8 de dezembro de 2012

08 Dezembro - Isfahan

Ontem, quando o Hoseeini me acompanhou na sua scooter à saída de Arak e parámos na última rotunda para nos despedirmos um homem, dos seus sessenta anos, parou junto a nós e ficou a olhar para a moto até eu partir. Veio depois atrás de mim e, quando eu hesitei num cruzamento, fez sinal para o seguir. Guiou-me mais uns quilómetros e parou noutra rotunda para me indicar a saída que devia tomar, mas insistiu para que fosse almoçar à fábrica dele ali perto. Disse-lhe que não almoçava, mas aceitava beber um chá, até por curiosidade em saber como era uma industria privada no Irão.

Bebemos um chá, ficamos um pouco à conversa e depois foi mostrar-me a fábrica. Ali transformam lingotes de alumínio em perfis para portas, janelas, etc. Têm primeiro uma caldeira onde a temperatura dos lingotes é elevada até 400 graus, depois uma enorme prensa onde, a pressões de 2000 toneladas p.s.i os lingotes são transformados em vários tipos de perfis.

Ao lado, numa outra fábrica, o filho deste homem coordena a construção de estruturas para portas e janelas. Vendem essencialmente no Irão mas também exportam para os países que conseguem, depois das restrições internacionais, ou seja, algumas das antigas repúblicas russas, Afeganistão e Iraque.
É interessante saber como, embora este país seja controlado por um regime totalitário, têm industrias privadas a funcionarem bem.

Acabei por almoçar por lá e segui depois rumo a Isfahan. De início apanhei um pouco de chuva e depois frio, com a temperatura a baixar até aos 3 graus. A essas temperaturas não há punhos aquecidos que nos valham e os dedos começam a regelar. O fato da Spidi aguenta bem e mais camisola, menos camisola a coisa resolve-se.

O meu amigo em casa de quem tinha ficado ligou a um primo que vive em Isfahan antes de eu sair e disse-lhe que tratasse de arranjar estadia para mim. Quando liguei ao primo à chegada à cidade ele disse que uma senhora me ligaria de seguida. Passado um minuto tinha a Mahid ao telefone a dizer que tinha muito gosto que ficasse em casa dela. É fantástico como esta gente é tão hospitaleira que se prontificam rapidamente a dar acolhimento a um estrangeiro perdido neste mundo. Pedi a um táxi que me guiasse até casa da Mahid, que vive com o marido e um filho. Ela recebeu-me lindamente e passado meia hora, quando o marido chegou é que lhe anunciou: “Este é o Francisco, que conhece o Sr. Reza e vai cá ficar a dormir”. O marido era simpático e achou a situação normalíssima.

No fundo estas pessoas vivem sem grande coisa que fazer a não ser trabalhar e voltar para casa e quando têm alguém de outro país que lhes fala de coisas que só vêm nos filmes ficam fascinados. Mesmo as pessoas que encontramos na rua recebem-nos o melhor possível e não se cansam de repetir “welcome to Iran”.

Depois do jantar levaram-me a visitar a cidade. Fomos ver uma das fantásticas pontes com seis séculos de existência onde o Rei tinha um terraço particular de onde via as águas do Zayandehrood correrem e visitámos a extraordinária praça Imam onde há mais de quinhentos anos já se jogava Polo. Aqui o rei tinha não só um palácio no centro da praça, para quando queria ver o jogo, como uma mesquita particular, reservada para ele e as muitas mulheres.

Acabámos a noite num extraordinário “coffee shop” cheio de peças antigas de tudo quanto há nas paredes e tecto e pessoas sentadas a fumarem cachimbos de água e a beberem chá. Aqui, numa das zonas as mulheres podiam entrar e fumavam tanto ou mais que os homens. Um ambiente giríssimo.

Hoje fui ver outra das antigas pontes e regressei à praça. Dois rapazes convidaram-me para beber chá na loja de tapetes deles, junto à Mesquita que era como que um clube onde vários clientes se sentavam a tomar chá em amena cavaqueira. Às tantas entrou um que me disse: “eu vi-o ontem na “coffe shop” com uma família Iraniana”.
Por ali fiquei até regressar a casa pelas cinco da tarde.

4 comentários:

  1. Não entendo as criticas relativas à forma de introduzir um comentário. Apenas tive de escrever Teste, escolher a minha conta do gmail, confirmar o Captcha (este sim uma chatice necessária) e clicar em publicar. E estou a faze-lo de um telemóvel.
    Queria comentar aqui dizendo que foi com agradável surpresa que fui encaminhado pela amiga Sara para esta crónica. Estou a gostar muito. Quando leio textos consigo captar a energia do escritor, ou penso que consigo. Desta crónica fico com a impressão que a sua passagem pela Turquia foi muito negativa e que a sua passagem pelo irão está a ser muito positiva, muito interessante! Concordo consigo quando diz que se deveriam livrar desse regime sem violencia. Pelas suas palavras percebe se perfeitamente que são um povo de bem, ao contrario dos turcos...

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  2. não entende porque só agora foi testar e porque não existia nem anónimo que é o mais rápido e nem sequer se tem de ter conta no google. ainda bem que gosta porque já está a ser seguido à muito tempo. Abraço. Manel

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  3. Chico o Irão não é um estado totalitário, é sim uma ditadura religiosa, não tem nada a ver com comunistas que por natureza são ateus. Boa viagem J. Montereal Olha não me levas-te para te explicar as coisas agora... hehehehe Abraço

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