Ontem voltei à “selva” de Colón ver se percebia como estava a situação do
barco. O guarda já me deixa passar o portão e ir até ao barco, que continua
atracado no mesmo sítio, começando a parecer fazer parte do porto. O velho comandante
convidou-me a subir a bordo para me dar mais explicações sobre a demora em
partirmos. O seu posto de pilotagem/camarote não terá mais de dois metros quadrados
com uma cama sebenta na parte de trás e um leme em ferro com o aspecto de já
ter atravessado muitos oceanos enquanto a porta em madeira está a desfazer-se de
podre. Estavam a carregar enormes caixas com Tabaco e disse-me que ainda
esperavam outra carga para aquele dia ou a manhã seguinte, antes de podermos
partir.
- Então partimos depois de amanhã?
- Sim. Em princípio.
Pediu-me se pagava já a viagem mas disse-lhe que só quando visse a moto ser
carregada.
Quando chegava de volta ao Hostel parou ao meu lado um miúdo Canadiano que
viajava numa velha Suzuki 350. Procurava também transporte para a Colômbia e sugeri
que se juntasse a nós no barco, que um dia partiria. Ele achou boa ideia porque
a alternativa que tinha era um veleiro que sairia dentro de dez dias e bastante
mais caro.
Os dias vão passando sem que a situação se resolva. Quando acordo costumo dar
um mergulho aqui ao lado do Hostel, nas águas mornas deste lado do Atlântico,
antes de tomar um duche frio. As manas Venezuelanas só chegam às dez e meia
para me tratarem do pequeno almoço de ovos estrelados ou panqueca com banana.
Depois, dou um passeio de moto pelas redondezas. Um dia aluguei um pequeno
barco a motor para me levar a umas praias desertas do outro lado da baía.
Vou falando ao telefone com o dono do barco. O problema agora, quando tudo
parecia pronto para partirmos, foi a transmissão, que cedeu. O Arturo explicou-me
que tinha mandado colocar uma caixa de velocidades reconstruída mas, quando a foram
experimentar, o barco só andava para trás. O mecânico talvez resolvesse o
problema durante esse dia.
Sem conseguir voltar a falar com ele no dia seguinte colocámos as bagagens
nas motos, eu e o pacato Canadiano, e decidimos voltar a Colón para tentar apanhar
aquele barco ou outro que pudesse estar no Porto.
Chegámos pelas onze e meia da manhã. O velho capitão tinha saído mas disseram-nos
que voltaria dentro em pouco. Chegou pouco depois com o Arturo, dono do barco. Disseram-nos
que o mecânico estava a trabalhar no barco e que tudo deveria estar pronto para
sairmos essa noite, ou na madrugada do dia seguinte.
Entretanto, na alfandega do porto tinha mudado o responsável e este disse-nos
que não nos poderia carimbar o passaporte e tratar dos papéis das motos ali.
Teríamos que ir até aos escritórios centrais da alfandega na cidade, mas que,
por ser quinta feira da semana santa, fechavam ao meio dia e só reabririam na
segunda feira seguinte. O Arturo propôs levar-nos lá de carro. Pelo caminho
ligou a este tipo da alfandega do porto a pedir-lhe que esperasse pelo nosso regresso
pois ele também queria fechar a alfandega e o portão de entrada no porto, para
sair de fim de semana, com as motos ainda do lado de fora.
Já apanhámos a responsável da alfandega central a almoçar numa roulotte, fora
do local de trabalho, e disse ser impossível lá voltar para tratar dos nossos
papéis. Só segunda feira, informou.
Decidimos então que partiríamos sem tratarmos dos papéis, com a ideia de
carimbarmos os passaportes no porto junto à fronteira com a Colômbia, onde o
barco atracaria. O homem da alfandega do porto cobrou-nos 30 dólares por o
termos feito esperar mas deixou-nos passar as motos para dentro do porto antes de
o fechar a cadeado e partir até segunda feira. Já não tínhamos alternativa
senão esperar por ali que conseguissem reparar o barco.
Isto não se faz... Queria continuar a ler esta verdadeira novela "mexicana" e afinal ainda não há mais para ler!
ResponderEliminarO que é que ainda falta acontecer?
Boa continuação de viagem e uma boa dose de paciência!
ab
Ha, ha. Cada dia mais um episódio. Abraço
EliminarMotocicleta mais estrada... dão um resultado incrível! Olha só esse lugar, que cultura! Acho muito legal conhecer novas culturas, e podendo fazer isso em cima de uma moto é simplesmente perfeito.
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