu, dos seus trinta e poucos anos, quando lhe paguei depois de dizer que era português respondeu: “o-bri-ga-dô”
Perguntei-lhe como sabia português e ele contou-me que na escola tinha aprendido que os portugueses tinham estado na região no século XVI e o professor de história ensinou-lhes algumas palavras. É bom quando somos reconhecidos para além do futebol.

10 de novembro de 2014

Sepang



Quando cheguei ao circuito de Sepang não tinha passe para entrar no “padock” que era onde me interessava ir mas, como bom português, convenci os vários porteiros a deixarem-me passar e, já lá dentro, fui ter com o Miguel Oliveira, o piloto português que corre nas moto3, que tratou de me arranjar um passe.
Fui depois falar com o diretor da equipa Honda de motogp para tentar organizar uma fotografia onde estivesse eu, a moto e os pilotos da marca. Ele concordou com a ideia e pediu ao Marquez e ao Pedrosa para, ao saírem do circuito fazerem a fotografia comigo e a moto, que entretanto fui buscar para dentro do “padock”.
As corridas foram espetaculares e só foi pena o Miguel ter caído na primeira volta das moto3. O Marquez voltou a ganhar nas motogp e o Rossi, com o mesmo entusiasmo dos miúdos de vinte anos, ficou em segundo.
Quanto às motogp em si cada vez que as vejo fico impressionado com a sua aceleração e velocidade em recta, superiores às de um Formula 1.
No Domingo voltei a jantar no “Hard Rock”, especialmente animado no fim de semana de motogp, e segunda feira ainda fiquei por Kuala Lampur para visitar as Batu Caves, umas grutas naturais enormes à entrada da cidade. Desiludiram-me pelo mal tratadas e sujas que estão. Fui ainda procurar uns pneus novos para a moto, que os de tacos que tinha montado na Índia e que tanto jeito deram estavam no fim, mas não os consegui encontrar.
Arranquei assim na terça para Malaca com a curiosidade de constatar se ainda haveria algo de português na cidade que Afonso de Albuquerque conquistou em 1511 e que se manteve em nossa posse até os holandeses nos terem de lá corrido, 130 anos depois.
Quando cheguei dei uma volta pela cidade e parei quando vi um chamado Portugis Hotel, com as cores da nossa bandeira à porta. Embora fosse uma espelunca e a dona chinesa, a mulher foi simpática e achou graça eu ter vindo de Portugal na moto de maneira que me fez um preço especial e por ali me instalei.
O Hotel, de tectos baixos, tinha alguns móveis bons mas mau aspecto e sujidade por todo o lado.
A chinesa recomendou-me o Spa do primeiro andar e deu a entender que a massagista de serviço fazia mais que massagens.
Perguntei-lhe o que havia mais de Portugal em Malaca e indicou-me um bairro vizinho de descendentes de portugueses.
Estava a dar uma volta pelo bairro de fraca qualidade de construção quando parei, junto ao mar e de dois homens sentados no que já teriam sido bons sofás, agora apodrecidos pela exposição aos elementos, debaixo de um telheiro no que parecia ser um poiso habitual. Perguntei-lhes se havia alguma sede portuguesa e um deles, quando lhe disse que era português, pediu para me sentar ao lado dele e começou a falar comigo em português, não perfeito mas compreensível.
O seu nome era Jorge Alcântara e era descendente dos portugueses que cá tinham ficado no século XVI. Disse-me que a língua tinha passado através das gerações e ele também a ensinara aos filhos de maneira que em casa falavam sempre em português.
A comunidade de descendentes são cerca de 1200 pessoas, a maioria já com muitas misturas de raças, como é nosso costume.
Estivemos ali uma meia hora à conversa e depois ele pediu a um amigo, também supostamente português mas que falava muito pouco, para me guiar na sua “scooter” até à sede do “Portuguese Settlement”, um local com um ar decrépito, um restaurante chamado Lisbon mas onde as refeições são Malaias, e um Museu com meia dúzia da tarecos. O que foi um Lisbon Hotel, com bom aspecto, só durou dois anos como Hotel e foi depois vendido a uma Universidade que lecciona ali.
A presença portuguesa em Malaca neste século XXI tem um ar bastante miserável mas pelo menos existe e resistiu 500 anos. Para além disso algumas das nossas palavras ficaram na língua Malaia, como Escola ou Manteiga.
Almocei no restaurante do “Portuguese Settlement” pelas quatro e meia da tarde uns bons camarões em molho de ananás muito pouco portugueses e regressei ao Hotel.
Pelas nove da noite decidi ir jantar só uma sopa porque tinha almoçado já tarde.
Recomendaram-me um restaurante perto onde pedi a única sopa disponível, com esparguete.
“E para beber?”
“Um sumo natural”
“Isso não temos”
“Então o que têm?”
“Água, sumos enlatados ou chá de ervas”
Um pouco contrariado optei pelo chá de ervas. Quando o criado me perguntou se queria quente ou frio preferi quente por ter medo de beber água neste sítios sem ser fervida.
Sabem quando os criados, satisfeitos, nos dizem: “boa escolha”?
Neste caso o homem olhou para mim com a cara exatamente contrária, como quem procura uma expressão de lucidez na minha face sem conseguir encontrar.
Quando chegou o que tinha encomendado percebi a razão de me considerar maluco. É que o caldo da sopa que vinha na tijela com o esparguete e o chá quente, servido no copo, eram exatamente o mesmo líquido.
Pus umas pingas de picante na sopa para lhe mudar um pouco o sabor e lá bebi esse chá à colher e o outro pelo copo sem me queixar.



8 de novembro de 2014

East coast




No dia seguinte decidi ir explorar um bocado desta costa oriental da Malásia.
A maior parte dela está ao abandono, com excelentes locais para se construírem bons hotéis junto à praia mas com apenas alguns empreendimentos de casas de fraca qualidade afastadas uns 200 metros da costa, enquanto esta é maioritariamente ocupada por barracas de pescadores.
Perto de Kanung, mais a sul, existem alguns poços de petróleo da Petronas, a empresa estatal. Quando quis tirar uma fotografia a um deles apareceu logo um guarda numa “scooter” a dizer que eu não podia ali estar, não percebi porquê.
Quando parei para almoçar um homem que estava sentado na esplanada e tinha uma “scooter” maior, de 400c.c., convidou-me para me sentar na mesa dele e ofereceu-me o almoço.
Contou-me que costuma fazer uns passeios pela Malásia de moto, com um grupo de amigos, e conhecia bem o lago onde eu tinha estado.
No fim perguntou-me se não queria também jantar e combinámos encontrar-nos mais tarde. Fomos a um restaurante de estrada excelente que ele conhecia e recomendou-me o trajeto que devia seguir no dia seguinte, a caminho de Kuala Lampur, sem passar pela auto estrada.
Segui o conselho do Nuaur e apanhei mais uma estrada linda, rodeada de vegetação e que passa junto a outro lago, este natural mas menos impressionante que o primeiro.
Quando cheguei a Kuala Lampur, pelas quatro e meia da tarde, instalei-me num Hotel a meia dúzia de quilómetros do centro, para ser mais barato, e fui visitar as Torres Petronas que são mais impressionantes ao vivo que em fotografia.
Com uma altura enorme e mais de 80 andares, que não quis explorar, têm na parte de baixo um centro comercial fantástico, com as melhores lojas italianas e francesas, para além das habituais Zaras e outras que tais.
Quando regressava ao Hotel vi um grande aglomerado de motos, a maioria Harleys, junto ao Hard Rock Café e decidi lá parar para jantar. Como ainda não havia mesa sentei-me no bar e beber uma Guiness.
Ao meu lado direito estava uma miúda Indiana linda a beber um enorme cocktail azul e do lado esquerdo um Americano extrovertido dos seus quarenta anos. Estava à conversa com a rapariga quando me chamaram para a mesa. Vivia no Dubai com os pais e estava ali a passar férias sozinha. Como ela, sendo Indhu, não podia comer carne de vaca, apresentei-lhe o Americano, para a entreter enquanto eu jantava. Quando voltei estavam animadíssimos e juntei à conversa um miúdo indiano que estava ao lado e cuja família vive na Malásia. Divertimo-nos imenso os quatro enquanto bebíamos mais umas cervejas e a miúda uma série de copázios do que parecia alcool etílico com gelo e limão e que a faziam falar cada vez mais alto e rir que nem uma perdida.
A meio da noite perguntei ao Indiano que ali vivia porque teriam umas bandeirolas penduradas no bar a dizer motogp e só então soube que as corridas eram esse fim de semana, no circuito de Sepang, a 40 Km de Kuala Lampur.
Despedimo-nos pela uma e meia da manhã, todos muito alegres, comigo a tentar montar o namoro entre aquela rapariga linda e o simpático Indiano.
Na manhã seguinte, mal acordei, arranquei para o circuito.