22 de novembro de 2013

Dhaka





O comboio que apanhei para Dhaka era muito melhor do que estava à espera. Mesmo não havendo bilhetes de primeira classe consegui um dos três que tinham na classe AC (ar condicionado). Era uma cabine daquelas que havia antes nos comboios portugueses, com dois bancos corridos, em veludo, que nem estavam em mau estado nem muito sujos e duas camas por cima, para quando a viagem é noturna. Os meus companheiros de viagem foram um homem que trabalha para uma organização de ajuda humanitária e um dirigente dos caminhos de ferro que, sendo muçulmano, de meia em meia hora estendia uma toalha em cima do banco e, descalço, colocava-se de joelhos em cima da toalha, com um boné redondo na cabeça, a testa quase a tocar no banco, virado para Meca, que, por mais curvas que o comboio desse parecia ser sempre na mesma direção, a rezar. Mal acabava, uns cinco minutos depois, endireitava-se, tirava o chapéu e aí estava ele pronto para mais meia hora de viagem.
Passadas umas sete horas, durante as quais nos foi servido o almoço que cada um de nós encomendou, chegámos à estação de Dhaka.
O da organização humanitária, por ir para um Hotel perto do meu, partilhou o táxi, ou seja o “rickshaw” motorizado, que os táxis não aceitaram o dinheiro que  queria pagar, mesmo sendo a meias.
Os “rickshaw” aqui, coisa que nunca tinha visto, têm portas em grade metálica que o condutor tranca por dentro. Perguntei para que serviam e o meu colega de viagem explicou-me que passou a ser obrigatório há uns tempos em Dhaka porque havia o costume de assaltarem os passageiros, muitas vezes com a colaboração do próprio condutor. Agora este, depois de trancar as nossas portas, deixando-nos presos naquele mini carro celular, trancou a sua por dentro com um cadeado.
O Hotel era bom mas de preço europeu.
No dia seguinte às dez da manhã, conforme combinado, o secretário do Cônsul foi buscar-me ao Hotel para tentarmos resolver o problema da entrada da moto no Bangladesh. Expliquei-lhes o assunto, a ele e ao Cônsul, um homem de negócios de sucesso no Bangladesh e desde então temos estado em reuniões diárias, eu e o secretário, em diversos organismos oficiais, ainda sem resultados práticos mas que parecem ir no bom caminho. Este secretário do Cônsul, um homem local, dos seus 60 anos, mas filho de uma inglesa e de um francês, diz-me optimista: “the difficult problems, we deal with them straight away, the impossible ones take a little longer”.  E dá uma gargalhada. Vamos lá ver no que isto dá.

3 comentários:

  1. Está difícil começar a rolar com a Crosstourer no Bangladesh. Ao menos já deixou a Índia para trás. O Francisco já devia estar farto até à raiz dos cabelos... Obrigado por nos levar à pendura nesta viagem fantástica. Boa sorte e boas curvas!

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  2. Olá Francisco. Não estou lá, estou cá, mas depois falamos com um café, um copo, qualquer coisa..

    Quanto à viagem, muito me surpreendeu o comboio. Sim senhor! Agora de facto o que quero é ler a viagem mas de Honda. Não havia forma de tratar de muita da papelada cá? Só o carnet não? E esse pelos vistos nesses países não vale de nada.

    Enfim... boa sorte e continua a ter calma e paciência que eu sei que tem.

    Bjs
    Ana

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  3. Combinado, Ana.
    Não, aí não se consegue tratar destas coisas. Tem que se estar nos locais. Há fronteiras que se passam sem qualquer problema e outras que envolvem burocracia louca. Eles ainda por cima aqui estão numa fase política muito conturbada, o que complica as coisas. Beijinhos

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