Em Quito fiquei duas noites. No primeiro dia peguei na moto e fui visitar a
parte antiga da cidade, onde estão as principais catedrais que, à semelhança do
que tinha visto no México e América Central, exibem o fascínio que os espanhóis
tentaram introduzir na cabeça dos povos colonizados, através da religião. A
Catedral de Jesus, com talha trabalhada a preencher quase todo o interior,
forrado a folha de ouro, levou 160 anos a ser construída. Por aí se pode ter
uma ideia da grandiosidade da obra. Impressionante.
Para variar das refeições locais fui almoçar uns "gnoqui" a um restaurante
italiano recomendado pelo “Lonely Planet” e da parte da tarde fui visitar a
casa Museu e ao que o artista chamou “a Capela” do pintor Equatoriano Oswaldo Guayasamín.
Interessantíssimo. A guia era optima ao fazer-nos perceber a obra do artista,
que se foca muito nas pessoas que sofrem como os antigos escravos ou quem vive
na miséria mas também nas injustiças da nossa sociedade.
Guayasamín teve sucesso desde novo, graças a uma visita que Rockfeller fez,
nos anos 40, a Quito, encantando-se com a obra do jovem pintor, tendo levado
alguns quadros para os Estados Unidos e mais tarde lançado o artista naquele
país.
Antes de morrer Guayasamín reuniu os sete filhos e disse-lhes que iria deixar
a casa/atelier onde viveu os últimos vinte anos de vida ao estado Equatoriano
para que aí fosse criado este fantástico museu. Numa das paredes uma frase
gravada pelo artista:
“Eu chorava porque não tinha sapatos, até encontrar um miúdo que não tinha
pés”.
Na manhã seguinte deixei Quito a caminho da costa mas antes tentei visitar
o vulcão mais famoso do Equador e um dos mais altos, uns 80 Km a Sul da
capital. O Cotopaxi mede quase seis mil metros e tem um glaciar no topo que,
segundo os locais, tem vindo a perder gelo de ano para ano em mais uma prova do
aquecimento global.
Acabei por não subir o vulcão porque não deixam entrar motos no parque e
portanto teria que ir com um guia num carro até ao estacionamento superior para
depois fazer uma caminhada de três horas, a mais de cinco mil metros de
altitude até ao glaciar. Se estivesse bom tempo até tinha aceite a ideia mas o
tempo estava enublado e ameaçava mesmo chover de maneira que desisti da ideia.
Continuei então o meu caminho rumo a Ocidente e à costa do Pacífico. Pouco
tempo depois entrei numa serra que me deu imenso gozo subir, com curvas e
contracurvas ao longo de muitos quilómetros em optimo piso. Aquele lado da
serra, assim como a paisagem à volta de Quito, é seco e castanho mas, quando
chegamos ao topo verificamos que a paisagem do outro lado é completamente
diferente, de densa selva muito verde. Quase a três mil metros de altitude
podia ver nuvens uns 500 metros abaixo de mim a cobrirem uma parte deste lado
da serra cheio de vegetação. Comecei a descer e, ao entrar nessas nuvens, uma
espécie de nevoeiro cerrado, a visibilidade ficou reduzida a menos de dez
metros e, sem chover, a estrada estava encharcada. Tive que ir muito devagar,
com enorme cuidado quando tinha que ultrapassar camionetas por não conseguir
ver o que vinha em sentido contrário, se uma curva apertada ou um carro ou
camião. A descida pareceu-me interminável, tendo rodado assim cerca de uma
hora. Por fim passei para a parte de baixo das nuvens e pude apreciar a
fantástica paisagem até ver uma cascata com um restaurante em baixo onde parei
para almoçar a apreciar a fantástica paisagem daquelas quedas de água a
correrem para piscinas naturais cavadas nas rochas. Fui recebido por um
Eslovaco, que ali vivia e trabalhava há 12 anos e me apresentou o casal dono do
local. Não havia mais cliente algum e a senhora preparou-me um excelente frango
com batatas fritas verdadeiras e banana frita. Foi das melhores refeições que
tive no Equador e, acompanhada de suco de cana de açucar expremido na hora,
custou-me três dólares.
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