1 de maio de 2017

Colón 2


No dia seguinte voltei a Colón para tentar encontrar outra solução de transporte que não a da mulher da agencia de navegação, que consistia em mandar a moto num contentor e eu partir de avião até Cartagena, na Colômbia.
A cidade de Colón parece que acabou de estar envolvida numa guerra. As casas estão todas com aspecto que vão cair no dia seguinte, milhares de fios eléctricos  pendurados entre as fachadas e alguns postes e lixo nas ruas por todos os lados. A população passeia de um lado para o outro no meio deste estado de sítio. Dizem ser a cidade mais perigosa do Panamá e não me admira. O ambiente é quase assustador.
Desta vez fui até uma pequena doca no centro da cidade onde atracam pequenos barcos dos seus vinte a trinta metros que parecem, todos eles, deverem muitos anos ao ferro velho. Ali só têm espaço para quatro ou cinco destes barcos de cada vez. Já lá tinha passado antes mas o guarda, que arrasta o enorme portão de cada vez que chega um camião ou carrinha para descarregar ou carregar um barco, tinha-me despachado, dizendo que não haveria barcos a saírem para a Colômbia nos próximos dias. Desta vez, vendo a minha insistência, lá me deixou falar com um ou outro dos comandantes. É uma gente estranha porque nunca percebemos se estamos a falar com a pessoa certa.
- Então é você o comandante daquele barco?
- Sim, sou eu.
- Leva-me esta moto até à Colômbia.
- Sim, sem problema.
Combinamos o preço e, depois, percebo que não é ele o comandante e vai mais tarde negociar o preço com a pessoa certa par tentar retirar uma comissão.
Um homem com umas calças beijes engomadas e melhor aspecto que os outros acordou um preço comigo, intitulando-se dono do barco que partiria dentro de dois dias.
- Tudo bem. Por 250 dólares, incluindo a alimentação, levamo-lo a si e à moto até Puerto Baldia, na fronteira com a Colômbia e onde já facilmente encontra uma lancha para o transportar até ao outro lado. Vamos lá falar com o Comandante. Espere aqui.
- Mas eu pensei que você era o comandante.
- Não, mas não há problema.
- E lá foi falar com o possível comandante dizendo-lhe que eu pagaria 200 dólares pelo transporte.
- Ficou acordado trazer a moto dois dias depois, numa sexta feira, para a carregarmos e partirmos na madrugada do dia seguinte.
Quando lá cheguei, na manhã de sexta feira, o primeiro homem disse-me que estavam atrasados 24 horas, para voltar no dia seguinte. E quando eu me ía embora, assim do nada, virou-se para mim e disse, nas barbas do director da alfandega:
- Dê-me aí dez dólares.
- Não. Só pago seja o que for quando carregarmos a moto.
- Decidi então voltar à cidade do Panamá, onde só tinha estado pouco tempo. Cheguei de dia, ainda a tempo de tirar umas fotografias, depois de me instalar no Hotel onde tinha estado uns dias antes e fui jantar cedo, a um restaurante da moda local, com uma decoração moderna mas refeições pouco mais que razoáveis e caras.
Na manhã seguinte voltei a percorrer os cerca de 70 Km que separam a capital de Colón e regressei ao pequeno porto para me encontrar com o suposto capitão do barco em que deveria embarcar, antes do meio dia, como me tinham pedido.
Quando lá cheguei o guarda que passa o dia a correr o portão por onde deve passar metade da droga que entra na América Central a caminho dos Estados Unidos disse-me para esperar numa cadeira podre e suja que tinha à porta, a condizer com tudo o resto, que o capitão tinha saído e já voltava. Passada uma hora, quando dois miúdos iam a sair informou-me: este é neto do capitão. E perguntou ao miúdo onde andava o avô.
- O meu avô foi para a igreja rezar e só regressa dentro de três horas.
A ideia de um capitão que vai para uma igreja rezar três horas, antes de partir para uma viagem no seu barco a cair de podre, assustou-me.
Voltei a sentar-me e fiquei por ali à conversa com um rapaz e o homem do portão, que de vez em quando revistava de forma superficial mochilas com roupa velha antes de saírem o portão mas mandava passar sem pestanejar camiões e carrinhas de carga. Nada parecia fazer sentido.

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