12 de outubro de 2017

Medellin


Quando cá estive em Maio passei em Medellin mas fugi logo no dia seguinte de manhã porque a cidade, que fica a 1500 metros de altitude mas tem altas montanhas a rodeá-la, estava envolta numa nuvem de poluição que tornava o ar irrespirável. Desta vez, talvez por nesta altura do ano chover quase diariamente ao fim da tarde, está muito melhor. Assim, marquei um “airbnb” para passar mais dois dias e conhecer um pouco mais da segunda cidade da Colômbia. No dia em que mudei do Hotel para a casa particular acabei por almoçar já tarde e logo a seguir caiu uma chuvada das grandes, que só me deu tempo de parar a moto e entrar em casa, de maneira que vi pouco mas, no dia seguinte saí cedo, apanhei um autocarro para o centro e fui primeiro visitar a praça Botero, com enormes estátuas em bronze do conhecido artista colombiano, que é de Medellin. A praça, logo às nove e meia da manhã, tem muito movimento, não só de pessoas que passam como de vendedores ambulantes ou de pegas com péssimo aspecto, que entram ao serviço aquela hora mas não parece terem qualquer sucesso. Do outro lado da praça o Museu de Antioquia tem uma excelente exposição do artista para além de muitas outras obras de pintores famosos oferecidas por ele próprio à cidade. Excelente. Distrai-me por lá mais de duas horas.  Numa rua junto à praça a curiosidade de homens e mulheres que montam pequenas bancas e se dedicam, a troco de uns pesos, a preencher documentos em velhas máquinas de escrever para aqueles que não têm uma ou, simplesmente, não sabem escrever ou exprimir-se. Estes homens e mulheres perguntam aos clientes o que pretendem escrever e traduzem essa linguagem popular em escrita oficial, pronta a entregar numa repartição de finanças ou tribunal. Fantástico.
Apanhei depois um metro e fui até ao “metro cable” que não é mais que um teleférico que sobe uma das montanhas da cidade, por cima de uma das enormes favelas que a rodeiam, e passa depois através da floresta até um parque natural. Este teleférico, curiosamente, funcionou como pacificador de uma parte da cidade, que andava em guerra constante desde os tempos do famoso Pablo Escobar, o traficante Colombiano de droga, que controlava a cidade e era um dos homens mais ricos do mundo. Depois de ser morto, em 1993, Medellin continuou a ser uma cidade muito perigosa, com guerras de gangues nas favelas que a polícia não controlava. Com a passagem do teleférico, inaugurado em 2004 e que tem estações em vários pontos das favelas, as populações começaram a unir-se em volta deste transporte que lhes facilitava a descida à cidade, juntando-se obrigatoriamente nestes pequenos compartimentos com dois bancos corridos onde se sentam quatro a quatro em frente uns dos outros num espaço reduzido. Tornou-se impossível encontrarem-se no transporte e depois andarem em guerra nas ruas e as favelas pacificaram-se ... à conta do teleférico. Extraordinário.
 Quando lá cheguei a cima, depois de um excelente almoço de frango estufado com batatas assadas propus-me fazer um passeio a pé, incluído num pequeno grupo com uma guia através da floresta. Só que, não tínhamos andado mais de um quarto de hora quando uma enorme chuvada interrompeu o passeio. Voltámos à base mas, devido aos raios, o teleférico foi obrigado a parar e tive que esperar mais de uma hora que voltasse a funcionar, ficando à conversa com dois casais de miúdos, entre um café colombiano, o melhor café que bebi fora de Itália ou Portugal.



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