13 de maio de 2017

Capurganá - Colômbia


Entretanto, quem chega de barco do Panamá tem que  carimbar aqui o passaporte com a entrada na Colômbia. O homem encarregue da emigração, depois de ter visto a minha moto no porto, decidiu que eu teria que lhe pagar uma comissão pela passagem da moto. Eu sabia que era ilegal e disse-lhe que não pagava. O tipo, com ar de mafioso, cabelo rapado e fato de treino azul berrante, ficou histérico e quando, à porta do escritório, me gritava que não me daria o carimbo de entrada na Colômbia e eu teria que voltar para o Panamá, o contrabandista de tabaco vinha a passar na rua e ficou chocado com a conversa. Chamou-o e perguntou-lhe qual era o problema. O homem baixou a grimpa e mandou o seu empregado carimbar-me o passaporte.
Ontem, um brasileiro que por aqui vagueia há dois meses, sem falar uma palavra de espanhol, e dá a sensação de estar a ficar gravemente transtornado, veio mais uma vez meter conversa comigo, como a única pessoa presente na “ilha” que percebe o que ele diz. Contou-me que no dia anterior tinham morto um homem na aldeia vizinha de Sapzuro. Quando perguntei ao dono do Hostel se sabia de alguma coisa ele confirmou o crime, sem qualquer expressão de emoção, justificando-o com o facto do homem ter sido apanhado a roubar.
- Mas isso aqui é normal?
- Sim. É limpeza de gente indesejável. Tem que ser
- E a policia não faz nada?
- Não. Já sabem que tem que ser.
Penso que nestas aldeias, longe da civilização, nem há tribunais e para a polícia é um problema levar prisioneiros para serem julgados nas cidades maiores, já ligadas por estrada ao resto do país.
Dois dias depois foi um grupo de emigrantes ilegais que matou o “passador” numa casa da montanha, por ele lhes ter roubado dinheiro.
Um homem que conheci no porto quando cheguei, um simpático sexagenário com mau aspecto, só com meia dúzia de dentes na frente, que andava sempre de calções e tronco nu e me contou ter saído da prisão dois anos antes, onde tinha passado vinte por narcotráfico, confirmou-me esta lei local popular quando lhe perguntei se não havia problema em deixar as minhas coisas no porto para sair comprar uma cerveja.
- Claro. Aqui ninguém rouba nada, principalmente a turistas, porque sabem que são mortos e o corpo atirado aos peixes. Os turistas são o ganha pão da cidade.
- Quando lhe disse que achava muito tempo vinte anos por traficar droga  respondeu com um ar orgulhoso:
- É que eu pertencia ao Cartel de Cali.
Foi ele quem me apresentou o comandante do barco que nos havia de levar, a nós e às motos, até à cidade de Turbo. Pelas três da tarde foi chamar-me ao Hostel para trazermos as motos para o Porto mas, quando lá chegámos o barco ainda estava a descarregar e acabámos por passar a tarde no porto e só embarcar as motos pelas oito da noite.
Navegámos noite dentro, estendendo os colchões de campismo e sacos cama no estrado de carga, junto às motos, onde adormecemos. Fomos acordados pela tripulação às duas da manhã. Tinham encostado o barco a um cais e disseram-nos que teríamos que desembarcar ali porque o barco, sem cais livre onde poder atracar durante a noite, ia ficar ancorado ao largo.
- E não podemos dormir no barco e descarregar as motos de manhã?, perguntei.
- Não, respondeu o capitão. Têm que sair aqui, agora. E arranquem já para uma bomba de gasolina que há aí quinhentos metros à frente porque esta zona do porto à noite é muito perigosa.
Ensonados lá arrancamos até à bomba e conseguimos que nos abrissem a porta de um pequeno Hotel que havia do outro lado da rua, onde ficámos.


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