Saí de Worthon a caminho de Laredo, a cidade junto à fronteira do México
onde iria deixar os Estados Unidos. Percorri neste país mais de 20.000 Km nos
últimos três meses, atravessando 28 Estados de Norte a Sul, Este a Oeste.
Gostei de o ficar a conhecer melhor que a grande maioria dos americanos. É
realmente a maior democracia do mundo que só não é totalmente bem sucedida
porque nunca houve nem haverá uma integração completa entre brancos, pretos, Índios,
ou “native americans” como gostam de ser apelidados, e os chamados latinos, em
que a maioria são Mexicanos.
O país tem sítios de uma beleza natural extraordinária, uma população bem
adaptada ao seu tamanho, sem serem de mais nem de menos e a prova de que
funciona é que a maioria dos mais de 300 milhões de habitantes pertencem a uma
classe media com um poder de compra elevado, que tem um bom nível de vida, só
estragado pelos maus hábitos alimentares. Têm uma industria e agricultura muito
desenvolvidas sendo quase autossuficientes mas por terem uma densidade
populacional relativamente baixa preocupam-se pouco com as questões ambientais,
que afectam muito mais outros países e cidades superpopulosos.
As últimas centenas de quilómetros até Laredo são feitos numa estrada de
longas rectas através de uma savana ao estilo Africano mas mais densa, com
pouco movimento e sem construções ou bombas de gasolina. A poucas dezenas de
quilómetros da cidade a polícia faz uma segunda inspeção aos carros que
acabaram de entrar no país vindos do México, pois é uma das principais rotas da
droga que entra nos Estados Unidos vinda da América Central e do Sul.
Laredo já tem um ambiente muito mexicano e a maioria da população vem do
país vizinho. Na rua, bombas de gasolina e supermercados houve-se falar mais
espanhol que inglês. Já na cidade reservei estadia no Motel 6, uma cadeia
americana de baixa qualidade, através da Internet de um Hotel onde parei. Não
sabia é que haviam três na cidade. Fui ao primeiro que encontrei e enquanto tentava saber, com o rapaz da
recepção, qual seria o Motel 6 em que tinha reserva, uma americana dos seus 40
anos, meia louca, acompanhada de um guarda costas Mexicano enorme, meteu
conversa comigo enquanto retirava papéis amachucados da carteira que incluíam
dezenas de “travel cheques”. Entre conselhos sobre o Hotel e o tipo de quarto
onde eu deveria ficar queixava-se que o homem do banco não lhe tinha satisfeito
uma qualquer pretensão e que ela se tinha virado para ele e respondido: “mas eu
sou dona do banco”. O guarda costas tinha ar de já não aguentar aturar a mulher
por muito mais tempo, que acabou por arrancar e abandonar o telemóvel em cima
do balcão, para ele voltar atrás recolhe-lo cinco minutos depois.
Lá descobri em qual dos três Motel 6 tinha reservado quarto e arranquei, já
de noite. Tinha comprado num supermercado um arroz com galinha em lata que foi
o meu jantar, aquecido no micro ondas do Motel. Acordei às sete da manhã com um
homem a entrar-me pelo quarto que, quando me viu dar um salto na cama, voltou a
sair. Não adormeci outra vez e pouco depois acabei por me levantar e arrumar as
coisas para passar a fronteira.
Quando, uns dias antes, passeava pelas ruas do French Quarter em New
Orleans parei a ver as pinturas de um artista de rua que eram melhores que o
costume. O homem meteu conversa comigo e quando lhe disse que ia para o México
perguntou:
- “Leva uma pistola, certo”!?
- “Não”
- “E uma faca”?
- “Também não. Não me serviam de grande coisa porque acho que não conseguiria dar um tiro ou uma facada em
ninguém”.
- “Pois. Eu também não”, respondeu o homem. “Por isso não vou para esses
sítios”.
O Norte do México é suposto ser perigoso devido aos gangs de droga que têm
o mau hábito de raptar quem pensam poder render-lhes uns tostões. Quando estava
nos Estados Unidos noticiaram que dois miúdos, que tinham decidido ir fazer surf para as praias do Norte do Mexico,
tinham sido mortos e os corpos queimados por um destes gangs. Por estas razões
recomendaram-me que enchesse o depósito de gasolina nos Estados Unidos e,
depois de passar a fronteira, só parasse 250 Km depois, em Monterrey.
Quando cheguei á fronteira americana disseram-me que para carimbar o Carnet
(espécie de Passaporte da moto) teria que ir à fronteira onde passam os
camiões, uns dez quilómetros para Ocidente. Fui até lá tratar dos papéis mas
não me deixaram sair por ali com a moto e tive que regressar à primeira. Do
lado Mexicano nem me mandaram parar dando a entender que todos os estrangeiros
que vêm do lado americano são bem vindos, embora raros. A cidade de Laredo do
lado Mexicano é uma vila com um ar sinistro. Ruas estreitas e sujas com casas
descoloridas em mau estado. A população tem o ar sofrido de quem está resignado
às agruras da vida. De vez em quando passo por “pick-ups” com jagunços na caixa
de carga que têm o ar de ir a caminho de um tiroteio. Segui o conselho que me
tinham dado, atravessei a vila e entrei na via rápida que nos leva a Monterrey.
É uma estrada que começa em mau estado mas se transforma em auto estrada, com
pouco movimento. Uns dez quilómetro depois um sugestivo sinal na beira da
estrada indica: “fim da zona controlada pela polícia”, como quem afirma: a
partir de aqui não nos responsabilizamos pelos problemas que possa ter.
Cheguei a Monterrey sem sobressaltos e, já perto da cidade, parei para pôr
gasolina e aproveitei para almoçar no restaurante junto.
Boa tarde,
ResponderEliminarAcabei agora de ler a sua aventura até ao momento, fantástico o seu percurso, em alguns pontos a paciência de semanas à espera de um visto ou de um carimbo é de santo...
O link para o facebook da honda que tem aqui no blog não funciona, talvez tenham mudado ao longo dos anos.
O meu obrigado por partilhar as aventuras connosco.
De nada. Ainda bem que gostou. Como constatou tenho feito a viagem ao longo de vários anos, sem pressas. Mas espero acabá-la este ano ou no próximo para depois reunir estas crónicas num livro.
EliminarCumprimentos